Revista Ambiente Legal
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Resultado da colonização predatória de Ingla-
terra e Itália, a Somália conseguiu sua independên-
cia somente em 1960. Desde então, o país viveu
sob regimes ditatoriais, até que em 1991 grupos lo-
cais derrubaram o último ditador, Siad Barre, e de-
sencadearam uma guerra civil envolvendo milícias,
células terroristas e clãs, que atualmente controlam
regiões do país.
O enfraquecimento contínuo do Estado somali
fez com que as milícias assumissem o atendimento
básico à população, papel que em países estrutura-
dos é normalmente reservado ao governo.
Com agricultura insuficiente para atender a
demanda da população, os somalis dependem de
ajuda humanitária para se
alimentar, e parte dessa
ajuda vem da ONU (Or-
ganização das Nações Uni-
das) e de grupos terroristas
como o Al-Shabab, ligado
à Al-Qaeda.
Só no ano passado,
quando houve a maior
seca dos últimos 60 anos,
de acordo com a ONU, 16
milhões de pessoas passa-
ram fome na Somália.
O controle do país no atual estágio de desagre-
gação é impossível, e a falta de um governo estável
revela, para piorar ainda mais o cenário, problemas
de soberania nacional.
Países desenvolvidos, diante desse quadro de to-
tal falta de fiscalização no território somali, se apro-
veitaram para praticar pesca ilegal, não declarada e
não regulada, e descartar lixo tóxico, sem tratamen-
to, em suas praias.
A União Europeia lidera esse grupo de apro-
veitadores. Apenas Espanha e França, por exem-
plo, retiram de forma predatória cerca de 500 mil
toneladas de atum por ano da Costa da Somália,
dizimando cardumes e sufocando a já trôpega eco-
nomia pesqueira local.
Sem governo, sem proteína, sem agricultura e
com 10% do comércio do mundo passando todos
os anos por seu mar territorial, em forma de 20 mil
navios de carga que cruzam o Golfo de Áden, pró-
ximo ao Oriente Médio,
fica fácil entender porque
a pirataria virou um negó-
cio auspicioso na região.
Não bastasse a ação de
barcos pesqueiros ilegais,
em 1997, a ONG ambien-
talista Greenpeace fez a
primeira denúncia acusan-
do a Itália e Suíça de jogar
lixo tóxico no mar somali.
A comunidade internacio-
nal ignorou o caso, mas, em
2004
as fortes ondas causadas pelo tsunami que atin-
giu o Oceano Índico e matou, em números oficiais,
174.542
pessoas, evidenciaram nas praias da Somália
tonéis de resíduos radioativos de urânio, substâncias
químicas e lixo hospitalar de origem europeia.
Só no ano passado,
quando houve a maior
seca dos últimos 60 anos,
de acordo com a ONU,
16
milhões de pessoas
passaram fome na Somália
Fotos: Flicker
Foto: infinite-ammo.net