Revista Ambiente Legal
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judiciais no lado dos doentes. E
em relação aos médicos, o que a
senhora sentiu de mudança no
comportamento médico?
Rosana Chiavassa
-
O médico
aprendeu a se defender mini-
mamente. Ele sabe que tem que
preencher um prontuário, que
antes não preenchia. A coisa
ainda está em clima de guerra,
muitos médicos gravam as con-
sultas sem o paciente saber e isto
é permitido por analogia à Lei da
Escuta. Claro que ele não grava o
exame, que normalmente é feito
em uma sala anexa, mas a con-
versa onde ele explica as conse-
qüências do tratamento. Porque,
claro, quando chega lá na frente,
se tiver uma briga judicial, o mé-
dico fica sempre sem ter prova.
Se ele falou ou não falou, ele não
tinha como provar o contrário.
Ainda há um clima de guerra,
e eu tenho muito medo que o
Brasil vire Estados Unidos, onde
os médicos nem encostam a mão
no paciente. Acho que médico e
paciente ainda não encontraram
o ponto ideal.
Ambiente Legal
-
Ou seja,
ainda é muito vinculado ao com-
portamento do profissional.
Rosana Chiavassa
-
Isso tam-
bém está acontecendo na nos-
sa área. Poucos advogados que
fazem um grande barulho na
sociedade por infrações éticas
acabam não prestando contas e
não dando satisfação. Então, os
advogados também estão sendo
processados, mas, para mim, é
muito claro que só é processado
o profissional que não se anteci-
pa, não procura o consumidor e
não se explica para o consumi-
dor, porque errar é humano e o
brasileiro é bom, ele perdoa. En-
tão, é uma relação de confiança,
e em uma relação de confiança
as pessoas podem errar. Mas, se
você mantiver essa lealdade, é
muito difícil o brasileiro proces-
sar. O brasileiro só processa se,
além de praticarem um equívo-
co, ainda pisam no pé.
Ambiente Legal
-
Como a
senhora vê o advogado como
consumidor de sua entidade?
Rosana Chiavassa
–
Eu tenho
algumas paixões na vida: meus
filhos, meu lado pessoal, meu
namorado e a vida. Tenho outras
duas paixões que me consomem,
que é a advocacia -sou uma eter-
na apaixonada pela advocacia e
amo defender as pessoas, defen-
der teses jurídicas e conseguir
entregar o bem da vida ao cida-
dão, seja ele pequeno ou grande.
Também amo a OAB.
Ambiente Legal
–
Como a
senhora está administrando sua
paixão pela OAB e pelo Direito?
Rosana Chiavassa
-
Coordenei
a campanha de Rubens Appro-
bato e fui conselheira por duas
gestões. Fizemos muita coisa.
Neste momento, obtive outra
vitória. Veio uma notícia do
contrato da Amil, que tinha
sido rescindido em prejuízo de
três mil professores idosos e apo-
sentados. Tinha uma delas que
estava com 102 anos. Falei com
o Approbato e ele me passou a
procuração para entrarmos com
uma ação civil pública em nome
da OAB-SP. Esta foi a primeira
ação civil pública reconhecida
no Brasil como da OAB poden-
do defender terceiros que não
advogados. Por isso que eu falo
com tanta ênfase que a OAB
poderia fazer muito pelo coleti-
vo, porque já há legitimação e já
esta posta no Judiciário. E quero
sim ser a presidenta da OAB de
São Paulo e serei, porque acho
que temos muito a fazer. Hoje,
o advogado está sofrido e can-
sado, e se sentindo desprotegido
e abandonado. Ele precisa da
Ordem para ter condições de
trabalho minimamente adequa-
das. Nós queremos discutir o
Direito, não ficar brigando com
cartório para juntar petição,
para expedir a guias. Precisamos
melhorar as condições de traba-
lho. A sociedade acha que o ad-
vogado é responsável pela mo-
rosidade, e não é. É o Judiciário,
a partir do momento que você
mostra isso, o advogado passa a
ser valorizado e você passa a ter
um circulo virtuoso que se con-
cretizará, trazendo a OAB para
o cenário nacional e social.