Revista Ambiente Legal
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atuação hoje. Como estão as
atividades nestas áreas?
Adriano Diogo:
Hoje, é
minha atividade central, por-
que eu tenho uma visão que o
modelo partidário se esgotou.
Os partidos só têm uma agen-
da, que é a agenda eleitoral,
e agenda eleitoral sem dou-
trina. Então, o vale-tudo está
generalizado. É só política
de aliança. Como não veio a
reforma política, a sociedade
percebe esse esgotamento -e
sente a saturação. Eu acredito
que a sociedade pleiteia uma
nova forma de representação
política. Teve a ditadura, a
transição e o modelo da tran-
sição está praticamente esgo-
tado, quase exaurido.
Ambiente Legal
O
que o senhor acha do sistema
atual de financiamento de
campanha?
Adriano Diogo
-
O finan-
ciamento de campanha é um
dos piores exemplos. É um
modelo muito ruim. Acho isso
a gênese do mal. Antigamente,
o pai falava: “Você é meu me-
lhor filho, o mais estudioso, e
estudou Direito em Portugal,
vai ser o político da família!”.
Agora o pai fala: “Olha, filho,
você que não dá para nada,
que rouba o carro e que faz
tudo de errado, você tem que
ir para a política”.
Ambiente Legal
Como os ativistas dos direitos
humanos vêem esses modelos?
Adriano Diogo
-
A ques-
tão dos direitos humanos vê a
política de outro jeito. Ela não
entra no pisa-pisa do pântano
partidário, onde as divisões e
os limites são muito confusos.
A questão dos direitos huma-
nos estabelece campos mais
fundamentais, da origem do
direito, do ordenamento polí-
tico da sociedade, que permite
que pessoas, embora de parti-
dos diferentes, tenham orien-
tações éticas comuns e possam
conviver em conjunto fora des-
sa confusão partidária.
Ambiente Legal:
Então
não é mais uma questão parti-
dária?
Adriano Diogo
-
Exa-
to. Acho que os programas
partidários não têm os limi-
tes muito claros. Eles estão
muito parecidos, e não são
parecidos porque são bons,
mas porque são cópia de um
carbono original muito ruim,
e já foram tantas vezes copia-
dos que as cópias são muito
confusas, de má leitura.
Ambiente Legal
O
senhor acha que nesse esgota-
mento da política partidária,
que não dá mais respostas às
demandas de direitos humanos
e meio ambiente, também há
um esgotamento da sociedade
civil organizada e das ONGs,
da militância e do ativismo?
Adriano Diogo
-
A jóia da
coroa, que é o Poder Judiciá-
rio, de repente foi desnuda-
da, e do pior jeito. As ONGs
eram o nicho da alternativa
política e da pureza. Eu acho
que é uma confusão, mas essa
confusão pode gerar um novo
estado bom. É uma confusão
que pode levar a uma crise.
Nem digo que voltam os mo-
delos autoritários. Se bem que
essa crise econômica está mui-
to forte na Europa. Ela baseia
os modelos autoritários. No
Brasil, eu acho que está che-
gando de uma forma diferen-
te, mas tenho as minhas preo-
cupações.
Ambiente Legal
Este
é um ponto importante. Os
partidos não atendem a essa
nova demanda e à necessidade
da mudança de discurso. Essa
nova visão, ligada aos direitos
humanos, e o perigo da reto-
mada do radicalismo, como o
senhor viu na Europa, estão
refletindo muito no Brasil. São
inquéritos que surgem do
nada, escuta telefônica vulga-
rizada, bisbilhotice oficial e o
que é pior, a volta da tortura e
da ação violenta dos policiais,
como se essas excrescências