N
6
Nelson Nefussi é uma persona-
lidade na área de controle ambiental.
São 38 anos de atividades, principal-
mente como homem público e como
consultor de empresas.
Do alto de sua experiência man-
tém uma postura absolutamente inde-
pendente e por vezes se diz criticado
pelo segmento de consultoria, que
surgiu nas últimas duas décadas com
o advento dos EIAS/RIMAS e da Cer-
tificação Ambiental.
Com uma autonomia de vôo sufi-
ciente, Nelson Nefussi vive da questão
ambiental mas afirma que nunca viu o
meio ambiente como negócio. Forma-
do em engenharia química, sanitária e
de segurança, mestre em ciências da
Higiene, Nefussi vê na questão am-
biental o homem como centro das
ações. Se for preciso escolher entre
uma ação em prol do meio ambiente
ou em prol da saúde pública ele faz
clara opção pela segunda. “Não sou
ecologista radical.” Nefussi recebeu
Ambiente Legal
para uma conversa
em sua casa que também é o seu es-
critório, repleto de discos de vinil e
milhares de fitas de vídeo, suas
paixões confessas. A seguir trechos
dessa instigante conversa.
Ambiente Legal
-
Como você
analisa o controle ambiental nos dias
de hoje?
Nelson Nefussi
-
Desde os primór-
dios do controle ambiental na Região
Metropolitana no ano de 1963 muita
coisa mudou. No final da década de
setenta quando a CETESB desen-
volveu a “Operação Fumaça Branca”
de controle da poluição industrial eu
tinha um exército de 500 engenheiros
de controle da poluição na rua. Isso
hoje já não é possível.
AL
-
Explique o que foi essa
mudança.
Nefussi
-
Hoje existe a Lei dos
Crimes Ambientais, o Ministério
Público, as Normas de Certificação
Ambiental, ou seja a pureza do movi-
mento ambiental transformou-se em
um grande mercado de negócios.
AL
-
Isso é ruim? Você parece não
Não sou ecologista radical.”
concordar com muita coisa, não é?
Explique.
Nefussi
-
Não se trata de ser con-
tra ou a favor. É uma constatação.
Devido a minha formação eu encaro
os assuntos de poluição como de saúde
pública. Eu vejo o homem no centro
do tema ambiental. Mal dizendo eu
quero deixar claro que, por exemplo,
agora, diante dessa crise energética eu
como agente público tenho que fazer
de todo o possível para viabilizar a
implantação de uma Usina Termoe-
léctrica, em prol do ser humano, mes-
mo que isso custe algum impacto am-
biental . Eu não sou ecologista radical.
uma equipe SWAT de controle. É
preciso aliviar a CETESB.
AL
-
E as indústrias? Elas já es-
tão controladas?
Nefussi
-
Além da descentraliza-
ção no controle ambiental eu vejo que
em breve um movimento empresarial
deve ocorrer. É o do auto controle
ambiental. Ou seja, com a crise, as
empresas vão procurar fazer o controle
ambiental compatível com o tamanho
do seu negócio.
AL
-
Um tema que está ganhando
proporções é o dos resíduos indus-
triais, problema ao que parece ainda
não resolvido?
Nefussi
-
Sim, é um problema que
deve ser enfrentado. Tecnologias para
dispor, minimizar e tratar existem. Mas
eu também vejo outros temas adja-
centes ganharem dimensão como o dos
tais “passivos ambientais” e os “riscos
ambientais”. Tudo bem, mas isso tudo
precisa ser tudo muito bem discutido.
A noção de risco, de dano ambiental,
de crime ambiental devem ser profun-
damente entendidas para que as ações
sejam coerentes e adequadas. Cada
caso é um caso. A Rhodia de Cubatão,
por exemplo, pegou o resíduo e foi
depositar o lixo tóxico fora de seus
limites, em outro município. Isso é
crime.
AL
-
Você citou a questão da crise
energética e os embates ambientais,
você quer dizer então que...
Nefussi
-
O que eu quero dizer é
que uma supervalorização dos valores
ecológicos levará a entraves insu-
peráveis à expansão do setor energéti-
co, cujas conseqüências serão catas-
tróficas para a população brasileira. Eu
tenho uma opinião muito clara de que
o progresso tecnológico, na realidade,
ele não destroi a natureza, apenas a
transforma, cabendo à civilização
orientar essas transformações no sen-
tido de evitar situações insustentáveis
para o próprio homem. Não se deve
confundir a noção de “dano do siste-
ma” com a de “modificação do siste-
ma”. Para o primeiro existem tecno-
logias para minimizar esse impacto.
junho / julho de 2001
Eu encaro os assuntos
de poluição como de
saúde pública.
O homem como centro
da questão ambiental.”
AL
-
Mas frente a esse cenário de
negócios ambientais como você men-
cionou, o que resta ao poder público
fazer?
Nefussi
-
Resta muito. Eu acho
que cada um deve cumprir o seu pa-
pel. No caso de São Paulo, uma
instituição como a CETESB deve
agir nos casos graves. É preciso que
ocorra a descentralização. Não é
racional que a CETESB fique fis-
calizando todos os postos de gasoli-
na. Isso é papel das prefeituras e seus
órgãos de meio ambiente. A CETESB
deveria ser um órgão enxuto, com