ambiente legal
Pá g i n a s Ve r d e s
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de visualização, que contempla a paisagem a partir de pontos
diversos de observação. O planejador faz então chegar todas
essas cartas às mãos de uma Comissão de Criatividade, à qual
cabe pensar no conjunto do projeto, o que precisa ser elimi-
nado ou acrescentado para manter o equilíbrio. Finalmente,
Eckbo exigia a formação de uma Comissão de Recursos, pois
afirmava que muitos países encomendavam-lhe projetos sem
ter verbas para implantá-los.
AL
O Brasil se enquadra perfeitamente nesse rol.
AS
-
Esse problema é realmente muito sério em nosso País.
Eu já recebi muitas críticas por também pensar dessa forma.
Meus opositores argumentam que o dinheiro acabará vindo
dos muitos organismos internacionais, como a Organização
dos Estados Americanos (OEA) e a Unesco. Já disseram até
que sou antidemocrático, mas no Brasil quase ninguém da
área de planejamento pensa nessa seqüência fantasticamen-
te metódica do Garrett Eckbo. Portanto, não sou eu como
geógrafo que estou estipulando quais as etapas de trabalho
que levam a um bom planejamento. Um grande planejador,
por sua experiência prática, é quem nos mostra que todo esse
caminho precisa ser percorrido.
AL
O geógrafo é o planejador ideal?
AS
-
O geógrafo tem de fazer a crítica aos projetos malfeitos
ou que não levam em conta as realidades especificas do espaço
total da área de intervenção. Se bem preparado pode, sim,
ser um planejador. Ele precisa viajar muito para ganhar essa
bagagem de conhecimento. Por esse motivo, o graduando de
Geografia não pode só ficar dentro do campus recebendo au-
las e pesquisando na biblioteca. Eu pessoalmente acho que a
metade do curso deveria prever excursões de registro de cam-
po – mesmo que sofridas – para as diferentes regiões do país.
Aí estaríamos engendrando a personalidade de um genuíno
geógrafo, somado, é claro, o conhecimento do método de
Eckbo.
AL
Que balanço o Senhor faz de seu imenso legado,
especialmente em suas áreas de excelência, a geomorfologia
e a fitogeografia?
AS
-
Depois de 64 anos atuando como geógrafo e de ter ela-
borado inúmeros estudos básicos para planejamento de proje-
tos de pequeno, médio e grande porte, tenho procurado rever
todas as minhas participações nessa área. A engenharia pode
fazer tudo, como as comportas do Panamá, mas um projeto
desenvolvimentista não pode ser feito só pela sua viabilidade
tecnológica. Deve, antes, considerar, em pé de igualdade, a
viabilidade econômica, social, ambiental, cultural e ética com
a Natureza e com toda a sociedade.
Já sofri demais
de excesso de
indignação
pela pretensão
de muitos
megaprojetos.