Quando a Ciência Resgata a Verdade e Clama por Sobriedade no Debate Climático
Por Antonio Fernando Pinheiro Pedro*
Durante décadas, o debate sobre mudanças climáticas foi sequestrado por uma militância ruidosa, que transformou uma questão complexa e multifatorial em um dogma inquestionável.
A narrativa dominante, alimentada por projeções alarmistas e modelos altamente sensíveis, impôs uma visão apocalíptica que pouco dialogava com a realidade observada.
Mas não há discurso que resista á dura realidade dos fatos. O recente relatório do Departamento de Energia dos Estados Unidos da América (DOE) – “A Critical Review of Impacts of Greenhouse Gas Emissions on the U.S. Climate”, publicado em julho de 2025, confirma aquilo que muitos cientistas e pensadores independentes, inclusive este subscritor, vêm alertando há anos: a ciência climática está longe de ser consensual, e os modelos utilizados para justificar políticas draconianas carecem de precisão e humildade epistemológica.

O que diz o Relatório
A ciência verdadeira é feita de dúvidas, revisões e confronto de hipóteses. De forma alguma se confunde com religião ou se firma em ideologias. Assim, o relatório do DOE não nega a existência de mudanças climáticas – pois o clima, obviamente, muda há bilhões de anos no planeta… e interage com as transformações ocasionadas pela atividade geomorfobiológica, ocorrente na sua superfície – em especial a atual, humana.
O destaque é o convite à sobriedade, à precisão e ao debate honesto, com base na ciência, nos fatos, sem dogmas, sem medo e sem militância, senão vejamos:
A avaliação crítica dos impactos das emissões de gases de efeito estufa (GEE) no clima dos EUA foi produzido pelo Climate Working Group (CWG), composto por cinco cientistas independentes, seguido de uma revisão de literatura científica e dados governamentais, chegando às seguintes e principais conclusões:
a. Sensibilidade climática ao CO₂ pode ser menor do que estimativas anteriores.
b. Modelos climáticos tendem a exagerar projeções de aquecimento futuro.
c. Políticas agressivas de mitigação podem ser economicamente prejudiciais.
d. As ações políticas dos EUA têm impacto quase imperceptível no clima global.
Essa última evidência – que as políticas de mitigação adotadas pelos EUA têm impacto quase nulo no clima global, enquanto geram custos econômicos significativos, reforça a necessidade de reavaliar estratégias, priorizando inovação tecnológica e adaptação inteligente, em vez de restrições ideológicas.
O relatório avança sobre a questão dos Impactos Diretos do CO₂ Global Greening – revelando o aumento da vegetação devido à fertilização por CO₂ (algo, aliás, desde sempre apontado no Brasil por cientistas como o saudoso Professor Aziz Ab’Saber). Nesse sentido, o relatório aponta a melhora da eficiência no uso de água em culturas agrícolas, ao passo que no oceano está a ocorrer o aumento da alcalinidade – com impactos em recifes de corais.
A Resposta Climática ao CO₂ baseada em dados concretos, demonstra uma menor sensibilidade climática do que os modelos adotados pelo IPCC. Assim, a resposta transitória ao CO₂ é mais moderada do que o previsto.
Seguindo esse diapasão, o relatório aponta para divergências entre Modelos e Observações, revelando conflitos com dados reais no que tange ao:
- Aquecimento da superfície e troposfera.
- Perfil vertical de temperatura.
- Cobertura de neve e albedo planetário.
- Eventos Climáticos Extremos
As. temperaturas extremas nos EUA, ao contrário dos discursos militantes, de fato estão se tornando menos frequentes e os incêndios florestais – em verdade, são hoje influenciados por práticas de manejo, não apenas pelo clima.
O Nível do Mar sofreu um aumento global de cerca de 20 cm, desde 1900. Ou seja, não ocorreu aceleração significativa além da média histórica.
O documento aponta que os métodos de Atribuição de Mudanças Climáticas têm inúmeras limitações, de forma que a variabilidade natural do clima continua sendo um fator relevante… e pouco compreendido – ela ainda desempenha papel importante.
Posto isso, é certo que o custo social do carbono tornou-se altamente sensível a suposições e, portanto, pouco confiável.
Avaliando as Implicações Políticas, o Relatório recomenda, enfim, cautela em políticas climáticas baseadas em modelos sensíveis, vislumbrando haver um caminho para o incentivo à inovação energética em vez de restrições.

O Choque da Realidade
A militância climática, ao se apoiar em cenários extremos e previsões catastróficas, ignorou a divergência entre modelos e dados reais, como demonstrado nas medições de temperatura, cobertura de neve e eventos extremos, historicamente analisados pelo conjunto de cientistas e instituições revisto no relatório.
Mas os governos globalistas e a mídia mainstream têm também imensa responsabilidade nessa trama danosa à ciência. Ao invés de promover um debate plural e baseado em evidências, muitos setores políticos e midiáticos optaram por silenciar vozes dissidentes, rotulando qualquer questionamento como “negacionismo”.
liás, este subscritor mesmo já enfrentou a fúria militante – a qual anula qualquer avanço da razão sobre a paixão. O fato é que a postura apaixonada, não apenas empobrece o debate, como também compromete a credibilidade da própria ciência.
Não à toa, revela-se que Políticas Climáticas adotadas sem a devida responsabilidade acarretam altos custos e produzem pouco impacto.

Conclusão: A Ciência Não É Militante
A ciência verdadeira é feita de dúvidas, revisões e confronto de hipóteses.
O relatório do DOE não nega a existência do fator humano nas alterações do clima. No entanto, apresenta a realidade dos fatos, concretos como eles são; convida à sobriedade, à precisão e ao debate honesto.
Particularmente, me reconforta ver que minhas ponderações e “achismos”, expostos em artigos escritos em todos esses anos, encontraram o devido eco junto às autoridades científicas que conduzem a política energética da maior nação do planeta. Vários são os estudiosos e cientistas que, dessa forma, se liberam da censura militantes que até aqui custou caro, muito caro, à economia ambiental em todo o mundo.
Como queríamos demonstrar, é possível — e necessário — discutir clima com ciência, sem dogmas, sem medo e sem militância.
Referências bibliográficas:
1. Departamento de Energia dos Estados Unidos da América (DOE) – “A Critical Review of Impacts of Greenhouse Gas Emissions on the U.S. Climate”, in https://www.energy.gov/sites/default/files/2025-07/DOE_Critical_Review_of_Impacts_of_GHG_Emissions_on_the_US_Climate_July_2025.pdf
2. PEDRO, Antonio Fernando Pinheiro, “GESTÃO DO CLIMA PELA BASE”, in Blog “The Eagle View”, in https://www.theeagleview.com.br/2023/03/o-clima-pela-base.html
3. SHERWITZ, Débora Perilo, “”NÓS PASSAMOS, A TERRA FICA – Henry Gee, editor da Nature, sobre humanidade na Terra: ‘Vamos embora em breve’ “, in Blog “The Eagle View”, in https://www.theeagleview.com.br/2025/04/editor-da-revista-cientifica-nature-nos.html
4. PEDRO, Antonio Fernando Pinheiro, “MUDANÇAS CLIMÁTICAS DE BIQUÍNI – O maior inimigo do IPCC – Painel Intergovernamental Para Mudanças Climáticas é a soberba …e a tentação de se tornar ‘fashion’ “, in Blog “The Eagle View”, visto em 12Dez2015, in http://www.theeagleview.com.br/2014/04/mudancas-climaticas-de-biquini.html
5. PEDRO, Antonio Fernando Pinheiro, “PERÍODO ANTROPOCENO ? SERIAM OS HUMANOS DEUSES OU DINOSSAUROS? – Por mais que possamos impactar a geomorfologia do planeta, ainda somos fruto das circunstâncias geológicas e climáticas e, não, protagonistas determinantes”, in Blog “TheEagleView”, visto em 12Dez.2015, in https://www.theeagleview.com.br/2013/02/periodo-antropoceno-seriam-os-humanos.html
6. PEDRO, Antonio Fernando Pinheiro, “MUDANÇAS CLIMÁTICAS: O ACORDO ‘TERMOSTATO’ DE PARIS – A ‘Diplomacia do Termostato’ do Acordo de Paris não resolve o problema crucial da mudança do clima no planeta”, in Blog “The Eagle View”, visto em 18Jun2019, in https://www.theeagleview.com.br/2015/12/mudancas-climaticas-o-acordo-termostato.html
*Antonio Fernando Pinheiro Pedro é advogado (USP), jornalista e consultor ambiental. Exerceu o cargo pioneiro de Secretário Executivo de Mudanças Climáticas do Município de São Paulo, de junho de 2021 a julho de 2023. Sócio fundador do escritório Pinheiro Pedro Advogados, é diretor da AICA – Agência de Inteligência Corporativa e Ambiental. Membro do Instituto dos Advogados Brasileiros – IAB e Vice-Presidente da Associação Paulista de Imprensa – API. Foi o 1o. presidente da Comissão de Meio Ambiente da OAB/SP, presidente da Câmara Técnica de Legislação do CEBDS, presidente do Comitê de Meio Ambiente da AMCHAM, coordenador da equipe encarregada de elaborar o substitutivo do PL, no mandato do Relator – Dep. Mendes Thame, que resultou na Lei de Política Nacional de Mudanças Climáticas, consultor do governo brasileiro, do Banco Mundial, da ONU e vários outros organismos encarregados de aperfeiçoar o arcabouço legal e institucional do Estado no Brasil, integra o Centro de Estudos Estratégicos do Think Tank Iniciativa DEX, é Conselheiro integrante do Conselho Superior de Estudos Nacionais e Política da FIESP, Presidente da Associação Universidade da Água – UNIÁGUA, Editor-Chefe do Portal Ambiente Legal e responsável pelo blog The Eagle View.
Fonte: The Eagle View
Publicação Ambiente Legal, 05/09/2025
Edição: Ana Alves Alencar
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