Encarte - maio de 2003
O verdadeiro produto
Ricardo Esparta
EcoInvest
Existem ainda
enormes incertezas
quanto às atividades
ligadas ao Protoco-
lo de Kyoto. Se exis-
te a certeza de que
alguma ação advirá das negociações
da Convenção sobre Mudança do
Clima, ainda não se pode afirmar que
os “créditos de carbono” serão um
bom negócio do ponto de vista finan-
ceiro. Aliás, do ponto de vista de
negócios, o mercado de carbono não
pode ser um fim para qualquer que
seja o projeto. Por outro lado, se o
mercado de carbono permanece uma
incógnita, o desenvolvimento sus-
tentável já é, e continuará sendo, um
bom negócio. Por exemplo, o uso efi-
ciente da energia e a conseqüente
redução do desperdício, a produção
de energia por fontes renováveis e a
preservação de florestas nativas, as-
sociada a uma exploração sustenta-
da, são objetivos (projetos) que já
fazem sentido em todos os aspectos
(
econômico, social e ambiental).
A obtenção de créditos de car-
bono através destas atividades pre-
tende incentivar o uso de paradigmas
de desenvolvimento, que não repi-
tam aqueles carbono-intensivos uti-
lizados pelos países industrializados,
com alto uso de combustíveis fósseis
e desmatamento da cobertura flores-
tal nativa. Do ponto de vista finan-
ceiro, os créditos de carbono podem
tornar projetos no limiar da viabi-
lidade, em projetos viáveis, mas eles
não serão a panacéia que levará todo
o mundo ao desenvolvimento limpo
e à recuperação de áreas florestais
degradadas. Posto de outra forma, os
créditos de carbono podem ser um
sub-produto muito interessante de
projetos de desenvolvimento sus-
tentável, estes sim, os verdadeiros
produtos. O tripé: ambientalmente
correto, socialmente justo e financei-
ramente viável, tem de ser completo
para sustentar um projeto.
Não se trata aqui de menosprezar
o mercado de redução de emissões,
que tem potencial para se tornar algo
muito grande, mas projetos que de-
pendem de certificados para serem
viáveis ou continuarão a ser questio-
náveis, se não do ponto de vista am-
biental, pelo menos do lado finan-
ceiro. No âmbito das discussões do
Protocolo de Kyoto, o fato dos EUA
-
os maiores emissores mundiais e
certamente os maiores compradores
em um mercado que contasse com a
sua presença - não fazerem parte do
acordo diminuirá, ao menos no cur-
to prazo, a demanda por certificados.
E, finalmente, como não há ain-
da uma regulamentação definida, os
negócios são realizados das mais
variadas formas, carregando alta in-
certeza e, consequentemente, alto
risco. Hoje o mercado vive muito
mais uma fase de aprendizado, de
influência sobre os formuladores de
políticas de busca de padrões. Quem
atua neste incipiente “mercado de
carbono” quer adquirir experiência
com a montagem do mesmo, quer
moldar as regras de acordo com suas
convicções e obter vantagens com-
petitivas como pioneiro.
Florestas e ventos
Ricardo Rose
Diretor do Departamento de Meio
Ambiente da Câmara de Comércio
Brasil e Alemanha
O Mecanis-
mo de Desen-
v o l v i m e n t o
Limpo proposto
na Conferência
de Kyoto em
1997,
por inicia-
tiva da dele-
gação brasileira,
representará im-
portante fonte de
capital de investimento dentro de al-
guns anos e o Brasil, sem dúvida, é
um dos países com maior potencial
de implementação de projetos desse
tipo.
Ainda não se observa grande in-
teresse das empresas alemãs nesses
mecanismos, uma vez que a Alema-
nha está preocupada, primeiro, em
cumprir internamente as metas de
redução de emissões estabelecidas
pelo protocolo de Kyoto. Mas, sem
dúvida, empresas localizadas na Eu-
ropa, Estados Unidos e Japão
poderão adquirir bônus de emissões,
resultantes de projetos que compro-
vadamente fixem o carbono.
O Brasil é um país com enormes
potenciais para projetos de MDL.
Entre eles está o reflorestamento
com diversas espécies regionais
(
seringueiras, babaçu, palma, plan-
tas odoríferas da Amazônia, eucalip-
to e pinus), todas responsáveis pela
geração de produtos já sobejamente
conhecidos e que, com os Projetos
de MDL, poderão se credenciar a
funcionar como sumidouros de car-
bono.
Também pelas vantagens climáti-
cas comparativas, o Brasil pode,
igualmente, abrigar projetos de
energia limpa, entre elas a energia
eólica, como alternativa para proje-
tos de MDL. Aliás, tanto na área flo-
restal, quanto na de energia eólica,
já são inúmeros os projetos em fase
de implantação. No caso da energia
eólica, o Nordeste, mais especifica-
mente o Ceará, já é o maior pólo
gerador deste tipo de energia em toda
a América do Sul. Contribuindo para
o incremento da produção energéti-
ca, frente à crise de abastecimento
que se instalou no Brasil - com as
vantagens adicionais, de ser uma
energia limpa e recurso natural
inesgotável - e comprovadamente
pode auxiliar na proteção global do
clima (para cada 1 MWh de geração
eólica evita a emissão de 0,6 tonela-
das de CO2 para a atmosfera), os
projetos de energia limpa são uma
realidade para os MDL.
Segurança
aos investidores
Paulo Henrique Cardoso
diretor e coordenador da Câmara
Técnica de Mudanças Climáticas
do CEBDS
O trabalho a
ser desempenha-
do já a partir da
próxima reunião
do Protocolo de
Kyoto, em Mar-
rakesh, consis-
tirá em promo-
ver projetos bem
feitos. Isso deve
ser desenvolvido
principalmente pelo núcleo inter-
locutor de empresas, leia-se
CEBDS e as instituições do gover-
no brasileiro que compõem a
Comissão Interministerial para
Mudanças Climáticas, responsáveis
pela negociação dos projetos.
Exemplos serão apresentados, como
das empresas Petrobrás, Vale do Rio
Doce e Copene. Sobre as incertezas
quanto à segurança para investimen-
tos internacionais, a proposta é
discutir com o governo, de modo a
criar um processo institucional que
demonstre credibilidade.