Por Gerson Neto*
Defender o meio ambiente é uma tarefa bastante difícil quando se luta contra o poder econômico ou a vontade de políticos ignorantes. Você pode ganhar dez batalhas, mas se perder uma só o estrago estará feito e será irremediável. O que se vê nas cidades é a invasão das áreas verdes como se elas fossem um estoque de espaço vazio para construir avenidas, estacionamentos, grandes empreendimentos públicos e particulares. Em Goiânia isso aconteceu inúmeras vezes, mas destaco dois grandes crimes: a destruição dos córregos Buritis e Botafogo.
O meio ambiente também sofre com a agressão as águas subterrâneas. A drenagem subterrânea é um organismo vivo, com seu ciclo de recarga, acumulação hídrica e vazão anual determinado há milhões de anos pelo desenvolvimento geológico do solo. A Prefeitura de Goiânia agora está querendo construir uma trincheira, aos moldes da que foi construída na Praça do Ratinho, na Praça Delmiro Paulino da Silva, onde se cruzam as avenidas 136 e 90. Esse vai ser mais um absurdo irracional determinado por burocratas.
Digo isso porque o lençol freático da região é muito rico por causa da generosa área verde que existe nas quadras do Setor Sul, projeto urbanístico de tempos muito mais generosos com o meio ambiente. Todo o Setor Sul é uma grande área de recarga de chuva e evidentemente, o motivo do Córrego Botafogo ainda fluir durante o ano todo. A infiltração de água do Setor Sul também atenua muito as enchentes do Botafogo, que seriam mais graves se o escoamento superficial fosse veloz. O lençol freático ali é bem raso e a trincheira vai ficar muito abaixo do nível da água, obrigando a repetir as drenagens e bombeamento de água que acontecem no viaduto da Praça do Chafariz. Portanto, a construção da trincheira da 90 é um desastre do ponto de vista do meio ambiente.
A trincheira também não seria construída por causa do BRT, já que o corredor exclusivo já funciona ali de forma bastante satisfatória. O objetivo seria então facilitar o fluxo dos carros. Nós da Arca defendemos uma cidade para pessoas, e não para carros, mas ainda assim será inútil porque as vias que entram e saem, especialmente a 136 já congestionada nos dois sentidos. Será um viaduto engarrafado, repetindo o erro que aconteceu na praça do chafariz, na T63. O que teremos com a construção da trincheira será desperdício de dinheiro público e um prejuízo ambiental irreparável.
*Gerson Neto – Presidente da Associação para Recuperação e Conservação do Ambiente – ARCA
