Revista Ambiente Legal
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arece que agora será mais difícil entender
porque em 92 os problemas vistos como ambientais
são conceituados hoje como ações não implemen-
tadas de desenvolvimento sustentável. Na prática,
vem acontecendo muitas promessas, acordos, reu-
niões, decisões, deslocamentos para inúmeros even-
tos e debates em alguns segmentos, mas, de fato,
pouca coisa de concreto vem ocupando espaços
positivos na mídia.
Tenho acompanhado o processo e o que fica
claro é a vontade dos organizadores de produzirem
mais resultados do que as últimas conferências. O
que se quer hoje é resgatar a mobilização da socie-
dade e da organização da Rio 92, que conseguiu
uma forte reunião política e possibilitou a adoção
de importantes acordos multilaterais na área am-
biental e do desenvolvimento sustentável.
No entanto, alguns depoimentos de dirigentes
tentam chamar a atenção do mundo para o que foi
planejado, visando cumprir uma grande agenda
ambiental no Brasil, com a organização da Rio+20.
Para mim, é visível que o fato que está em jogo é a
adoção de modelos de desenvolvimento e isto vem
sendo discutidos nos últimos 20 anos e o resultados
já conhecemos. O que nunca faltou foram ideias,
proponentes, atores e governanças capazes de aca-
bar com o engarrafamento de tantas propostas.
A ministra do Meio Ambiente Izabela Teixei-
ra afirmou que “a Rio+20 não apresentará novos
compromissos, mas será importante por permitir
a criação de medidas que deem condições de se
implementar o conceito de desenvolvimento sus-
tentável”.
Já o Subsecretário-Geral para Assuntos Econô-
micos e Sociais das Nações Unidas e Secretário-Ge-
ral da Rio+20, Sha Zukang, declarou que “agora é
a hora para uma discussão profunda sobre como se
pode melhorar o apoio ao crescimento verde e ao
desenvolvimento sustentável”.
Outra declaração que me chamou atenção foi
a do Ministro das Relações Exteriores, Antônio de
Aguiar Patriota. Para ele, “a Conferência pode ser
vista como um chamado à responsabilidade cole-
tiva diante dos desafios impostos à comunidade
internacional nas esferas ambiental, econômica e
social”. O ministro montou uma mega-estrutura
para coordenar a organização da Rio+20 e espera
progressos e resultados da reunião.
Estas declarações apontam resultados, pre-
ocupações e sinalizam para o mesmo gargalo das
propostas surgidas nos últimos 20 anos. O sonho
continua e o que espero é acordar numa outra reali-
dade e não em mais um pesadelo como vem sendo
avaliado por alguns segmentos do terceiro setor e
pela própria mídia nacional e internacional, que
vem cobrindo a real expectativa dos países que já
confirmaram presença.
São avaliações que circulam pela falta de visibili-
dade, de credibilidade, da mobilização da sociedade
e da efetiva participação do corpo técnico ambiental
dos governos que nem sempre conseguem espaços
para colocarem em prática os seus conhecimentos,
visando garantir a qualidade de vida da sociedade e
um meio ambiente mais justo e equilibrado.
As propostas que serão novamente debatidas e
sugeridas durante os preparativos da Rio+20 tem
seus objetivos e interesses e a principal finalidade é
criar estrutura institucional e condições para imple-
mentar o desenvolvimento sustentável baseado no
tripé da Conferência, que são as questões sociais,
econômicas e ambientais. O sonho é conseguir este
resultado de equilíbrio sem tropeçar nas decisões
políticas de cada nação. A realidade é colocar em
prática o que for acordado entre as lideranças. Se
mais uma vez ficarmos apenas no discurso das pro-
messas, o pesadelo vai continuar por mais 20 anos.
Só nos resta ter esperança e acreditar no es-
forço e mobilização da sociedade para pressionar
cada vez mais os dirigentes e governantes e, assim,
quem sabe, garantir decisões e resultados capazes
de mudar a imagem de incertezas que a Conferên-
cia tem demonstrado.
Por Antônio Carlos Lago
Rio+20: sonho,
realidade ou pesadelo