junho a agosto de 2002
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Melhoria contínua,
atenção permanente.
N
ão restam dúvidas que as
duas últimas décadas do
Séc. XX foram pródigas
para a questão ambiental.
Nesse contexto, as Normas
de Qualidade Ambiental,
que apareceram nos países do chama-
do Primeiro Mundo e pareciam
ameaçar a competitividade de países
em desenvolvimento como o Brasil,
atualmente representam diferencial
para as empresas que têm investido na
defesa ambiental. A série ISO 14000
é um novo e importante meio para as
empresas demonstrarem comprometi-
mento com as questões ambientais.
Frente a ummercado que, cada vez
mais, exige “qualidade ambiental” das
atividades, produtos e serviços de uma
organização, a implantação de um
Sistema de Gestão Ambiental tornou-
se variável que não pode ser igno-
rada na tomada de decisões das em-
presas.
Cássio Felippo Amaral, do
Es-
critório Pinheiro Pedro Advogados,
que administra os processos de Certi-
ficação do Sistema de Gestão Am-
biental - NBR ISO 14001, constata que
este é um processo que veio para ficar
e é imprescindível para a competitivi-
dade das empresas. Ele lembra que a
implantação de um programa de qua-
lidade ambiental deve começar com a
conscientização de toda a hierarquia
da empresa. “Há que se ter o conven-
cimento de que se trata de uma boa
medida nos aspectos social, econômi-
co e ambiental”.
Um dos aspectos da norma que
considera relevante é o dos “Requi-
sitos Legais”. Saber quais dispositivos
legais se aplicam à empresa, ao ramo
de atividade e às etapas do processo
de produção, é uma tarefa bastante
complexa e requer atenção especial,
pois no Brasil existe uma dinâmica
muito grande na produção de normas
legais, explica o advogado.
O engenheiro Eduardo Licco, con-
sultor e especialista na área de certifi-
cação ambiental, concorda e destaca
que é preciso haver um acompanha-
mento permanente após a obtenção da
ISO 14001
certificação ambiental. Isso se justifi-
ca porque o sistema tem como pres-
suposto a melhoria contínua dos pro-
cessos de produção e, assim, a vigilân-
cia deve ser constante.
Licco revela que uma empresa que
implanta o SGA possui uma radiogra-
fia da sua realidade, conhece seus
problemas e, o mais importante, sabe
o caminho para resolvê-los. E isso é
um diferencial no mundo competitivo
de hoje. Existe um porém: quem entra
neste circuito, na ver-
dade, está entrando
em uma teia que dis-
semina o sistema
para todo o Planeta.
Todos os dias são
necessários novos
ajustes e avanços. In-
terromper o processo
é tão prejudicial
quanto não entrar no
circuito. Representa
a derrota na competição comercial.
Cássio Felippo destaca que o pro-
cesso de Certificação Ambiental no
Brasil é recente, não tem nem uma
década, e deve avançar muito ainda.
Porém, já é possível observar que exis-
tem aspectos que precisam ser aper-
feiçoados e corrigidos, para não haver
o comprometimento da imagem da
certificação.
Ele refere-se ao fato de instituições
de certificação e/ou de auditoria am-
biental prestarem também serviços de
assessoria às empresas interessadas na
implantação do SGA. “Isso torna a
certificação muito suspeita. É o mes-
mo que uma empresa de auditoria
contábil fazer a contabilidade para o
cliente que irá auditar”. Para ele, isso
desacredita a certificação, além de ser
um procedimento que vai contra os
princípios éticos.
Comprometimento
Como escreveu Maurício Reis, no
livro
ISO 14000 – Gerenciamento
Ambiental: um novo desafio para a
Competitividade”
,
o gerenciamento
ambiental é um conjunto de rotinas e
procedimentos que permite a uma or-
ganização administrar adequadamente
as relações entre suas atividades e o
meio ambiente. É um compromisso
com a qualidade, onde não basta pare-
cer ou declarar-se comprometido. É
necessário demonstrar que se está
agindo de forma responsável e que se
está procurando aprimoramentos con-
sistentes e diretamente relacionados
com as atividades da organização.
Sempre é oportuno registrar que ao
empresário, hoje, estão reservados pa-
péis muito mais complexos que aque-
les exercidos no passado não muito
distante, quando gerar empregos e
atender às leis trabalhistas bastavam
para colocá-lo no rol dos bons empre-
gadores. Com os tempos modernos da
globalização, a competitividade e so-
brevivência no mercado impõem al-
guns fatores imprescindíveis: sanea-
mento ambiental, responsabilidade so-
cial, saúde e segu-
rança são alguns que
revelam os com-
promissos com a éti-
ca e a cidadania cor-
porativa.
Eduardo Licco,
que durante muitos
anos trabalhou na
agência ambiental do
Estado de São Paulo,
a CETESB, destaca
que os papéis de regulamentação e
fiscalização ainda não podem ser aban-
donados. Embora sejam muitos os
avanços na cultura empresarial, a ges-
tão e a certificação ambiental ainda não
são suficientes para a proteção am-
biental no cenário industrial brasileiro.
Sobre a Norma, Eduardo Licco
também apresenta um ponto que con-
sidera crítico e que precisa ser conve-
nientemente avaliado por todos aque-
les que atuam no processo de certifi-
cação ambiental: a comunicação. Para
ele, esse aspecto não vem sendo ade-
quadamente considerado, tanto pelas
empresas certificadas, quanto pelas
instituições de certificação e auditoria.
Nem sempre a empresa está sufi-
cientemente preparada para receber as
reclamações e informar adequadamente
que está agindo para melhorar aquela
situação. E, ele alerta, “quando a co-
municação coma comunidade, impren-
sa, autoridades, agência ambiental, or-
ganizações ambientalistas, não é bem
feita, pode-se estar colocando em risco
todo o trabalho, mesmo que ele seja
sério e correto. Ou seja, não basta fa-
zer, é preciso mostrar o que está sendo
feito”.
Comprometimento