MEIO AMBIENTE PAULISTA NA DANÇA DAS CADEIRAS

RicardoSalles — Salles: guinada à direita… bem á direita… na gestão ambiental paulista

Da redação

A Secretaria de Meio Ambiente do Estado de São Paulo era tradicionalmente ocupada por políticos e profissionais afetos à área. Guardava um perfil técnico, aparentemente alheio ao fisiologismo ou negociações de ordem eminentemente partidária.

Não é mais.

Em troca do apoio do PP – Partido Progressista, legenda do deputado federal Paulo Maluf, à candidatura a prefeito de São Paulo do seu apadrinhado João Dória, o governador Alckmin defenestrou a Professora de Direito Ambiental da USP, Patrícia Iglecias, do cargo de Secretária de Meio Ambiente, para dar lugar ao representante pepista Ricardo Salles, criador do Movimento Endireita Brasil, reconhecidamente nem um pouco afeto à área ambiental.

patricia-iglecias — Patrícia Iglecias – última representante de uma geração de técnicos na Secretaria de Meio Ambiente paulista?

A troca causou grande estranheza no meio ambientalista. Primeiro pela introdução de uma secretaria, que sempre teve perfil técnico (mesmo quando ocupada por parlamentares), na dança das cadeiras do fisiologismo político de ocasião. Segundo pelo perfil do escolhido: um jovem advogado declaradamente avesso à temática ambiental e propenso a enfrentamentos no campo ideológico.

O advogado Ricardo Salles foi secretário particular de Alckmin entre 2013 e 2014. Nessa ocasião colecionou antipatias palacianas e cultivou atritos com vários tucanos históricos. Um momento complicado de Salles ocorreu quando proferiu palestra no Clube Militar do Rio de Janeiro, onde afirmou que ninguém iria “ver generais e coronéis, acima dos 80 anos, presos por causa dos crimes de 64″… “se é que esses crimes ocorreram”. Logo em seguida afirmou que não era a favor de ditaduras, mas, se era para ter uma, “foi melhor para o Brasil ter tido uma de direita”.

Salles é criador do Movimento Endireita Brasil – cujo histórico de conflitos com políticos de esquerda é notório, bastando uma pesquisa superficial na internet.

“É um negócio que me revolta. Estou enojado, É possível compor com o PP. Que pelo menos seja uma pessoa deglutível”, afirmou à imprensa o ex-Governador tucano Alberto Goldman, sobre o acordo para empossar o novo secretário.

Por ocasião de sua posse na Secretaria, no último dia 18 de julho, Ricardo Salles declarou-se contra o tombamento integral da Serra da Cantareira, prometeu menos preservacionismo e mais apoio ao agronegócio – “o único setor da economia brasileira que vai bem” e afirmou que a preservação de áreas de mata ciliar de acordo com o tamanho dos rios, nascentes ou córregos – como determina o Código Florestal, pode tornar inviável a produção agrícola em alguns locais.

Se por um lado as posições explícitas e despreocupadas do novo Secretário revelam guinada clara em direção aos anseios de grande parte do setor produtivo paulista, por outro lançam pesadas nuvens sobre o espaço de diálogo que o governo mantinha preservado com a sociedade civil, comunidade científica, academia e a bancada ambientalista no parlamento paulista.

Há quem já avalie que o governo deveria ter efetuado um “Estudo Prévio de Impacto Ambiental” do escolhido, antes de nomeá-lo.

Há também quem admita, no entanto, que a inteligência e vigor juvenil do apadrinhado de Maluf e Alckmin, superados os impactos iniciais, poderá empreender as mudanças há muito reclamadas pelo setor privado do estado, em especial na formulação de políticas públicas e implementação de normas ambientais, consideradas restritivas e carregadas de subjetividades.

De uma forma ou outra, não será uma gestão como as outras…

*Por Paulo Thomaz

21/julho/2016