ambiente legal
Como o senhor avalia a
relação meio ambiente, pobreza
e globalização? Quais os riscos
desse tripé dentro de uma ma-
crovisão? E no caso de países
emergentes, como o Brasil, e de
nações muito pobres da África,
qual o cenário?
Desde a Conferência das Na-
ções Unidas sobre o Meio Am-
biente Humano, realizada em
Estocolmo, em 1972, que es-
ses assuntos têm sido alvo de
grande preocupação. Embora
seja evidente que a prioridade
das políticas dos países mais
pobres acabe, na prática, com o
descarte do viés ambiental, essa
conduta só comprova que são
justamente estes países que são
mais dependentes dos recursos
naturais. Vejo o investimento
na questão ambiental como algo
que gera grandes dividendos
para aqueles que assim o fazem.
Cito como exemplo um dos maio-
res poluidores do planeta, os Esta-
dos Unidos da América, que nos
últimos 20 anos têm feito grandes
progressos em reverter o dano am-
biental em seu território. Países
mais desenvolvidos devem auxi-
liar os mais pobres a melhor
proteger o meio ambiente com
transferência de tecnologia e
recursos financeiros para a pro-
moção do desenvolvimento de
suas economias e para que,
acima de tudo, seja provocada
uma mudança nas prioridades
destes países.
Nas questões ambientais e
de pobreza, o que Brasil e África
têm em comum?
Trabalho com a África há cinco
anos e a todo momento eu me
surpreendo com as semelhanças
que encontro com nosso país.
Deixando de lado as questões
culturais, coloniais em sua ori-
gem ou não, há vários pontos
em comum quando o assunto
é meio ambiente. Problemas
como desmatamento, deserti-
ficação e contaminação dos
recursos hídricos, apenas três
exemplos de magnitude, pre-
cisam ser adequadamente en-
frentados no Brasil e na África.
Apesar disso, existem gritantes
diferenças entre as duas regiões.
Alguns números são reveladores:
com apenas 10% da população
mundial, a África apresenta 24%
do total de soropositivos. Cinco
anos atrás, 1 milhão de pessoas
morreu de malária. Outros 80%
dos africanos dependem direta-
mente da biomassa ou carvão
vegetal para cozinhar ou espan-
tar insetos. Nesse contexto, em
2000, 730.000
crianças abaixo
de cinco anos de idade foram
mortas por causa de doenças
respiratórias ocasionadas por
poluição no ambiente em que
vivem. O mau gerenciamento
dos recursos naturais não é o
único responsável pelas mazelas
do continente. Ainda em 2000,
mais de 24 milhoes de africanos
tiveram suas vidas afetadas por
desastres naturais, como secas,
enchentes e ventos fortes. O que
África e Brasil têm em comum,
entre outras coisas, são esses
bolsões” de extrema pobreza.
Qual o papel de institui-
ções como o Banco Mundial em
cenários como este que o senhor
acaba de traçar?
Nos últimos anos, as organiza-
ções internacionais têm feito
um enorme esforço para harmo-
nizar seus procedimentos e fazer
com que a ajuda financeira flua
com mais rapidez onde ela é ne-
cessária. Muito já foi conquis-
tado, mas temos que trabalhar
ainda mais. Questões impor-
tantes como o combate à corrup-
ção, o reconhecimento do papel
da mulher no desenvolvimento
e a existência de um Judiciário
mais ágil, são alguns pontos do
que ainda há por fazer.
De sua perspectiva privile-
giada, quais desafios a globaliza-
ção impõe ao trato das questões
ambientais? Ela é um fator fa-
cilitador ou impeditivo do tripé
do desenvolvimento sustentável,
baseado na realização da justiça
social e do equilíbrio ecológico
com a viabilidade econômica?
Estas são questões complexas,
mas vamos lá. Com relação à
globalização, trata-se de um
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Os países devem preservar suas florestas
tropicais independentemente do estímulo
à redução de sua dívida externa.
Os dividendos ambientais serão ainda
maiores sem as amarras de tal mecanismo.