maio de 2003
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O
O que isso tem a ver com a gente?
Tudo. É preciso que todos tenhamos
consciência de que as mudanças
climáticas afetam o planeta como um
todo. É certo que, para o censo comum,
é difícil entender o que seja efeito es-
tufa, aquecimento da Terra e suas im-
plicações. Parece ficção científica, mas
infelizmente não é.
Os estudos sobre os efeitos do
aquecimento global fazem projeções
para um futuro distante, o que talvez
justifique a dificuldade que as pessoas
tem em conscientizar-se sobre a real
dimensão do problema. Mas a verdade
é que as conseqüências já podem ser
sentidas. Pesquisas mostram que a
maior parte do aumento das tempe-
raturas globais ocorreu nos últimos 50
anos e são de responsabilidade huma-
na, sendo a queima de combustíveis
fósseis, que libera dióxido de carbono
(
CO2) na atmosfera, uma das princi-
pais culpadas. Também já se sabe que
houve um aumento global de 0,5 graus
celsius na temperatura média do Pla-
neta. A última década do Séc. XX re-
gistrou as maiores temperaturas do
século e o ano de 1998 foi o mais
quente dos últimos cem anos.
Os estudos fazem previsões som-
brias para a vida no Planeta. O cená-
rio projetado pelo Painel Intergover-
namental de Mudanças Climáticas –
IPCC (
Intergovernmental Panel on
Climate Change)
estima que, se nada
for feito, até 2100 a temperatura mé-
dia global aumentará entre 0,9 e 3,5
ºC e o nível do mar subirá 49 cen-
tímetros, mudança essa capaz de sub-
mergir cidades costeiras e países in-
sulares.
Entre os principais efeitos adver-
sos das mudanças climáticas, além da
elevação do nível do mar, estão a al-
teração no suprimento de água doce,
a ocorrência de um maior número de
ciclones, tempestades de chuva e de
neve mais fortes e freqüentes e o
ressecamento e esgotamento dos so-
los férteis. Longos períodos de secas,
um provável aumento de pragas e
doenças tropicais, bem como uma cri-
Mudanças climáticas
se estrutural na produção de alimen-
tos, são outras conseqüências signifi-
cativas apresentadas por cientistas do
mundo todo.
Além desses dados, bem como das
projeções ambientais catastróficas,
também acaba de ser dada publicidade,
pelo Instituto Internacional de Siste-
mas de Análise Aplicada da Áustria,
ao primeiro estudo a fazer uma aná-
lise global das relações entre o clima
e a produção de alimentos. De acordo
com esse trabalho, as regiões tropi-
cais do planeta, até 2080, deverão per-
der 25% de suas colheitas. O aqueci-
mento global diminuirá a produção
agrícola no Sul da Ásia, parte da Áfri-
ca e da América do Sul, ao mesmo
tempo em que países de regiões tem-
peradas serão beneficiados na ferti-
lidade agrícola, devido a perda da capa
de gelo de seus territórios.
Gazani, integrou a delegação brasilei-
ra, o Protocolo de Kyoto correu risco
de perder-se. No entanto, acaba de ser
confirmado em Bonn, Alemanha
(
julho de 2.001), por mais de uma cen-
tena de países.
O fato representa uma esperança,
apesar da dissensão dos EUA, país que
mais contribui com a poluição global.
Esperança que só se materializará em
fatos positivos se esse protocolo for
transformado em Lei pelos países
signatários, inclusive o Brasil.
Para nós, brasileiros, resta outro
desafio, além de cumprir os com-
promissos do Protocolo de Kyoto.
Embora não estejamos entre os países
que mais emitem compostos de en-
xofre na atmosfera, teremos pela frente
uma difícil missão: prosseguirmos no
desenvolvimento do país, resgatando
as extensas regiões de miséria e atraso,
sem deixarmos de adotar os cuidados
necessários para preservar a maior di-
versidade biológica do Planeta.A cria-
tividade do povo brasileiro poderá
mostrar ao mundo uma nova matriz de
desenvolvimento, que não cometa os
erros que os chamados países do
primeiro mundo cometeram no passa-
do, os quais levaram nosso Planeta à
essa situação de crise e doença.
Para nós brasileiros os
desafios são cumprir o
Protocolo de Kyoto e
promover o
desenvolvimento do
País sem destruir
nosso rico patrimônio
biológico.
Não é tarefa fácil.
É nesse contexto, de um futuro
cenário do filme Blade Runner, que
vêm ocorrendo os debates sobre o
chamado Protocolo de Kyoto, um
acordo internacional para reduzir as
emissões de gases de efeito estufa.
Nascido em 1997, na cidade japone-
sa de Kyoto, sua base técnica de sus-
tentação está nos estudos e estatísti-
cas compilados em 1990. Sua moti-
vação política foi firmada na ECO 92,
realizada no Brasil.
Em Haia, na Holanda (novembro
de 2000), quando nosso escritório
(
consultor do Conselho Empresarial
Brasileiro para o Desenvolvimento
Sustentável), representado pelos Ad-
vogados Paula Bennati e Flávio
Antônio Fernando Pinheiro Pedro é advogado es-
pecialista em Direito Ambiental, diretor da ABAA -
Associação Brasileira dos Advogados Ambienta-
listas, Professor de Direito Ambiental e membro
do Partido Verde de São Paullo.
Foto: Luiz Cláudio Barbosa