Oportunidade para Cingapura e o Brasil
Por Rafael Possik e Antonio Fernando Pinheiro Pedro+
O mundo está acelerando rumo à descarbonização, e o setor marítimo não fica de fora.
Com navios cruzando oceanos diariamente, a busca por alternativas aos combustíveis fósseis virou prioridade. Nesse cenário, o etanol aparece como uma solução promissora — mais segura, renovável e ambientalmente eficiente que o metanol. E dois países estão no centro dessa virada: Cingapura, como hub logístico global, e o Brasil, como potência bioenergética.
Etanol vs. Metanol: Qual a diferença — e por que isso importa?
Enquanto o metanol já é usado em algumas embarcações, o etanol se destaca por ser menos tóxico, mais seguro de manusear e com potencial de ser carbono negativo — especialmente quando produzido de forma sustentável. Em outras palavras, além de mover navios, ele pode ajudar a limpar o planeta.
O quadro abaixo auxilia na diferenciação de Metanol e Etanol:

Por que o etanol ainda se destaca?
Além de ser mais seguro, o etanol oferece:
- Redução de até 90% nas emissões de CO₂
- Produção escalável em países como Brasil e EUA
- Menor risco ambiental e operacional
- Compatibilidade com motores dual-fuel em desenvolvimento
O produto, assim, é bem mais adequado para o atingimento das metas de descarbonização na logística naval.
Cingapura: o hub ideal para combustíveis verdes
Cingapura não é só um ponto no mapa — é o maior centro de abastecimento marítimo do mundo, conectando mais de 600 portos em 123 países. Com infraestrutura avançada e projetos como o Tuas Port, totalmente automatizado, o país está pronto para liderar a distribuição global de combustíveis sustentáveis. E o Brasil pode ser o fornecedor estratégico dessa nova era.
Outras alternativas sustentáveis em destaque
O etanol não está sozinho nessa jornada. Veja outras opções que estão ganhando espaço:
- GNL (Gás Natural Liquefeito): Reduz até 20% das emissões de CO₂
- Amônia Verde: Sem emissão de CO₂, mas exige cuidados com toxicidade
- Biodiesel e Biobunker: Produzidos a partir de resíduos, com pegada de carbono menor
- Hidrogênio Verde: Alta densidade energética e zero emissões
- E-metanol e Biometanol: Derivados de fontes renováveis, com potencial de reduzir até 95% das emissões
Oportunidade estratégica para o Brasil
O Brasil é o segundo maior produtor e exportador de etanol do mundo, com uma matriz baseada na cana-de-açúcar — uma das mais eficientes e sustentáveis do planeta.
Isso significa:
- Alta taxa de descarbonização (preferido até pela Califórnia)
- Infraestrutura consolidada e cadeia produtiva madura
- Potencial de exportação crescente (até 3 bilhões de litros/ano)
- Valorização do agro nacional, com geração de emprego e inovação
Uma Proposta de Política Pública:
“Etanol Marítimo Brasileiro para o Mundo”
Para transformar essa oportunidade em liderança global, o Brasil pode apostar em:
- Diplomacia energética com hubs como Cingapura e Rotterdam
- Incentivo à produção de etanol 2G com crédito verde
- Modernização de portos para abastecimento marítimo
- Certificação internacional de sustentabilidade
- Fomento à pesquisa em motores dual-fuel e logística inteligente
A governança necessária para a implementação dessa política demanda capacidade de liderança, transdisciplinariedade e contínua articulação com a inteligência do setor de pesquisas, Administração Pùblica e iniciativa privada.
Impacto no Setor de Energia e Logística
Essas ações podem revolucionar o setor energético brasileiro, fortalecendo a matriz renovável e reduzindo a dependência de combustíveis fósseis. Na logística, adaptar portos e corredores de exportação para combustíveis verdes posiciona o Brasil como elo estratégico nas cadeias globais de descarbonização.
Conclusão
A transição para combustíveis verdes como etanol, amônia e GNL não é só uma tendência — é uma revolução estratégica. O Brasil tem tudo para ser protagonista, e Cingapura é o palco ideal para essa transformação logística e ambiental.
Se você atua em energia, logística ou sustentabilidade, vale acompanhar de perto esse movimento.
O futuro dos oceanos será mais limpo — e mais inteligente.
*Antonio Fernando Pinheiro Pedro é advogado (USP), jornalista e consultor ambiental. Exerceu o cargo pioneiro de Secretário Executivo de Mudanças Climáticas do Município de São Paulo, de junho de 2021 a julho de 2023. Sócio fundador do escritório Pinheiro Pedro Advogados, é diretor da AICA – Agência de Inteligência Corporativa e Ambiental. Membro do Instituto dos Advogados Brasileiros – IAB e Vice-Presidente da Associação Paulista de Imprensa – API. Foi o 1o. presidente da Comissão de Meio Ambiente da OAB/SP, presidente da Câmara Técnica de Legislação do CEBDS, presidente do Comitê de Meio Ambiente da AMCHAM, coordenador da equipe encarregada de elaborar o substitutivo do PL, no mandato do Relator – Dep. Mendes Thame, que resultou na Lei de Política Nacional de Mudanças Climáticas, consultor do governo brasileiro, do Banco Mundial, da ONU e vários outros organismos encarregados de aperfeiçoar o arcabouço legal e institucional do Estado no Brasil, integra o Centro de Estudos Estratégicos do Think Tank Iniciativa DEX, é Conselheiro integrante do Conselho Superior de Estudos Nacionais e Política da FIESP, Presidente da Associação Universidade da Água – UNIÁGUA, Editor-Chefe do Portal Ambiente Legal e responsável pelo blog The Eagle View.
*Rafael Possik Jr. é estrategista em gestão, políticas públicas e inteligência corporativa. É Assessor Especial na SP Negócios, onde aplica conceitos de estratégia militar à promoção de investimentos e exportações em São Paulo. Sócio da AICA — consultoria em agronegócio, energia e sustentabilidade — lidera projetos voltados à inovação e transição verde, conectando viabilidade econômica com impacto ambiental positivo. Agro-empreendedor e professor de Agronegócio na FAAP, preside a associação de ex-alunos da instituição.
Fonte: The Eagle View
Publicação Ambiente Legal, 05/09/2025
Edição: Ana Alves Alencar
As publicações não expressam necessariamente a opinião dessa revista, mas servem para informação e reflexão.