Revista Ambiente Legal
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A
maioria das empresas de pequeno porte adota
algum tipo de prática sustentável: 70,2% realizam co-
leta seletiva, 72,4% controlam o consumo de papel,
80,6%
a água, 81,7% a energia. Essa foi a consta-
tação da pesquisa divulgada em maio passado pelo
SEBRAE (Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Em-
presas), que entrevistou 3.912 empresários de micro e
pequenos negócios em todo o Brasil.
O engajamento de toda a sociedade, principal-
mente das empresas, a despeito do seu tamanho, é
fundamental para implementar os valores da susten-
tabilidade. Com a globalização, os agentes políticos
nacionais perdem cada vez mais relevância, cedendo
espaço para a iniciativa privada, que, por meio de sua
atuação, inclusive transnacional, acaba substituindo o
Estado em muitas de suas antigas atribuições.
Não basta apenas cumprir as normas e diretrizes
do Global Compact, da OCDE (Organização para
a cooperação e desenvolvimento econômico), da Lei
Sarbanes-Oxley, ou ostentar certificações como o
Global Reporting Initiative (GRI), ISO 14000, Índi-
ce Dow Jones de Sustentabilidade (IDJS) ou ISE (Ín-
dice de Sustentabilidade Empresarial - BOVESPA).
Todos estes modelos devem ser tomados como um
convite à reflexão, uma métrica para possibilitar que
os resultados sejam comparados.
Eles facilitam o relacionamento das empresas com
os seus públicos e, principalmente, com os negociado-
res das Bolsas de Valores. Mas os indicadores refletem
apenas parte do cotidiano empresarial nos relatórios,
não espelham perfeitamente o dia-a-dia da gestão.
Além disso, os custos, literalmente milionários para
adaptação, impedem que muitas corporações se sub-
metam. Dessa forma, o foco não pode ser os prêmios
e certificados, mas sim, os resultados efetivos conse-
guidos com a administração responsável e ética.
A propriedade tem de ser lucrativa e cumprir a
sua função social, conforme previsto na Constituição
brasileira (Art. 5º, XXIII). As normas e o contro-
le estatal estão cada vez mais exigentes e rigorosos,
principalmente no que tange a aspectos ambientais e
trabalhistas. Assim, cumprir a função social pode ser
a opção mais rentável, uma vez que significa, além de
economizar em multas e condenações, deixar de per-
der dinheiro, implementando processos mais eficien-
tes e econômicos que evitem desperdícios, reutilizem
e deem destinação adequada aos resíduos.
Além disso, uma empresa socioambientalmente
comprometida experimenta ganhos de reputação
que podem ser capitalizados em outras áreas. De
acordo com o escritor Mario Rosa, autor de “A Era
do Escândalo”, entre outros títulos, uma empre-
sa com boa imagem pode comprar melhor, cobrar
mais, contratar os melhores funcionários, custar me-
nos e ser mais competitiva.
Para disseminar oportunidades nesse sentido,
é indispensável a inovação, e empresas de qualquer
tamanho podem surgir com produtos, ideias e pro-
cessos novos. Nas estruturas menores e menos bu-
rocratizadas, o ambiente é ainda mais propício para
converter essas inovações em estratégia de mercado
ou de competividade. Assim, para as micro e peque-
nas empresas essa pode ser uma excelente oportuni-
dade de negócio.
A DryWash é um exemplo. Para economizar
os 300 litros de água que se usam para lavar cada
carro em um lava-rápido convencional, o dono fez
experiências químicas usando a batedeira da sogra
e com isso desenvolveu uma formula pioneira em
todo o mundo, hoje patenteada. Além dos royalties
dos produtos, a DryWash fatura com a prestação de
serviços de lavagem a seco e com uma ampla rede
de franquias.
Com a mudança de valores da sociedade, os con-
sumidores passaram a valorizar os progressos sociais e
ambientais do setor privado, juntamente com preço e
qualidade. Assim, o comprometimento socioambien-
tal pode agregar valor e favorecer pequenos empreen-
dimentos, na medida em que consumidores conscien-
tes aceitam pagar um preço maior por um produto
mais ecológico e privilegiam empresas locais.
O desafio de implementar os valores de desenvol-
vimento sustentável é comum, tanto para os grandes
como para os pequenos negócios. Lucrarão mais os
que conseguirem se antecipar, aproveitando a janela
de oportunidade da Economia Verde.
Por Danielle Denny
Sustentabilidade
empresarial independe
do porte da organização
Foto: Fernanda Médici