Revista Ambiente Legal
Em países que estão em proces-
so de rápido desenvolvimento,
como Brasil, China, Índia, Rús-
sia e tantos outros, a demanda já
supera a oferta. Estima-se que,
nos próximos 15 ou 20 anos, a
necessidade mundial por ener-
gia só será plenamente satisfeita,
do ponto de vista estritamente
econômico, com a construção
de 5 mil novas plantas nucleares
de tecnologia sofisticada. Com
certeza esse não será o caminho
adotado, pois muitos países estão
desistindo dessa alternativa em
razão dos riscos potenciais e dos
acidentes reais de que todos te-
mos notícia.
AL –
Então, o sinal está ver-
de para uma arrancada na adoção
de fontes alternativas de energia?
ME –
Não quero parecer pessi-
mista, mas para abastecer a cres-
cente demanda energética global
serão necessários grandes inves-
timentos nos próximos anos.
Nesse cenário que exige respos-
tas rápidas, as fontes alternativas
estão longe de oferecer a melhor
relação custo-benefício. O fato é
que a maior parte dessa energia
adicional ainda será proveniente
de combustíveis fósseis. Proje-
ções da Agência Internacional de
Energia apontam que, no futuro,
vai diminuir ligeiramente o con-
sumo de petróleo e aumentar o
de gás natural. Basicamente as
sociedades vão manter o atual
estado das coisas, incrementando
muito pouco as energias renová-
veis no curto e médio prazos. O
desafio que se põe é que ainda
não temos um marco legal e um
pacto global colocados em práti-
ca por todos os interessados. Só
essa medida será capaz de garan-
tir que, até 2050, estaremos es-
tabilizados em níveis de emissões
muito abaixo do patamar atual,
caindo de 880 partes por milhão
para 550 ppm, uma margem de
impacto aceitável e que pode evi-
tar conseqüências mais graves.
AL –
Na sua opinião, por
que há tanta resistência no en-
frentamento desse problema?
ME –
Um marco legal global
adequado necessariamente tem
de gerar motivação entre os que
vão pagar a conta. Afinal, para
atacar o problema, governos e
empresas terão de investir muito
dinheiro em novas tecnologias, e
por um longo período. Por fal-
ta do enfoque da motivação, do
incentivo, o Protocolo de Kyoto
não avança como precisa e de-
veria. Existem várias iniciativas
isoladas por parte dos Estados,
mas as metas globais traçadas
até 2012 certamente não serão
alcançadas. Para investimentos
de monta, como os que são ne-
cessários para enfrentar as mu-
danças climáticas, há que se ter
um ambiente de segurança. Sis-
temas de comércio de emissões,
o chamado mercado de carbono,
como o que está sendo tentado
na Europa, ou alianças em prol
de energias limpas na Ásia e Pa-
cífico, podem assegurar melhores
resultados porque têm essa base
de motivação. Mas em se tratan-
do de maximização de resultados,
é imprescindível o comprome-
timento com um acordo global,
realmente motivador, com metas
claras, real funcionalidade e eficá-
cia. Esse caminho também é mais
seguro para o setor produtivo e as
sociedades como um todo, pois
combate certas distorções, algu-
mas até muito perigosas.
AL –
A que fatos o Senhor
se refere?
ME –
Os Estados Unidos da
América não aderiram ao Proto-
colo de Kyoto, mas internamente
estão criando muitos problemas
para as empresas. Diversos Es-
tados-membros estão com re-
gulamentações, cada qual com
suas exigências, algumas de teor
bastante drástico. Na Califórnia,
por exemplo, as leis determinam
metas muito mais ambiciosas
que o Protocolo de Kyoto. No
âmbito federal, há outro emara-
nhado de leis. Por causa dessa si-
tuação, que gera instabilidade, os
empresários estão liderando um
forte movimento para que o país
tenha um marco legal nacional.
AL –
Hoje, qual é o papel da
empresa na sociedade?
ME –
No WBCDS estamos
tratando de definir, de maneira
muito precisa, o que deve ser uma
empresa no mundo contemporâ-
neo. Vivemos na era do chamado
Estado mínimo” e, sem dúvida,
o grande desafio é definir limites
para que as empresas não sejam
confundidas com postos de aten-
dimento social. Nesse contexto,
A ambição
das empresas
que participam
diretamente do
WBCSD ou de
nossos 58 conselhos
nacionais é uma
só: que, juntas,
possam encontrar
uma forma de
alinhar faturamento
dos negócios
com atendimento
às necessidades
ambientais e sociais.