ambiente legal
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cesso ao ingressar no novo mercado. O segundo
pilar refere-se às parcerias. Governos e outros gru-
pos de interesse estão cada vez mais interessados
em trabalhar com as empresas. Esse envolvimen-
to, em torno de objetivos comuns, é fundamental
para fomentar novos empreendimentos e ampliar
o arco de benefícios gerados para todos. E o ter-
ceiro pilar é desenvolver a capacidade contínua,
agregar valor através do conhecimento extraído
dos parceiros envolvidos e em todos os níveis,
como governos, novos empreendedores, comuni-
dade, entre outros.
Em resumo, poderíamos definir essa aborda-
gem no conceito de “empreendedorismo susten-
tável”. A inovação mais radical reside em ver os
países e comunidades pobres sob a perspectiva de
parceiros e clientes em potencial. Assim, para se
alcançar o sucesso desejado, os projetos em so-
brevivência sustentável devem basear-se nas reais
necessidades, capacidades e contextos das popula-
ções de baixa renda.
Empresas globais, algumas delas instaladas no
Brasil, deram partida nesse processo de inclusão
social em seus negócios e os primeiros resultados
indicam que estão no caminho correto. A Miche-
lin, por exemplo, está desenvolvendo um projeto
pioneiro. O programa Ouro Verde da fabricante
de pneus francesa, instalada no Rio, consistiu no
parcelamento e venda de parte de uma área da
empresa de dez mil hectares no Sul da Bahia. A
área foi dividida em três faixas: uma para plantio
através de parceria com produtores, que compra-
ram a terra com financiamento subsidiado e pa-
gamento vinculado à produção; outra destinada à
pesquisa e desenvolvimento de borracha natural
e uma terceira reservada à proteção ambiental de
mata atlântica, onde se inclui projeto de ecoturis-
mo. O projeto da Michelin envolve, como temos
apregoado, as três dimensões do desenvolvimento
sustentável, com a garantia de crédito, compra do
produto, fomento ao mercado local, pesquisa e
tantos outros benefícios.
Voltando à questão ambiental, devemos aban-
donar urgentemente o conceito de “mãe natu-
reza”. A educação e o desenvolvimento huma-
nos, fundamentados na visão cartesiana clássica,
aliados à crescente concentração urbana a partir
principalmente de meados do século XX, defini-
ram uma dicotomia entre a sociedade moderna e
a natureza. A atitude de domínio e o uso indis-
criminado dos recursos naturais ultrapassaram os
limites na maioria dos casos e regiões. Os ecossis-
temas devem ser analisados como provedores de
serviços básicos à nossa sobrevivência: alimentos,
água potável, madeira, fibra, recursos bioquími-
cos e genéticos, além de formação de solos, con-
trole de enchentes, regulação do clima, recicla-
gem de nutrientes, assim como serviços culturais,
incluindo religiosos, recreacionais, ecoturismo e
educacionais, entre outros.
Concretamente podemos afirmar que ainda
há tempo para correção de rumo. Entretanto, as
mudanças são culturais, estruturais, profundas
e de curto prazo, visando a resultados perenes e
contundentes. O desafio e a responsabilidade são
únicos. Os exemplos positivos já existem. Esta vi-
são de longo prazo do setor empresarial, aliada a
sólidas parcerias com governos e a sociedade civil,
será preponderante para mudar o cenário global,
invertendo as curvas de crescimento de degrada-
ção ambiental e de exclusão social.
CEBDS
Para Fernando Almeida é preciso abandonar com urgência
o conceito de “mãe natureza”
*
Fernando Almeida é presidente executivo do Conselho
Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável
(
CEBDS) e professor adjunto da UFRJ