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agosto / setembro de 2001
F
Fernando Alves de Almeida é um
engenheiro civil que abandonou um
futuro profissional promissor no mer-
cado imobiliário. Terminou a faculdade
e foi para os Estados Unidos, onde es-
pecializou-se em engenharia ambiental.
Passados 26 anos e com uma carreira de
sucesso na área ambiental, pode-se con-
cluir que a decisão foi acertada. Fernan-
do Almeida já exerceu diversos cargos
públicos como o de Presidente da
Fundação Estadual de Engenharia do
Meio Ambiente - Feema, do Rio de Ja-
neiro, onde foi, ainda, Diretor de Con-
trole. Foi, também, Diretor de meio am-
biente da “Rio 2004”, campanha que
visava reestruturar a cidade para abri-
gar os jogos olímpicos. Atualmente é o
presidente executivo do CEBDS - Con-
selho Empresarial Brasileiro para o De-
senvolvimento Sustentável. Nesse
fórum, criado em 1997, assumiu o pa-
pel de interlocutor da área empresarial,
visando propor mudança radical no
modelo de desenvolvimento nacional por
uma economia sustentável. Foi respon-
sável pela implantação no Brasil de con-
ceitos como o de ecoeficiência e respon-
sabilidade social corporativa. É profes-
sor de Avaliação de Impacto Ambiental
na Escola de Engenharia da Univer-
sidade Federal do Rio de Janeiro.
Ambiente Legal
No contexto
brasileiro de desigualdades sociais e
disparidades regionais é possível ou per-
tinente falar em ecoeficiência?
Fernando Almeida
De fato esses
fatores estão entre os principais obstácu-
los para que a sociedade alcance um
novo patamar de desenvolvimento. O
CEBDS, que é ligado ao World Busi-
ness Conncil for Sustainable Develop-
ment (WBCSD), participa de um grupo
de alto nível para estudar projetos de
erradicação da pobreza. Ética e prag-
maticamente incorpora o conceito de
que é preciso dar a essa legião de mise-
ráveis condições dignas de vida. Caso
contrário, será muito difícil levar adiante
esse processo a caminho da sustentabi-
lidade.
AL
Explique como as empresas
associadas ao CEBDS estão ajudando
a mudar esse panorama brasileiro?
FA
As empresas associadas ao
Conselho, pertencentes aos maiores gru-
pos empresariais do país, têm desen-
volvido projetos muito interessantes
voltados para a sustentabilidade, sejam
relativos à área ambiental, sejam à área
Não podemos perder o trem da história
social. As siderúrgicas, por exemplo,
estão aproveitando o calor de seus for-
nos e transformando-o em energia. Isso
diminui o impacto ambiental da pro-
dução e torna o produto mais competiti-
vo. A Bayer e a Vale do Rio Doce de-
senvolvem projetos sociais muito inte-
ressantes. Além disso temos o Projeto
Produção Mais Limpa (P+L), que por
meio de convênios entre representantes
do setor produtivo e órgãos governamen-
tais, com a participação da ONU, foi
responsável pela criação da Rede
Brasileira de Produção Mais Limpa, que
já conta com núcleos em diversos esta-
dos brasileiros. Estamos, também, levan-
do o conceito de ecoeficiência para as
pequenas e médias empresas, um setor
fundamental para a economia do nosso
país.
Responsabilidade Social Corporativa é
um instrumento fundamental para o su-
cesso de qualquer empresa. Hoje a
relação única empresa/acionista está
superada. A empresa precisa ampliar
suas preocupações para funcionários,
vizinhos, consumidores, fornecedores,
governo, igreja e todos os demais seg-
mentos que compõem a sociedade. O
setor produtivo é um dos pólos do cha-
mado mundo tripolar. Os outros dois são
o governo e a sociedade civil organiza-
da. Isso quer dizer que a responsabi-
lidade da empresa aumentou muito.
AL
Historicamente, quando será
possível perceber de forma clara as
mudanças efetivas em nosso País?
FA
-
Espero que o mais rápido
possível. Temos muitos obstáculos. As
desigualdades sociais e diferenças re-
gionais são enormes. Mas temos tam-
bém muitos pontos positivos. A disse-
minação do conceito de sustentabilidade
vai ser o principal vetor para que chegue-
mos lá. Isso depende de um consumi-
dor mais exigente, um empresário que
saiba das vantagens econômicas, so-
ciais e ambientais oferecidas após a im-
plantação desses conceitos e por fim é
preciso trabalhar para que as autoridades
governamentais se engajem mais nesse
processo.
AL
O Brasil possui áreas de
enorme desenvolvimento tecnológico,
excelência profissional, enormes exten-
sões territoriais e grande número de
populações em situação de miséria. Por
outro lado, detém 22% de todas as es-
pécies animais e vegetais do Planeta.
Faça uma reflexão sobre esse contexto.
Como é possível alcançar o almejado
desenvolvimento sustentado frente a esse
quadro?
FA -
O nosso país precisa resolver o
quanto antes seus problemas fundamen-
tais de combate à pobreza. O Brasil não
pode perder o trem da historia para fi-
gurar como uma verdadeira potência
mundial da era da sustentabilidade.
Possuímos a maior biodiversidade do
planeta e a maior reserva de água doce;
nossa matriz energética está entre as
mais limpas do mundo; temos um povo
criativo. Neste novo milênio, a água re-
presentará uma moeda mais forte que o
petróleo. Em termos potenciais, temos
tudo para conquistarmos lugar de
destaque no cenário mundial. Mas se não
conseguirmos reverter o quadro social
desfavorável, corremos o risco de per-
der essa oportunidade histórica.
AL
Você deu exemplos de empre-
sas que estão fazendo trabalhos para
contribuir para a melhoria ambiental.
Cite algumas ações na área social.
FA
A Bayer, por exemplo, emBel-
ford Roxo, um dos municípios que inte-
gram a Baixada Fluminense, região po-
bre e problemática do Rio, desenvolve
uma série de atividades sociais. Mantém
equipes de futebol em atividade, ofere-
cendo instalações e contratando profis-
sionais, mantém escolas de ensino
profissionalizante e tem desenvolvido
vários projetos de educação ambiental
e de saúde pública junto à comunidade.
AL -
Fale sobre a Responsabilidade
Social Corporativa. É um conceito que
veio para ficar e fazer história no novo
século?
FA
O conceito foi consolidado
numa reunião na Holanda no final da
década de 90. Apesar de recente, a
Fernando Almeida - Presidente do CEBDS