Revista Ambiente Legal
que nunca vou perdoar aquelas
pessoas”, desabafa Isabel.
Para me consolar, algumas
pessoas diziam que a Aracruz
tinha seguro. Eu dizia que não
estava sofrendo pelos prejuízos
financeiros, mas pelas perdas afe-
tivas”, conta Isabel, com olhos
cheios de lágrimas, quando re-
lembra o episódio. “É como se
tivessem arrancado um pedaço
de dentro de mim. Eu acompa-
nhei o processo de construção
do laboratório e desempacotei
cada peça para montá-lo. Isso
aqui é a minha vida”.
Essa gaúcha de 53 anos tor-
nou-se uma das mais recentes
vítimas da intolerância ambien-
tal no País. Outra vítima desse
tipo de violência, que teve um
destino fatal no ano passado, foi
a missionária americana Doro-
thy Stang, assassinada aos 73
anos, no Pará, por conta de sua
luta contra a grilagem de terra e
a extração ilegal de madeira na
Amazônia.
Fundamentalismo “verde”
Os dois casos, que conquis-
taram ampla repercussão na-
cional e internacional, suscitam
questões que exigem respostas e
pronta ação. A intolerância esta-
ria contaminando os movimen-
tos ambientalistas brasileiros?
Estaríamos dando livre vazão ao
fundamentalismo “verde”?
A intolerância nos meios
ambientalistas não pode existir
de jeito nenhum. Nós temos é
que canalizar nossas lutas para
proteger as florestas”, pondera o
ecólogo Paulo Nogueira-Neto.
Pioneiro, ele começou a se
interessar pela defesa do meio
ambiente em 1948, quando tra-
balhava com zoologia. “Na épo-
ca, dava para colocar em uma
van todas as pessoas que se inte-
ressavam por ecologia no País”,
gosta de contar.
Segundo o ecólogo, os am-
bientalistas podem e devem de-
fender suas idéias, “mas não a
ponto de causar tamanho preju-
ízo”. Em sua avaliação, a atitude
de vandalismo no laboratório de
pesquisa da Aracruz foi um ato
isolado, mas abriu um “péssimo
precedente” em matéria de Di-
reitos Humanos.
Com um ato como esse,
as pessoas não se sentem mais
seguras em relação à obediên-
cia da lei”. Nogueira-Neto sus-
tenta que os
mo v i me n t o s
ambientalistas,
como ativida-
de humana que
são, devem res-
peitar os precei-
tos legais. “Por
exemplo, estamos
trabalhando por
mudanças nas leis
de proteção da
Mata Atlântica. Se não concor-
damos com a situação atual, que
a modifiquemos pelos caminhos
legais”, assevera o ecólogo.
Embora não tenha feito um
estudo específico sobre as rela-
ções do MST e da Aracruz, o
sociólogo Sérgio Carneiro con-
siderou o episódio “indevido e
desproporcional”. Para ele, com
a invasão, o MST e a Via Cam-
pesina perderam qualquer em-
patia que a opinião pública pu-
desse ter em relação à sua causa.
O objetivo dos movimentos
sociais é conseguir resolver seus
As marcas do vandalismo no
laboratório e no viveiro de mudas do
laboratório da Aracruz.
Nogueira-Neto:
péssimo precedente.
Aracruz Divulgação
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