Por Flavio Ferrari
Sou um “boomer terminal” e pai de dois “Y”.
Parece coisa de filme de ficção cientifica, mas é marketing mesmo.
Costumo dizer aos meus filhos que às vezes me sinto como o T-800 enfrentando o T-1000 no filme Exterminador do Futuro 2 (Terminator 2 – Judgment Day) – tenho que me esforçar bastante para competir.
Mas levo uma grande vantagem em relação aos modelos mais novos: meio século de experiência. E, como vocês sabem, os seres humanos, assim como os ciborgues, armazenam informações e são capazes de se reprogramar.
Uma das coisas que aprendi ao longo do tempo foi não aceitar definições, e é esse aprendizado que compartilho aqui, com vocês.
A chamada Geração Y vem sendo estigmatizada.
Nada de novo, na verdade. A história registra que os jovens são sempre alvo de críticas duras das gerações anteriores.
É o resultado do medo de aceitar as próprias mudanças.
Não gosto da maneira pela qual andamos definindo “gerações” por aí.
A ideia em si não é ruim.
Havia uma boa razão para estabelecer uma referencia para a geração do pós-guerra, os baby-boomers. Esses indivíduos nasceram e viveram seus primeiros anos num mundo muito diferente do das gerações anteriores, e isso contribuiu para definir suas personalidades conferindo traços comuns marcantes, como a atitude otimista e realizadora.
Os filhos e netos precoces dos boomers foram reclassificados como Geração X.
Essa classificação é mais frágil do que a anterior. Não houve um marco disruptivo tão relevante como o final da guerra para caracterizar mudanças drásticas de comportamento, embora o mundo tenha passado por profundas transformações durante o século passado.
Creio que o principal fator comum desta nova geração foi a descendência dos boomers, com seus enormes egos de construtores do mundo. Pais egocêntricos costumam gerar filhos depressivos (mas não necessariamente). E talvez por isso, a Geração X tenha recebido o estigma de “geração perdida”, por sua falta de motivação.
A definição da Geração Y é ainda mais frágil. Embora possamos reunir alguns elementos comuns aos nascidos nas últimas duas décadas do século passado (pais depressivos, preocupação com a destruição do planeta, surgimento da internet), também essa geração surge num mundo em evolução que, embora acelerada, não apresenta uma ruptura pontual em relação ao passado.
O principal traço apontado como comum à Geração Y é o desprezo pelas autoridades institucionais e valores tradicionais., que resulta em comportamentos mais ego-centrados e (o que é que eu ganho com isso ?), relacionamentos impermanentes (fluídos, como diz Zygmunt Bauman) e menor compromisso com “responsabilidades” sociais (trabalho, família).
É importante levantar dois grandes “senões” em relação a esse estigma. Em primeiro lugar, nem todos os “Y” tem esse conjunto de atitudes. Em segundo lugar, essas não são características exclusivas dos “Y”.
Esse movimento de rebeldia contra autoridades institucionais (e suas consequências) permeiam toda a sociedade ocidental moderna. Obviamente, como sempre, os “jovens” são os primeiros a refletir as tendências sociais, pois são “programados” nesse cenário. Os tristes “X” e os velhos “Boomers” precisam se reprogramar, e resistem bravamente a isso, criticando os jovens “Y” que escancaram o que as gerações anteriores escondem no fundo da alma.
É por isso que recomendo que vocês não aceitem esse rótulo e o estigma que o acompanha. Vocês são uma nova geração que, como tantas outras, reflete com brilho e cores nítidas o rumo que a sociedade está tomando.
Vai levar algum tempo até que os Boomers e os “X” tenham a coragem de aceitar que também partilham a visão que vocês corajosamente professam.
É assim que costuma acontecer.
E, já que falamos de ficção, encerro essa carta com a melhor saudação de nossa época: “may the force be with you !”.
Flavio Ferrari é Diretor Geral da Ipsos MediaCT no Brasil, engenheiro por formação e curioso por vocação, vem dedicando boa parte de seu tempo à busca de si mesmo.