ambiente legal
Pá g i n a s Ve r d e s
decidir pela exclusão imediata das
ações da companhia pela maior
gravidade do ocorrido (conheça
as oito entidades com poder de
voto em assembléia no site www.
bovespa.com.br).
AL:
Quando da divulgação
das 28 empresas classificadas no
ISE Bovespa, causou no mínimo
surpresa não o fato de três com-
panhias representantes dos seto-
res siderúrgico e petroquímico,
de alto impacto ambiental, par-
ticiparem da nova carteira, mas
sim da Embraer estar no time,
já que a companhia produz uma
parcela de aeronaves exportadas
para uso exclusivo em combates.
Então as companhias de capital
aberto que produzem cigarros,
bebidas alcoólicas e armas podem
ter a esperança de também fazer
parte do índice?
RN:
O ISE Bovespa não penaliza,
de antemão, produtos ou setores,
pois temos critérios rigorosos e
realmente capazes de bloquear a
entrada de empresas que estão po-
luindo o ar, o solo, jogando resídu-
os nas águas, não dando máscaras
protetoras para seus empregados.
O paradigma de sustentabilidade
entrou para valer na BelgoMineira,
na Braskem e na Copesul, por isso
estão no ISE Bovespa. Os grandes
investidores vão forçar que outras
siderúrgicas e petroquímicas de
capital aberto, nas quais aplicam
seus capitais, atinjam essas mar-
cas de excelência ambiental. Na
atualidade, a indústria de cigarros
é 100% prejudicial à saúde, só vai
entrar no ISE se mudar o produto
a ponto de torná-lo inofensivo às
pessoas. A indústria de armamen-
tos também está na contramão dos
princípios da sustentabilidade. O
setor de bebidas é um caso a par-
te. Se numa empresa o percentual
de produtos alcoólicos for muito
pequeno e seus resultados em to-
das as áreas do questionário forem
altos, não há porque exclui-la do
ISE. O percentual de aeronaves
exportadas para combate é ínfi-
mo na Embraer, mas em todos os
quesitos de nosso questionário ela
alcançou pontuação exemplar. O
mesmo aconteceu com os bancos,
temos cinco instituições. Sabemos
que o setor é alvo de reclamações
no Procon, mas esse número é in-
significante se comparado à cartei-
ra de clientes beneficiados. As teles
lideram as reclamações nos órgãos
de defesa do consumidor e apre-
sentam outros problemas. Não
por acaso nenhuma delas está em
nossa nova carteira.
AL:
A partir do ISE Bovespa,
os grandes investidores podem
vir a assumir um papel até agora
inimaginável para esse segmento,
o de ativos promotores da causa
socioambiental?
RN:
Esses investidores têm o po-
der de fazer isso, sim, por meio de
seu capital e da articulação políti-
ca com seus pares. Acredito que,
em cinco anos, especialmente
investidores ligados a fundações
e fundos éticos, não vão mais
comprar papéis de companhias
que estejam de fora do ISE Bo-
vespa. Também vão começar a
exigir que as empresas dessa car-
teira mostrem sua classificação no
ranking geral e se a última coloca-
da estiver muito longe da pontu-
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ação das primeiras, dificilmente
conseguirá negociar suas ações.
AL:
O ISE Bovespa vai ser
anualmente revisto. Ano que vem
os ativos ambientais vão estar en-
tre os quesitos? A versão atual só
engloba os passivos ambientais e
dá mais pontos para as empresas
que provisionam em seus balan-
ços recursos para saná-lo. Outra
reclamação ouvida da sociedade
civil organizada: a falta de acesso
público aos questionários respon-
didos pelas empresas classificadas.
Não é uma afronta ao princípio
da transparência, basilar da sus-
tentabilidade?
RN:
Muito provavelmente os ati-
vos ambientais devem entrar na
próxima versão do ISE, de forma
a valorizar, por exemplo, empre-
sas que tenham RPPNs, Reservas
Particulares do Patrimônio Na-
tural. Quanto ao acesso público
aos questionários, o Conselho
Deliberativo do ISE acatou o ar-
gumento de que as empresas que
acessam o questionário e não o
respondem ou deixam de enviá-
lo seriam beneficiadas. Por ora,
deixamos essa decisão para cada
uma das companhias, classifica-
das ou não. Esse ponto ainda des-
perta muita resistência, mesmo
entre as empresas que integram o
ISE Bovespa, pois cada uma delas
obteve uma pontuação diferente,
tendo em comum apenas o fato
de terem superado a nota mínima
estabelecida.
As companhias desclassificadas vão se
esforçar e investir onde mais precisam e
no prazo de três anos é bem provável que
tenham uma realidade completamente
diferente”.