Revista Ambiente Legal
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Foto: Paolo Sachi
Edgar Morin, autor de mais de trinta livros, defende uma consciência mundial para o desenvolvimento do século 21
O modelo de produção econômica, para Morin,
precisa mudar o “foco, que tem de deixar de ser
quantitativo para ser a qualidade da vida. O prin-
cipal é poder desfrutar da poesia da existência. As
cinco vezes que estive realmente feliz foi indepen-
dente de dinheiro.”
Com relação ao multilateralismo, Morin está
confiante que ele será cada vez mais uma realidade.
Com a saída gradual dos EUA do posto de potên-
cia hegemônica, vão nascer outras potências em um
mundo multilateral, com consciência planetária,
formando uma “Terra pátria capaz de aceitar as vá-
rias multiplicidades”. “O Brasil tem privilégio nesse
cenário, pois é democrático, multiétnico e aberto a
norte, sul, leste e oeste”, disse.
O desenvolvimento para o século 21 “ainda
não tem rosto”, diz Morin. “A humanidade ainda
não encontrou a solução, mas é necessário fazer
o seguinte questionamento: como mudar o cami-
nho?”, afirmou.
E, citando o filósofo pré-socrático Heráclito,
Morin disse que “se não formos em busca do ines-
perado, nunca o encontraremos”.
O passado demonstra que os modelos de de-
senvolvimento mudaram muitas vezes de caminho,
como o socialismo, o liberalismo e o anarquismo, e
todos esses paradigmas fracassaram, lembra Morin,
acentuando que deve-se continuar em movimento,
na busca de outros modelos, outros caminhos.
E qual caminho tomar? No século passado, os
jovens tinham muitas causas, pelas quais entregavam
suas vidas, como foi o caso do próprio pensador, que
lutou contra a ocupação francesa pelos nazistas. No
entanto, essas causas não eram tão justas como pa-
reciam. Terminada a guerra, com a pátria liberta, o
país voltou a ocupar as colônias, como a Argélia, por
exemplo. Morin acredita que “hoje a causa da huma-
nidade não tem sombras. Não fiquem desencanta-
dos. Não dá para proteger um povo em detrimento
de outro. Vocês tem a causa mais bela!”