Revista Ambiente Legal
tempo de independência da Bolí-
via) de acordos secretos, traições,
chicanas, tramóias e descumpri-
mentos de contratos é que devemos
medir a irresponsabilidade brasi-
leira ao modificar a matriz ener-
gética para incluir o gás boliviano.
Investimos em um gasoduto de 3
mil quilômetros para colocar boa
parte da indústria nacional nas
mãos de fornecedor não confiável,
analisa Delfim Netto.
Assim, se, em 1993, em lu-
gar de o governo brasileiro assi-
nar contrato de parceria com a
Bolívia para a construção do ga-
soduto e exploração e compra do
gás natural tivesse investido na
produção interna, hoje, o País
teria não só assegurada sua auto-
suficiência em petróleo, mas
também em relação a esse com-
bustível limpo, seguro e barato.
Pacote de medidas - Tentan-
do correr atrás do tempo perdi-
do, o governo federal lançou um
pacote de medidas para buscar
tão-somente reduzir a dependên-
cia brasileira na área energética.
O compromisso da Petrobras de
antecipar, para 2008, uma ele-
vação na produção interna de
gás natural de 24,2 milhões de
metros cúbicos, prevista inicial-
mente para ocorrer em quatro a
seis anos, é uma dessas medidas.
José Sérgio Gabrielli, presi-
dente da estatal petroleira, infor-
mou que a produção adicional
virá principalmente da Bacia do
Espírito Santo, onde recente-
mente foram descobertas novas
reservas de gás natural. A meta é
ampliar a oferta na região Sudes-
te, aumentando a produção dos
atuais 15,8 milhões m3/dia para
40
milhões m3/dia.
Esse objetivo poderá ser
atingido se dois novos campos
de óleo e gás forem explorados
no Espírito Santo (1-ESS-164
Geólogos estimam que temos
reservas de 800 bilhões de metros
cúbicos de gás natural, quantidade
suficiente para abastecer o País pe-
los próximos 50 anos – o estoque
supera as reservas da Bolívia, esti-
madas em 620 bilhões de metros
cúbicos. Os especialistas alertam
que a falta crônica de investimentos
no setor fez que apenas 37,5% das
reservas brasileiras tenham sido, até
agora, exploradas. 
Segundo o diretor-executivo
da Associação Brasileira de Gran-
des Consumidores Industriais de
Energia e de Consumidores Livres
(
Abrace), Paulo Ludmer, a im-
portância do gás natural em cada
etapa do processo industrial e em
cada região do País é distinta, mas
muitas indústrias são totalmente
dependentes do gás natural. “O gás
boliviano é responsável pela quase
totalidade do produto consumido
de São Paulo até o Sul”, enfatiza
Ludmer.
Na opinião dele, será necessário
estudar cuidadosamente as opções
possíveis ao gás natural da Bolívia.
Há saídas, mas todas elas requerem
dinheiro e um tempo de transição.
Tudo isso diminui a competitivida-
de da economia brasileira no curto
prazo”, avalia Ludmer, que é mem-
bro do Conselho Mundial de Ener-
gia. O presidente da Abrace defen-
de a participação dos consumidores
na elaboração de qualquer plano de
contingenciamento de gás natural
voltado a situações emergenciais.
A indústria é o maior consumi-
dor de gás natural no Brasil. Dados
da Associação Brasileira das Empre-
sas Distribuidoras de Gás Canaliza-
do (Abegás) apontam que, somente
em janeiro deste ano, o País con-
sumiu, em média, 42,7 milhões de
metros cúbicos de gás por dia – 27
milhões importados da Bolívia.
Desse total, o setor industrial con-
sumiu 53,4%.
Os chamados grandes consu-
midores industriais, a exemplo dos
setores vidreiro, siderúrgico e pe-
troquímico, utilizam 40% de todo
o gás consumido no país e 25% da
energia (parte dela também pro-
duzida a partir do gás natural). O
faturamento dessas empresas é de
cerca de R$ 260 bilhões, o equiva-
lente a 13% do total faturado por
todas as empresas do País, 28,8%
do total de exportações e 26,5%
do Produto Interno Bruto (PIB)
brasileiro.
A demanda por gás natural é
crescente no Brasil e deve dobrar
até 2015. A taxa de crescimento
mundial é de 20%, mas, no País,
chega a 29,9%. A frota nacional
movida a gás é de quase 2,5 mi-
lhões de veículos.
Gás natural: os números do Brasil
O mapa mostra o caminho percorrido pelo gasoduto: a Bolívia é o ponto de partida e
o Rio Grande do Sul, a parada final.
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