A Guerra de Narrativas Financiada pela União Europeia
Por Antonio Fernando Pinheiro Pedro*
A liberdade de expressão, considerada pilar fundamental das democracias modernas, enfrenta uma nova ameaça — paradoxalmente advinda de políticas públicas sob o pretexto da proteção contra a desinformação.
O estudo “Manufacturing Misinformation – The EU-funded propaganda war against free speech”, do pesquisador Dr. Norman Lewis, publicado pelo MCC Brussels em maio de 2025 (*1), revela como estratégias financiadas pela União Europeia têm, na prática, promovido uma engenharia narrativa com viés autoritário.
Controle Semântico e Legitimidade Política
A pesquisa de Lewis detalha como iniciativas europeias têm migrado do combate à desinformação para a regulação da linguagem. A criação de estruturas como o chamado “Ministério de Controle de Narrativas” exemplifica a tentativa de legitimar determinados discursos políticos enquanto marginaliza outras formas de expressão.
O quadro traçado por Lewis é, de fato e direito, orwelliano. (*2)
O autor aponta que, longe de promover diálogo democrático, tais medidas filtram o que pode ou não ser dito — colocando em xeque o princípio da pluralidade de ideias.
Projetos de Inteligência Narrativa
Entre os 349 projetos financiados pela UE, visando manipular a verdade e consolidar um “duplipensar politicamente correto”, destacam-se iniciativas como:
• FAST LISA: propõe combater discurso de ódio por meio de abordagens jurídico-linguísticas
• REASON: atua na reação a discurso de ódio online
• RECO-DAR: analisa ecossistemas extremistas e seus métodos de disseminação
• VIGILANT: investiga desinformação ilegal com o uso de inteligência artificial
• VERA.AI e TITAN: exploram IA como ferramenta de verificação e controle social
• ORBIS: prega aumento da participação democrática, mas é criticado por promover uma transparência dirigida.
O pior é que tais programas “dissimulam” o controle que visam instituir, fazendo uso de uma “apropriação conceitual” sistemática.
Democracia em Risco
Lewis argumenta que o uso dessas ferramentas, embora tecnicamente avançado, compromete os valores fundamentais da democracia deliberativa.
Ao substituir o debate público por mecanismos de coerção semântica, enfraquece-se a co-criação política e a confiança mútua entre cidadãos e instituições.
A Linguagem Neutra que Não é Neutra
O apêndice do estudo, denominado NEUspeak, desmascara a linguagem institucional dos projetos — revelando como termos aparentemente neutros (como “transparência” ou “resiliência”) encobrem estratégias de controle narrativo. A escolha das palavras torna-se, portanto, um instrumento político.
O Paralelo Brasileiro – O STF e a Censura Institucionalizada
A análise de Lewis ressoa profundamente com o cenário político brasileiro, especialmente com a atuação do Supremo Tribunal Federal (STF).
A Corte tem adotado uma postura incisiva no “combate à desinformação”, criando um sistema de monitoramento de conteúdo que, na prática, configura claro controle institucional sobre a liberdade de expressão.
Por meio de decisões monocráticas e investigações conduzidas sem contraditório pleno, o STF tem avançado sobre prerrogativas legislativas e jornalísticas, censurando canais de comunicação e perfis de redes sociais.
Essa tendência alinhada ao modelo europeu criticado por Lewis revela um preocupante deslocamento do centro de gravidade democrático — da cidadania para o poder judiciário — em nome da governança informacional.
Conclusão: O Império das Palavras Nuas
Em tom provocativo, Lewis encerra o estudo com a famosa metáfora “o imperador está nu” — sugerindo que, por trás do discurso de defesa da democracia, há uma arquitetura de poder voltada ao silenciamento e à conformidade.
Por sua vez, a denúncia de Lewis aplica-se integralmente à nossa realidade, porque evidentemente somos o modelo juristocrático, fabricado como protótipo “progressista” pela União Europeia, integrando ao cenário orwelliano um toque corrupto, populista e narcomarxista, como tempero latino-americano – para tragédia de nossa República e nossa Democracia (*3).
Quando, no campo geopolítico, detectamos crescente resistência ao avanço dessa “preocupação” com o controle informacional, vislumbramos que o produto da “fábrica de desinformação” europeia, por mais que aparente ser simpático, com excelentes propósitos, quando “comprado” pelo público-alvo, transforma-se num “brinquedo assassino” de corações, expressões e mentes.
Notas:
*1 – LEWIS, Norman. Manufacturing Misinformation – The EU-funded propaganda war against free speech. MCC Brussels, maio de 2025. Disponível em: brussels.mcc.hu (PDF)
*2 – ORWELL, George. 1984. São Paulo: Companhia das Letras, 2009.
*3 – PEDRO, Antonio F. Pinheiro. “Somos Todos Cobaias do ‘Golpe do Golpe’ Globalista”, in Blog “The Eagle View”, in https://www.theeagleview.com.br/2024/02/somos-todos-cobaias-do-golpe-do-golpe.html
*Antonio Fernando Pinheiro Pedro é advogado (USP), jornalista e consultor ambiental. É diretor da AICA – Agência de Inteligência Corporativa e Ambiental. Sócio fundador do escritório Pinheiro Pedro Advogados, integrou o Green Economy Task Force da Câmara de Comércio Internacional. Membro do Instituto dos Advogados Brasileiros – IAB, é conselheiro do Conselho Superior e Estudos Nacionais e Política da FIESP. É Vice Presidente da Associação Paulista de Imprensa e Editor-Chefe do Portal Ambiente Legal. Responde pelo blog The Eagle View.
Fonte: The Eagle View
Publicação Ambiente Legal, 31/07/2025
Edição: Ana Alves Alencar
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