Um Mapa dos Riscos Políticos e Sociais na América do Sul nesta década
Por Antonio Fernando Pinheiro Pedro*
Introdução
A América do Sul atravessa um momento delicado, marcado por desafios políticos, sociais e econômicos que se entrelaçam e afetam diretamente a vida dos cidadãos. O objetivo deste artigo é mapear, de forma clara e visual, os principais riscos que ameaçam a estabilidade da região, explicando como eles se conectam e impactam o cotidiano dos países sul-americanos.
Dedicamos um último segmento do artigo ao caso específico do Brasil. Boa leitura.
Principais Riscos Regionais
A América do Sul enfrenta uma quadrupla ameaça: crime, ideologia, desigualdade e burocracia.
Duas vertentes transparecem claramente, envolvendo esses vetores. Primeiro, o fenômeno criminológico, que contamina desde comunidades inteiras até a própria estrutura dos estados que deveriam combatê-lo – algo relacionado não apenas à ineficiência e corrupção mas, também, ao alinhamento ideológico disfuncional; e, segundo, a impressionante disparidade social, decorrente da doncentração econômica e do peso absurdo da burocracia no Produto Interno Bruto das Nações. Vejamos:
I – O fenômeno criminológico
O crime organizado transnacional é hoje um dos maiores desafios.
Facções brasileiras como PCC e Comando Vermelho expandiram suas operações para países vizinhos, integrando-se a ex-guerrilheiros das FARC na Colômbia, interagindo com o regime narcoterrorista venezuelano (Cartel de Los Soles e Tren de Arágua)), e atuando em rotas internacionais de drogas, armas e pessoas.
O crime já não é apenas um problema policial: tornou-se ator político e econômico, infiltrando-se nas estruturas estatais e políticas.
A corrupção estrutural, presente em quase toda a região, facilita a atuação dessas redes criminosas e enfraquece as instituições públicas.
Países como Venezuela, Paraguai, Bolívia, Brasil, Peru e Argentina se destacam negativamente nesse aspecto – em especial pelo imbricamento da atividade criminosa com o discurso abolicionista de partidos, academicos e burocratas esquerdistas, ativos nesses países.
Além disso, a polarização política e a desconfiança institucional dificultam reformas, aumentam a instabilidade e favorecem a captura do Estado por interesses privados e criminosos.
Países com Maior Risco

No quadro acima, podermos conferir o nível de risco político e social enfrentado pelos países institucionalmente mais vulneráveis à criminalidade.
Para melhor definição, elencamos abaixo, com mais precisão, os riscos acima citados:
- Colômbia: Forte presença de grupos armados e narcotráfico, leniência governamental com a questão e considerável “engajamento ideológico” com a atividade da produção de cocaína, controle territorial por organizações criminosas e alianças transfronteiriças com facções brasileiras.
- Brasil: Facções nacionais atuam internacionalmente, corrupção sistêmica e influência do crime organizado em setores econômicos e políticos, especialmente nas regiões Norte e Sudeste.
- Paraguai: Influência de gangues estrangeiras, controle do sistema prisional por organizações criminosas e corrupção endêmica na Tríplice Fronteira.
- Venezuela: Ditadura socialista e forte repressão. Instituições públicas fragilizadas, corrupção extrema e presença de redes criminosas ligadas ao Estado.
- Peru, Bolívia: Riscos elevados de corrupção e atuação de redes criminosas, principalmente em áreas de fronteira e setores estratégicos.
- Argentina: Crise econômica em refluxo, após a derrota eleitoral peronista e prisão das lideranças. Imbricamento ideológico da esquerda com terroristas iranianos e forte presença islâmcia na tríplice fronteira. O sistema político, porém, segue com respeito à liberdade de expressão.
Fenômenos em Expansão
Em áreas periféricas, o crime organizado ocupa funções do Estado, oferecendo “serviços” à população e legitimando sua presença, especialmente no Brasil e Colômbia. Esse fenômeno é chamado de governança híbrida e envolve um complexo movimento de apropriação cultural e ocupação territorial – que relativiza a soberania nacional e destrói a soberania popular.
Outro ponto preocupante é a contaminação do establishment nesses países: capitais ilícitos e práticas corruptoras infiltram campanhas eleitorais, partidos políticos, patrocinam jornalistas, mídias, grupos radicais aparelhados em universidades e incorporam setores econômicos estratégicos.
Podemos, assim, listar esses fenômenos – que ocorrem de forma integrada, em quatro vetores de expansão:
- Governança Híbrida: Em áreas periféricas, o crime organizado ocupa funções do Estado, oferecendo “serviços” à população e legitimando sua presença, por meio do terror, da apropriação cultural e consequente ocupação territorial.
- Contaminação do Establishment: Crescente infiltração de capitais ilícitos e práticas corruptoras em campanhas eleitorais, partidos políticos, imprensa e setores econômicos estratégicos
- Aumento da violência e insegurança: O crime organizado diversifica atividades (tráfico de drogas, armas, pessoas, mineração ilegal, crimes cibernéticos) e recruta jovens em áreas vulneráveis.
- Perda de independência institucional: Sistemas judiciais e órgãos de controle cada vez mais vulneráveis à influência política e criminosa.
Riscos Político-Sociais e Econômicos na América do Sul (2025)

No mapa acima, podemos avaliar o grau de risco integrado em cada um dos países fragilizados, compreendendo os seguintes parâmetros:
- Escala de risco: 1 (Muito Baixo) → 5 (Muito Alto)
- Indicadores: Risco Político, Risco Social, Crime Organizado, Corrupção, Impacto Econômico
- Observações resumidas adicionadas para cada país.
Impacto Econômico do Crime Organizado e Corrupção
O crime organizado e a corrupção têm um custo direto de 3,4% do PIB da América Latina, o que equivale a 78% do orçamento público para educação e 12 vezes os gastos em pesquisa e desenvolvimento.
Segundo o Banco Mundial, o crime impede o crescimento econômico, mantendo a região com desempenho medíocre (2,1% em 2025), apesar da riqueza de recursos naturais.
Com esses impactos, a região sofre com efeitos colaterais graves, como a redução de investimentos, aumento da informalidade, extorsão e monopólio de serviços por grupos criminosos, crescentte conflito fundiário rural e urbano e absoluta perda de confiança institucional.
Papel do Esquerdismo na Destruição Cultural do Mérito
Presas do globalismo progressista, que os utiliza como laboratórios de relativização da soberania popular, os governos sul americanos alinhados à esquerda reforçaram políticas de redistribuição e populismo, muitas vezes em detrimento de incentivos meritocráticos. Isso favoreceu o clientelismo e a captura do Estado por elites políticas e grupos criminosos.
A lógica da “justiça social” tem sido usada para relativizar padrões éticos e meritocráticos, prejudicando a eficiência institucional e a responsabilização individual. Por sua vez, a profunda leniência jusburocrática com a corrupção e causas judiciais e administrativas relacionadas á responsabilização do Estado, políticas de desencarceramento e condescendência para com infratores penais “vítimas da sociedade”, bem como o questionamento sistemático ao trabalho de repressão policial, abriram as portas para a sensação permanente de impunidade. Esses fatos, somados, construíram um ativismo esquerdista desagregador, intolerante e profundamente amoral.
Aliá, a amoralidade é a cicatriz da extirpação do caráter ocorrida na militância protomarxista e pós-marxista – cujo pensamento envolve a histórica ilusão que “o social é constituído discursivamente”. O maior sintoma dessa patologia social encontra-se na supressão da ética na grande imprensa engajada, meios universitários e no próprio ativismo judiciário.
Posto isso, podemos resumir esquematicamente o fenômeno do esquerdismo sul americano com os seguintes impactos:
- Narrativa predominante: Governos alinhados à esquerda na América do Sul têm reforçado políticas populistas de assistencialismo, muitas vezes em detrimento de incentivos meritocráticos, favorecendo o clientelismo e a captura do Estado por elites políticas, grupos ativistas e facções criminosas.
- Impacto cultural: A lógica da “justiça social” tem sido usada para relativizar padrões éticos e meritocráticos, criando um ambiente onde a responsabilização individual é diluída, a cultura tornada algo medíocre e a eficiência institucional é prejudicada.
- Consequência econômica: Modelos populistas e intervencionistas aumentam a dependência de commodities, ampliam os tributos, sufocam a livre iniciativa, reduzem a competitividade e afastam investimentos, agravando vulnerabilidade fiscal e social.
Os efeitos no ambiente institucional tornam-se, por sua vez, claros:
- Governança híbrida: Crime organizado substitui funções do Estado em áreas pobres, legitimando sua presença.
- Polarização política: Dificulta reformas estruturais e aumenta instabilidade.
- Erosão institucional: Corrupção e captura do Estado minam confiança e afastam capital estrangeiro.
Segurança Regional e Interesses dos EUA
Os Estados Unidos é a grande superpotência presente no Continente. Embora busque em um ou outro momento alterar relações com os países sul americanos – conforme a orientação partidária no seu governo, os EUA jamais fugiram da Doutrina Monroe, seja por razões estratégicas continentais, seja por ser, de fato, o grande guardião do sistema capitalista e da democracia pluralista, no molde greco-romano-judaico-cristão-ocidental.
A Doutrina de Segurança Regional – que permite ações extraterritoriais, iniciada neste século, ganhou reforço no governo Trump, ao expandir a emergência nacional americana para as águas caribenhas, reconhecendo o narcotráfico sul-americano como ameaça terrorista coligada com grupos radicais muçulmanos.
Essa mudança de quadro reforçou o interesse militar americano na área, que já estava implantado desde o início do século – dentro da doutrina de segurança regional, por razões de monitoramento de recursos ambientais estratégicos e vigilância de núcleos provindos do oridente médio – instalados na tríplice fronteira paraguaia,argentino-brasileira e na tríplice fronteira do Brasil com o Peru e Bolívia. Não por outro motivo, os EUA mantém bases e operações militares na Colômbia, Peru, Paraguai e Caribe.
Agora, os EUA reforçam o controle estratégico sobre rotas comerciais, combate ao narcotráfico e influência política.
Com a escalada de atritos com a Venezuela, o envio do porta-aviões USS Gerald R. Ford ao Caribe em 2025 aumentou a tensão regional, especialmente com Colômbia, Venezuela e Brasil.
O Brasil, por sua vez, tenta manter neutralidade ativa, mas enfrenta graves problemas institucionais provindos do engajamento esquerdista que relativizou o Estado de Direito no País. Ademais, seu governo enfrenta dilemas na liderança regional, ante a pressão para alinhamento estratégico com Washington.

O mapa de riscos, acima, mostra que o continente sul americano está em franca transição.Assim, considerando a intensificação da presença norte americana ao Sul do Equador, podemos relacionar os seguintes riscos:
- Risco de Intervenção Externa: Qualquer intervenção militar dos EUA na Venezuela pode “incendiar” a América do Sul, gerar fluxos migratórios, radicalizar políticas e provocar instabilidade em países vizinhos.
- Pontos de Conflto Geoestratégico: A América do Sul mantém uma base de observação aeroespacial chinesa na Terra do Fogo, duas tríplices fronteiras com presença de elementos terroristas do Hezbolah e Al Qaeda, um conflito territorial em Essequibo e risco de expansão da criminalidade organizada em conluio com o terrorismo nos países com risco institucional moderado – que chamam a atenção dos EUA.
- Corrida Armamentista: A presença militar americana estimula países sul-americanos a modernizar suas forças armadas e buscar alianças externas, elevando custos de defesa e potencial para incidentes diplomáticos.
- Polarização Ideológica: O continente está dividido entre governos de esquerda e direita, o que dificulta consensos regionais sobre segurança, Estado de Direito e integração.
II- Riscos Estruturais: Concentração Econômica, Desigualdade de Renda e Custo da Burocracia
a. Concentração Econômica e Disparidade de Renda
A América do Sul apresenta um quadro histórico de alta concentração de riqueza e renda, que se reflete em desigualdades sociais persistentes. Segundo dados da CEPAL e do Banco Mundial, a região figura entre as mais desiguais do planeta, com coeficientes de Gini frequentemente acima de 0,45.
- Concentração setorial: Economias fortemente dependentes de commodities (minério, petróleo, soja) tornam-se vulneráveis a choques externos, ampliando riscos fiscais e sociais.
- Desigualdade territorial: A concentração de investimentos em grandes centros urbanos contrasta com a carência de infraestrutura em áreas rurais e periféricas, gerando bolsões de pobreza e exclusão.
- Impactos sociais: A disparidade de renda alimenta instabilidade política, baixa mobilidade social e aumento da informalidade, fatores que reduzem a resiliência econômica.
- Risco sistêmico: A desigualdade amplia a probabilidade de crises sociais e protestos, afetando a previsibilidade para investidores e governos.
Assim, a concentração econômica e a desigualdade de renda não são apenas problemas distributivos, mas riscos estruturais que comprometem a estabilidade regional e a capacidade de crescimento sustentável.
b. O Custo da Burocracia e o Peso do Poder Judiciário no PIB
Outro fator de risco relevante é o custo da burocracia estatal, que em muitos países sul-americanos representa um entrave significativo à competitividade.
- Complexidade regulatória: Empresas enfrentam altos custos de conformidade, com múltiplas exigências fiscais, trabalhistas e administrativas. O Banco Mundial, em seu relatório Doing Business, já apontava que abrir ou fechar empresas na região pode levar meses, em contraste com poucos dias em economias mais ágeis.
- Custo do Judiciário: O Poder Judiciário, em especial no Brasil, consome uma parcela expressiva do PIB. Estimativas do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) indicam que o sistema de justiça brasileiro custa cerca de 1,3% do PIB, valor muito superior à média de países da OCDE (em torno de 0,2% a 0,3%).
- Efeitos econômicos: Esse peso excessivo gera insegurança jurídica, lentidão na resolução de conflitos e custos adicionais para empresas e cidadãos, impactando diretamente a produtividade.
- Risco de ineficiência: A sobrecarga de processos e a morosidade judicial criam um ambiente de incerteza, desestimulando investimentos de longo prazo e aumentando o chamado “custo Brasil”.
O desastre deste descompasso… aguarda na esquina da história
A análise conjunta desses fatores revela que a desigualdade estrutural e a burocracia onerosa formam um círculo vicioso: a concentração de renda limita a base tributária e a inclusão produtiva, enquanto a burocracia e o custo elevado do Judiciário drenam recursos que poderiam ser direcionados a políticas de desenvolvimento.
Portanto, no mapa de riscos da América do Sul, esses elementos devem ser considerados como ameaças de médio e longo prazo, capazes de comprometer tanto a estabilidade social quanto a competitividade econômica da região.
Quadro Prospectivo do Sistema Político no Brasil (2025)
O Brasil, na América do Sul, perde protagonismo por estar no centro de uma crise geopolítica.
No âmbito interno, o Estado enfrenta um crise de legitimidade, sofrendo com instituições permanente aparelhadas por tendências ativistas – algo que inevitavelmente coloca em risco a estabilidade jurídica e as garantias fundamentais de cidadania. Não por outro motivo, o índice de judicialização da vida nacional aumentou exponencialmente, na mesma razão em que a interferência do poder judiciário nos processos de tomada de decisão pública, terminam provocando conflitos e gerando insegurança jurídica, ao invés de resolver conflitos e garantir segurança jurídica.
No âmbito externo, o governo de esquerda instalado no estado brasileiro moveu o país para uma posição considerada “anti-ocidental”, alinhado ao chamado “Eixo do Mal” – que congrega as ditaduras africanas, os narco-estados sul americanos e as ditaduras da Ásia, sob uma orientação Russa, Iraniana e Chinesa.
No que tange ao enfrentamento do fenômeno criminológico transnacional, o governo brasileiro gerou um conflito com a segurança norte americana ao recusar-se a considerar terroristas as facções criminosas do PCC e CV, numa manobra para evitar que a Doutrina de Segurança Regional dos EUA autorizasse operações especiais extraterritoriais contra esses alvos, que de fato dominam redes inteiras do narcotráfico e integram rotas de drogas para a América do Norte e Europa.
Para complementar o quadro, o Brasil, hoje, está com um Ministro da Justiça e seu Chefe de Polícia Federal considerados personas non gratas nos EUA – com vistos cassados, oito ministros da Suprema Corte com visto cassado e um apenado pela Lei Magnitsky (por atentar contra direitos humanos e cidadãos dos EUA), e sofre sanções econômicas por não garantir o Estado de Direito – procedendo a perseguições a opositores.
Eis, então o quadro de riscos e ameaças brasileiro:

O quadro representa que:
- Crime Organizado (85%) é o fator mais crítico, seguido por Corrupção (80%).
- Polarização Política (75%) e Erosão Institucional (70%) também comprometem fortemente a governabilidade.Esses índices indicam que a governabilidade está sob forte pressão, exigindo reformas estruturais e combate efetivo ao crime organizado.
O quadro acima, portanto, resume um grave quadro de impactos que pode ser resumido esquematicamente da forma seguinte:
1. Principais Ameaças
- Crime Organizado: Expansão territorial e econômica das facções (PCC, CV, milícias), infiltração em setores públicos e privados, influência direta em eleições municipais e financiamento de campanhas políticas. O Brasil está mais próximo de se tornar um narco-estado do que de erradicar a corrupção e o envolvimento do crime organizado no setor público.
- Corrupção Sistêmica: O país ocupa posição histórica negativa no Índice de Percepção da Corrupção, com mecanismos opacos de negociação política e fragilidade institucional. Recomendações incluem transparência orçamentária, fortalecimento da governança estatal e punição efetiva de atos de corrupção.
- Polarização Política: Persistente polarização e judicialização da política dificultam a governabilidade, fragmentam a base política e aumentam a instabilidade institucional. O Congresso se torna mais autônomo, exigindo negociações pontuais e concessões ao Centrão.
- Erosão do Estado de Direito: O crime organizado infiltra-se nas instituições democráticas, afetando os poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, e contribuindo para o aumento da violência e criminalidade.
2. Impactos no Sistema Político
- Governabilidade Fragilizada: O governo depende de alianças instáveis e concessões crescentes, sem uma estratégia clara ou equipe qualificada. A crise institucional entre os poderes dificulta reformas e políticas públicas eficazes.
- Influência do Crime Organizado: Facções criminosas financiam candidatos, impõem restrições políticas e operam silenciosamente dentro do Estado, especialmente em grandes cidades e regiões vulneráveis.
- Risco de Estado Paralelo: O fortalecimento do crime organizado cria zonas de dominação territorial e econômica, onde o Estado perde capacidade de controle e provisão de serviços públicos.
- Judicialização e Instabilidade: O Judiciário assume protagonismo, intensificando conflitos entre poderes e dificultando a articulação política. A ausência de comunicação eficiente agrava o desgaste de popularidade do governo.
3. Segurança Regional e Geopolítica
- Pressão Externa: O Brasil busca impor-se um papel de mediador regional, mas enfrenta pressão dos EUA para alinhamento estratégico, especialmente diante da presença militar americana no Caribe e na Amazônia Azul.
- Multipolaridade e Autonomia: O modelo de política externa brasileiro é questionado diante do cenário multipolar, exigindo maior capacidade de adaptação e defesa da soberania nacional.
Tendência de Judicialização e Fragmentação Política
As instituições permanentes do Brasil vêm sendo postas à prova desde o início do século, em constante descompasso com demandas críticas demonstradas pela sociedade civil por meio de imensas, extensas, repetitivas e significativas manifestações de massa, em especial a partir da segunda década, paripassu com a dinamização da intercomunicação popular por meio das redes sociais.
Esse descompasso não ocorreu apenas no Brasil. No entanto, o que aqui se viu e se vê é um contínuo e desagradável esforço do establishment nacional, por desprezar, minimizar, rotular e reprimir judicialmente todas as manifestações de descontentamento popular com um aparato burocrático que não mais atende às mínimas demandas por segurança pública, combate à corrupção, defesa da moral e dos bons costumes, garantias individuais, liberdade de expressão e sanidade. Pelo contrário – hoje, ogverno, judiciário e parlamento protegem-se da soberania popular, reduzindo seu papel no cenário nacional, enquanto consomem parcelas cada vez maiores de verbas e benesses adquiridos do bolo fiscal esmagador que sufoca a economia.
A judicialização de absolutamente tudo, na vida do País, além de afirmar uma “autoridade autoritária” disfuncional, reafirma a busca de dissimular um regime ditatorial, acobertando-o com uma toga.

O quadro acima não deixa dúvidas quanto ao papel da judicialização como fator de contenção e, ao mesmo tempo, estímulo à fragmentação política no Brasil, desde o crescimento da insatisfação popular com o chamado establishment.
Nesse sentido, vale a pena sistematizar o quadro da análise de riscos, esboçando-o da forma seguinte:
- Judicialização subiu de 40% (2015) para 82% (2025), mostrando que o Judiciário se tornou ator central na política.
- Fragmentação Política também cresceu, passando de 30% para 75%, indicando maior dificuldade de governabilidade e aumento do poder do Congresso.Essa tendência reforça a ideia de um sistema político cada vez mais dependente de negociações pontuais e decisões judiciais.
- Cenário de Risco Alto: Persistência da fragmentação política, avanço do crime organizado, aumento da violência e instabilidade institucional. Possível agravamento da crise de governabilidade e erosão do Estado de Direito.
- Cenário de Estagnação: Manutenção do status quo, reformas tímidas, continuidade da polarização e vulnerabilidade institucional, com riscos persistentes à democracia e à segurança pública.
Papel do Congresso e do Judiciário
O processo de negação do protagonismo à sociedade civil, forçando sobre ela um cenário de fragmentação política, retira legitimidade e força do Poder Executivo, constitucionalmente estabelecido.
Desta forma, o governo não mais governa sem fazer contínuas concessões aos demais poderes da República, para muito além e de forma muito distante do ritual republicano.
Assim é que o quadro, esquematicamente, segue com essas características:

A imagem expõe:
- Congresso Nacional (35%) exerce a maior influência na estabilidade política, principalmente por sua capacidade de bloquear ou aprovar reformas.
- Judiciário (30%) assume papel crescente, atuando como árbitro em crises e intensificando a judicialização da política.
- Executivo (25%) perde protagonismo devido à fragmentação e necessidade de negociações com o Legislativo.
- Sociedade Civil (10%) tem influência limitada, mas pode crescer com mobilizações contra corrupção e violência.
Do quadro acima, percebe-se que a sociedade civil encontra-se desprezada e o executivo perde protagonismo para o Legislativo, que por sua vez se vê pressionado por um judiciário disfuncional e expandido. Assim:
- Governo: refém de coalizações parlamentares e dependente do judiciário como fator de suporte à sua capacidade de decisão.
- Congresso:
- Atua como centro de poder, exigindo concessões para aprovar medidas.
- Fragmentação partidária aumenta o custo político das negociações.
- Influência direta na governabilidade e na definição da agenda legislativa.
- Judiciário:
- Assume protagonismo na resolução de crises e na interpretação constitucional.
- Intensifica a judicialização da política, interferindo em decisões do Executivo e do Legislativo.
- Gera maior insegurança jurídica, mas também funciona como barreira contra abusos de poder.
Um um paradoxo recorrente
No artigo “ESTADO SITIADO, NAÇÃO SITIADA – Uma reflexão necessária sobre o período complexo pelo qual estamos passando”, publicado em abril de 2017 no The Eagle View, fizemos uma crítica contundente à situação política e institucional do Brasil naquele período.
No citado artigo, abordamos os seguintes pontos:
1. Estado de exceção e judicialização institucional O Brasil vive um estado de exceção disfarçado, onde instituições democráticas são corroídas por práticas autoritárias. Há uma crítica à atuação do Judiciário e do Ministério Público, que estariam agindo politicamente, ultrapassando seus limites constitucionais.
2. A mídia como agente de cerco A imprensa é cúmplice do cerco à democracia, manipulando narrativas e legitimando ações arbitrárias. Há uma aliança entre setores da mídia, do Judiciário e do empresariado para manter um projeto de poder.
3. A nação sitiada O povo brasileiro é refém de um sistema que não o representa. Há uma sensação de impotência diante das decisões tomadas por elites políticas e econômicas, que ignoram os interesses populares.
4. Crítica ao discurso anticorrupção Embora o combate à corrupção seja necessário, esse discurso foi instrumentalizado para justificar ações autoritárias e seletivas, atingindo principalmente adversários políticos.
5. Chamado à resistência democrática O texto termina com um apelo à reconstrução da democracia, à mobilização popular e à retomada do debate público com base em valores republicanos e democráticos.
O fato é que, passados três mandatos presidenciais diversos, o quadro só se agravou. TODAS as advertências ocorreram e se agravaram. O risco político e social se ampliou.
Recomendações Estratégicas
Posto todo o quadro sulamericano e brasileiro, entendemos que é hora de implementar uma forte reação conservadora na região e, em especial, no Brasil. Não apenas por um viés ideológico do autor mas, principalmente, face aos fatos e ao quadro real criado pelas alternativas até aqui postas à prova na região.
Assim é que, a partir dessa análise conjuntural, acreditamos ser necessário implementar um processo de resgate do Estado de Direito e de Estabilidade Institucional na Região, a partir dos seguintes pontos:
- Transparência e Integridade: Implementar mecanismos de controle e transparência nos processos decisórios, na política orçamentária.
- Fortalecer a liberdade de expressão e a Soberania Popular e desaparelhar a governança das empresas estatais e fundos de pensão.
- Reformas Institucionais: Endurecer penas para crimes de organização criminosa.
- Reorganizar a estrutura do judiciário – retirando o ativismo da instituição. Promover reformas no sistema processual penal e efetivar o sistema prisional, combatendo a impunidade.
- Engajamento Social: Mobilizar sociedade civil, setor privado. Compreender as redes sociais como forma de expressão da dinâmica democrática e, não, como fator de risco para a governança.
- Reformatar a mídia para blindar a economia formal da influência do crime organizado e do aparelhamento ideológico.
- Cooperação Internacional: Ampliar parcerias para combate ao tráfico internacional e à corrupção transnacional.
.Feito isso, e priorizando o mérito, os valores morais e a pluralidade democrática, talvez nosso continente possa ter um papel mais central no concerto das Nações evoluídas do Planeta.
Conclusão
A América do Sul está diante de um cenário de riscos crescentes ao Estado de Direito, agravados por corrupção, crime organizado e polarização política. A segurança regional é impactada pela presença militar dos EUA, que busca conter ameaças transnacionais e influências externas. O Brasil tenta equilibrar liderança diplomática e neutralidade, mas o cenário é de tensão e potencial instabilidade, especialmente no âmbito político interno e na falta de controle nas áreas dominadas pela criminalidade e nas áreas de fronteira com países com instituições fragilizadas.
Tudo isso, no entanto, só poderá ser enfrentado com determinação, coragem, preparo e reformas estruturais profundas e bem planejadas. Sem tais reformas, o risco de agravamento institucional e social torna-se inevitável
Ou isso… ou o desastre.
Referências:
- Banco Mundial. 2025. Relatório Econômico da América Latina. Washington, D.C.: World Bank Publications.
- Banco Mundial. World Development Indicators e relatórios Doing Business (diversas edições). Washington, D.C.: World Bank. Disponível em: https://www.worldbank.org..
- CEPAL – Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe. Panorama Social da América Latina (edições anuais). Santiago: CEPAL. Disponível em:https://www.cepal.org..
- CNJ – Conselho Nacional de Justiça. Justiça em Números (relatórios anuais). Brasília: CNJ. Disponível em: https://www.cnj.jus.br..
- Constituição da República Federativa do Brasil. 1988. Brasília: Senado Federal.
- Ferreira, Francisco H. G., Julian Messina, Jamele Rigolini, Luis-Felipe López-Calva, Maria Ana Lugo, e Renos Vakis. 2013. Economic Mobility and the Rise of the Latin American Middle Class. Washington, D.C.: World Bank.
- Gasparini, Leonardo, e Nora Lustig. 2011. The Rise and Fall of Income Inequality in Latin America. Working Paper. Tulane University.
- OCDE – Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico. 2020. Government at a Glance: Latin America and the Caribbean. Paris: OECD Publishing.
- Pedro, Antonio Fernando Pinheiro. 2015. “A Burocracia está Matando o Brasil – Origem da Burocracia no Brasil, o Cartorialismo e a Praga Burocrática.” The Eagle View. Disponível em: https://www.theeagleview.com.br/2015/07/a-burocracia-esta-matando-o-brasil.html..
- Pedro, Antonio Fernando Pinheiro. 2017. “Estado Sitiado, Nação Sitiada – Uma reflexão necessária sobre o período complexo pelo qual estamos passando.” The Eagle View. Disponível em: https://www.theeagleview.com.br/2017/04/estado-sitiado-nacao-sitiada.html..
- Pedro, Antonio Fernando Pinheiro. 2019. “Gestão Ambiental da Violência Urbana.” Notícias Agrícolas. Disponível em: https://www.noticiasagricolas.com.br/artigos/artigos-geral/239591-gestao-ambiental-da-violencia-urbana-por-antonio-fernando-pinheiro-pedro.html..
- Pedro, Antonio Fernando Pinheiro. 2025. Mapa de Riscos Políticos e Sociais na América do Sul. Documento interno AICA – Agência de Inteligência Corporativa e Ambiental.
- Pedro, Antonio Fernando Pinheiro. 2025. “América do Sul no Tabuleiro de Trump – A Frente Geopolítica do Narcoterrorismo e da Influência Totalitária Global.” The Eagle View. Disponível em: https://www.theeagleview.com.br/2025/10/america-do-sul-no-tabuleiro-de-trump.html..
- Pedro, Antonio Fernando Pinheiro. 2025. “A Europa em Armas – A Euroguerra, a Trama Globalista e a Saída pela Direita.” The Eagle View. Disponível em: https://www.theeagleview.com.br/2025/10/a-europa-em-armas.html..
- PNUD – Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento. Relatório de Desenvolvimento Humano (edições anuais). Nova York: PNUD. Disponível em: https://hdr.undp.org..
- Prado, Mariana Mota, e Michael J. Trebilcock. 2009. “Path Dependence, Development, and the Dynamics of Institutional Reform.” University of Toronto Law Journal 59 (3): 341–379.
- Transparency International. 2025. Corruption Perceptions Index. Disponível em: https://www.transparency.org..
- UNODC – United Nations Office on Drugs and Crime. 2024. Global Report on Organized Crime. Viena: UNODC.
- U.S. Department of State. 2025. Western Hemisphere Strategy Briefing. Washington, D.C.: Bureau of Western Hemisphere Affairs.
- Werneck Vianna, Luiz, Maria Alice Rezende de Carvalho, Manuel Palacios Cunha Melo, e Marcelo Baumann Burgos. 1999. A Judicialização da Política e das Relações Sociais no Brasil. Rio de Janeiro: Revan.
*Antonio Fernando Pinheiro Pedro é advogado (USP), jornalista e consultor ambiental. Sócio diretor do escritório Pinheiro Pedro Advogados e Diretor da AICA – Agência de Inteligência Corporativa e Ambiental. É membro do Conselho Superior de Estudos Nacionais e Política da FIESP – Federação das Indústrias do Estado de São Paulo, Membro do Centro de Estudos Estratégicos da Iniciativa DEX, Presidente da UNIÁGUA – Associação Universidade da Água e Vice-Presidente da Associação Paulista de Imprensa – API. É Editor-Chefe do Portal Ambiente Legal e responsável pelo blog The Eagle View.
Fonte: The Eagle View
Publicação Ambiente Legal, 04/11/2025
Edição: Ana Alves Alencar
As publicações não expressam necessariamente a opinião dessa revista, mas servem para informação e reflexão.











