Revista Ambiente Legal
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não é agressivo ao meio ambiente e não provoca degradação.
Lá fora, o Brasil goza de um conceito muito positivo nessa
atividade”, informa Afrânio.
Segundo ele, o método mais usado no mundo é o da mi-
neração do sal, extraído da crosta terrestre, que causa muitos
impactos negativos.
Ondas que iluminam -
No porto de Pecém, a 60 qui-
lômetros de Fortaleza (CE), as ondas do mar vão iluminar
parte do porto com 50 megawatts. Em uma segunda etapa,
o sistema deverá abastecer as câmaras frigoríficas e comple-
mentar a energia que abastece uma comunidade próxima de
pescadores, onde vivem 200 pessoas.
O projeto é uma parceria entre a Universidade Federal do
Rio de Janeiro e o Governo do Ceará. Os custos da usina es-
tão estimados em R$ 4,1 milhões. Metade dos recursos serão
custeados pela Eletrobras.
A região foi escolhida porque apresenta uma constância
na força das ondas. Para que a energia seja captada, serão
instalados 20 módulos flutuantes que avançarão dois quilô-
metros mar adentro. Grosso modo, esses equipamentos cap-
tam as ondas e as transformam em energia elétrica. “É uma
energia limpa, renovável, que não emite som e não interfere
na paisagem”, explica um dos pesquisadores, Paulo Roberto
Costa, do Laboratório de Tecnologia Marítima da Universi-
dade Federal do Rio de Janeiro.
O projeto, em fase piloto, está sendo visto como uma ge-
nuína oportunidade de exploração sustentável do mar. “Com
essa costa imensa que temos, queremos mostrar que a energia
derivada das ondas do mar é uma possibilidade viável”, res-
salta Adão Linhares, secretário de Infra-Estrutura e coorde-
nador de Energia e Comunicações do Governo do Ceará.
A obra já está em fase de licitação. Dois módulos flutu-
antes deverão entrar em operação no ano que vem. Os resul-
tados obtidos nessa primeira etapa servirão como base para
a instalação de outros 18 equipamentos – juntos, vão gerar
500
megawatts. Quando isso acontecer, o trabalho perde a
condição de piloto e ganha o status de empreendimento co-
mercial.
O preço é uma das vantagens da energia vinda do mar,
cujo valor estimado é de US$ 60 mw/h. É praticamente o
mesmo da hidrelétrica, mas é mais competitivo que a eólica,
que custa entre US$ 95 a US$ 105. E, com certeza, mais em
conta que a solar, que depende de tecnologia mais complexa
e onerosa.
Conhecer para explorar -
A localização e a quantidade
de todos os recursos vegetais, animais e minerais que guar-
dam nossas águas ainda precisa de mapeamento e pesquisa,
cuja logística pode ser bastante complicada: as distâncias a
percorrer são enormes, não só na horizontal, mas na vertical,
com profundidades de até 5 mil metros. O universo a ser in-
vestigado tem potencial para múltiplos usos: farmacológico,
Repo r t agem de Capa
cosmético, nutricional, combustível, etc.
Do levantamento feito até agora – até mil metros de pro-
fundidade - o mar brasileiro abriga uma diversidade muito
grande de peixes, mas poucos exemplares de cada espécie.
Isso não significa que a pesca não possa ser uma atividade
rentável para o país. Estudiosos apontam a gestão sustentável
dos estoques disponíveis como um negócio promissor, espe-
cialmente de espécies de alto valor comercial, como madeira,
cherne e namorado.
Outras riquezas pouco exploradas estão no solo marinho.
Além de petróleo e gás, estudos indicam que o fundo do mar
contém grandes jazidas minerais que poderiam ser exploradas
a partir de novas tecnologias. “Há riquezas incalculáveis na
nossa plataforma continental”, diz o capitão-de-mar-e-guerra
Carlos Frederico Simões Serafim. “Os países desenvolvidos
provavelmente já têm tudo isso mapeado, mas nós, não”.
Se o Brasil não se apoderar desses recursos, muitos temem
que eles acabem na mão de “biopiratas”, seguindo viagem em
embarcações estrangeiras de pesquisa e exploração e, poste-
riormente, sendo patenteados em outros países.
Esgoto a mar aberto -
No Brasil há 40 portos, sendo
que 17 deles estão situados dentro de capitais. E com um
agravante. A grande maioria lança efluentes nas águas sem
nenhum tratamento. “O esgoto é um dos principais pro-
blemas do ambiente marinho. Mas ele não vem só dos por-
tos. São principalmente os
esgotos urbanos das cidades
litorâneas, lançados ao mar
sem tratamento, que nos
preocupam”, afirma o oce-
onógrafo Bauer Rodarte de
Figueiredo Rachid, assessor
técnico-científico da Funda-
ção de Estudos e Pesquisas
Aquáticas (FUNDESPA).
Para se ter uma idéia, os
terminais são responsáveis
pela movimentação de cinco
mil navios todos os dias, que
Esgotos preocupam Bauer
Os recursos sob nossas águas precisam ser mapeados e pesquisados.
SXC