P á g i n a s Ve r d e s
Revista Ambiente Legal
lançamos, para uma base de re-
flexão e trabalho, os documentos
Doing business with the poor
e
Bu-
siness for Development
(
somente
em inglês e disponíveis para do-
wnload em <
>).
AL –
As empresas têm dado
grandes saltos na direção do de-
senvolvimento sustentável, en-
quanto a maioria dos Estados
caminham timidamente. O que
essa falta de ritmo e sintonia
pode acarretar?
ME –
Isso tem a ver com a na-
tureza desses entes em pratica-
mente todo mundo. Os gover-
nos são muito bons para reagir a
crises, com duras intervenções.
No outro extremo, apresentam
grandes dificuldades de atuar de
forma pró-ativa na arrancada do
desenvolvimento sustentável.
Paises nórdicos criaram, há mui-
to tempo, legislações motivado-
ras e em sintonia com as diretri-
zes e metas do desenvolvimento
sustentável, além de terem uma
burocracia limpa, que dá segu-
rança jurídica para investimen-
tos privados de monta. Nessas
nações há que se observar que
os incentivos não se confundem
com subsídios. Servem, como o
próprio nome diz, para incenti-
var atitudes corretas. Os gover-
nantes buscam, ainda, mostrar
e internalizar em cada cidadão
o valor apropriado e uso econô-
mico da água, da biodiversida-
de, do ar, da energia, de forma
que todos seus usuários tenham
uma conduta de responsabilida-
de e, ao mesmo tempo, possam
usufruir, de fato, desses recursos
para viver e produzir.
AL –
Em que medida ini-
ciativas de superação da pobreza
são pertinentes ao planejamen-
to estratégico de uma empresa?
Esse não é um papel que cabe
exclusivamente aos Estados?
ME –
Na visão dos associados
do WBCSD é preciso fazer essa
conexão, não por filantropia,
mas porque isso é estratégico
para aumentar o próprio merca-
do de consumidores. Há Esta-
dos, e não são poucos, que têm
demonstrado plena incapacida-
de para superar a pobreza inter-
na. Surpreendentemente exibem
bons e até ótimos indicadores
de crescimento econômico, mas
o nível de pobreza não diminui
de maneira substancial. A China
é uma feliz exceção e, em geral,
nos países da América Latina a
disparidade entre ricos e pobres
é gritante. Essa situação cria
tensões políticas internas, que
podem ter resultados negativos
para o setor privado. As empre-
sas, por terem capital financei-
ro e capacidade intelectual, são
hoje os principais, senão os úni-
cos atores nessas economias de
mercado, que realmente podem
cooperar para que as populações
mais marginalizadas conquis-
tem capacidade aquisitiva. Uma
alternativa que tem se revelado
viável é a implementação, pelas
grandes companhias, de em-
preendimentos comunitários,
a exemplo de cooperativas de
produtores rurais, que passam a
ser fornecedores de sua própria
cadeia produtiva ou de tercei-
ros. São projetos de excelência,
sempre conectados às deman-
das do mercado e que mudam,
de fato, a realidade local para
melhor porque fazem crescer o
mercado de consumidores. As
empresas podem, ainda, garim-
par oportunidades nessas co-
munidades em que atuam, de-
senvolvendo e provendo, se for
o caso, serviços e produtos para
esse público de baixa renda.
São esses mercados que acenam
possibilidades de aumento, real
e substancial, no faturamento
das companhias, pois a faixa de
alto consumo está praticamente
saturada. Gerar essa capacidade
aquisitiva por meio da promo-
ção e ampliação do consumo
local cria um circulo virtuoso,
o qual empresários de visão
estratégica sabem ter um valor
incalculável.
Governos, cidadãos
e empresas
desconectados de
compromissos com
o desenvolvimento
sustentável precisam
ganhar senso de
urgência. Não temos
a eternidade para
operar as mudanças
necessárias. Nossa
escala de tempo é
infinitamente menor
para evitarmos um
desfecho dramático
lá na frente
Marcelo Trad