‘Bacuri Verde’ de esperança

Alunos de escola pública querem aumentar cobertura vegetal de cidade no Maranhão

Por Vitor Lillo

Imperatriz, cidade do sul do Maranhão, não é só a segunda maior cidade do estado, atrás apenas de São Luís, e a “Capital da Energia”, por causa das linhas de transmissão que passam pelo município e abastecem o norte do Brasil. A cidade é rica em biodiversidade, banhada pelo Rio Tocantins e mais nove riachos. À beira de um deles, o Bacuri, acontece uma verdadeira “revolução verde”, liderada por jovens alunos daquela localidade.

Eles estudam na escola municipal Santos Dumont, que atende jovens com idades entre os 6 e os 15 anos. Inspirados pelas aulas de meio ambiente do professor Geílson de Arruda Reis e pela própria situação ambiental do bairro – que sofre com a carência de áreas arborizadas, e a poluição do próprio riacho – criaram, no início de 2012, o projeto “Bacuri Verde” para plantio de mudas de árvores nos arredores da escola.

Com menos de um ano de vida, o projeto dos jovens maranhenses foi escolhido para participar da Feira Brasileira de Ciências e Engenharia (Febrace), em março. A indicação rendeu ainda um convite para a apresentação do projeto na Expociencia Nacional realizado no México. “Esses prêmios são apenas a consequência do nosso trabalho”, afirma um orgulhoso Geílson. E ele sabe bem da dimensão dele.

O projeto teve início com a pesquisa realizada entre os 200 moradores do entorno da escola. Nas entrevistas foram detectadas informações como tempo de moradia, grau de escolaridade e situação ambiental do bairro. Os dados mostraram que, além da poluição do riacho Bacuri, o baixo nível de arborização (36%) e a grande quantidade de lixo nas ruas (24%) eram grandes problemas ambientais do bairro.

A pesquisa também apontou que 92% dos moradores afirmam que o bairro já teve mais árvores em outros tempos, uma evidência das consequências do surto de crescimento desordenado que atingiu a cidade de Imperatriz nas décadas de 1960 e 1970, fato recorrente em cidades de médio e grande porte do Brasil.

“Imperatriz não é uma cidade planejada e está muito carente de arborização. É necessário se trabalhar isso, não só esperar do Poder Público; a escola pode fazer alguma coisa frente a esses problemas e nós professores podemos dar nossa contribuição para diminuí-los”, afirma o professor Reis.

Com os dados do levantamento na mão, o apoio da direção da escola e dos 83% dos entrevistados pela pesquisa que demonstraram interesse em plantar e cuidar de uma árvore, os integrantes do projeto foram atrás de um engenheiro ambiental que voluntariamente pesquisou o tipo de árvore mais adequada para ser usada no plantio. O escolhido foi o ipê amarelo, cuja raiz não danifica a calçada e nem o quintal da casa.

Inicialmente foram selecionados 80 alunos que receberam cada um sua muda. Todos os alunos queriam participar do projeto. Até mesmo pais de alunos pediam para participar. Em seguida foram realizadas palestras para ensinar aos participantes como plantar uma muda de árvore. “Eu mesmo, que sou professor de Geografia, não sabia como se faz”, conta Reis, com bom humor.

Os resultados foram compartilhados na página do projeto no Facebook (clique aqui para acessar). “Os alunos contavam: ‘olha professor, quando plantei a muda tinha três plantinhas, hoje já são sete’”, relata Geílson. Cresceram o número de plantinhas das mudas, cresceu o projeto, que hoje conta com 119 ipês plantados pelos arredores da escola Santos Dumont e pode ir tão longe quanto o pensamento do professor – e semeador de esperança.

“Ali foi só o primeiro trabalho. Há muitos alunos inteligentes, capazes que podem continuar. O mais importante foi gerar essa sementinha da consciência ambiental. O aluno de hoje será um adulto mais consciente para participar das decisões não só de meio ambiente, mas de outros assuntos que interessam à sociedade”.