
Por Antonio Fernando Pinheiro Pedro *
OCASO DAS PROMESSAS
Sete (7) anos. o maior tempo já fornecido a um país para se preparar para uma Copa do Mundo de Futebol, e o Brasil – tetra campeão, considerado o país do futebol – está, às portas do evento, sem chuteiras num campo sem gramado e, pior, sem mobilidade para turistas e torcedores.
Obras atrasadas, suspeitas de superfaturamento, promessas que não saíram do papel, protestos que preocupam organizadores e governo federal, presidente Dilma Rousseff e Joseph Blatter, presidente da FIFA, dispensando seus discursos na abertura do evento, com medo das vaias… Decididamente, não era esse o quadro esperado quando o país fora o escolhido para sediar o evento.
Em meio a esse clima de apreensão, na novidade está no abandono, em várias capitais, dos projetos de mobilidade urbana, previstos justamente para funcionar antes, durante e após a Copa do Mundo, nas cidades que sediarão os jogos.
Sem esses projetos, os grandes problemas de mobilidade nas cidades já congestionadas – uma realidade nacional – aumentarão por conta do grande número de turistas e movimento durante os jogos.
O trem bala, por exemplo, o projeto mais comentado e esperado, que ligaria o Aeroporto de Viracopos a São Paulo e ao Rio de Janeiro, foi cancelado sem sequer ter seu traçado definido no papel.
Desenvolvimento econômico, aumento de empregos, melhorias na estrutura urbana, esperados com a reforma no transporte público , nos viários e aeroportos, se foram com o vencimento dos prazos.
Reformas e iluminação verde-amarela nos principais monumentos públicos, por todo o país, não estão de forma alguma reduzindo o ruído de linha com a FIFA que, a boca pequena, e com sotaque francês, já considera o Brasil como a pior escolha para sede na história das copas do mundo de futebol.
OBRAS INCONCLUSAS
O primeiro problema verificado para o esgotamento da implantação da infraestrutura prevista, está no aumento já noticiado na imprensa, de 216% no custo inicialmente calculado, desde 2007 até agora, para a preparação da Copa.
São Paulo, uma das principais sedes dos jogos, justamente a cidade que mais sofre com entraves na mobilidade, não recebeu uma obra significativa, que melhorasse efetivamente o sistema de trânsito, o transporte público ou mesmo os terminais aeroportuários. Não recebeu nada que não se resumisse a remendos emergenciais. As poucas mudanças estruturais até aqui realizadas, por óbvio não suprirão a demanda, principalmente em dias de jogos.

O paulistano hoje gasta, em média, três(3) horas diárias para deslocamento dentro da cidade em dias úteis. Durante o evento mundial, espera-se que esse tempo dobre.
O Metrô, com problemas crescentes de manutenção, já está saturado, atingindo o limite de segurança para os usuários.
As vias de acesso entre os polos atratores de tráfego, saturadas por carros particulares, além de ter capacidade de escoamento reduzida por faixas de tráfego exclusivo para ônibus, não recebem ônibus suficientes para atender à demanda de usuários do transporte público , como alternativa.
Para piorar, o acesso à região do Estádio que deverá sediar a abertura da Copa, o Itaquerão, continua absolutamente inalterado, e se hoje já é um dos mais problemáticos da capital paulistana, não será difícil imaginar a operação de guerra necessária para desobstruí-lo no dia dos jogos.
No Rio de Janeiro e Fortaleza, estão em andamento obras de implantação de corredores de ônibus de acesso rápido – BRT,. Estes, provavelmente, ficarão prontos até a Copa.
Brasilia teve seu principal projeto de transporte coletivo cancelado. Contará apenas com a ampliação de algumas vias de acesso a partir de algumas cidades-satélite e nos trevos de acesso no Eixo Monumental (entorno do estádio) – ou seja, ali, o automóvel particular irá imperar.
Em Recife estão em construção dois novos BRT e algumas estações de metrô. Natal não possui projetos de melhoria do transporte público.
Cuiabá irá concluir, parcialmente, seu sistema de Veículo Leve Sobre Trilhos (VLT) , apenas após a Copa. Nesse caso, o atraso é irremediável.
A cidade com o pior desempenho é Manaus. Além de não ter qualquer expectativa de utilidade do estádio que construiu, após a copa, o único grande projeto de utilidade para a população da cidade, um sistema articulado de corredores de ônibus e monotrilho, que ligaria pontos importantes da cidade, foi cancelado – tamanha a quantidade de entraves com a liberação das obras.
O melhor desempenho nas obras de mobilidade ocorre em Belo Horizonte. A capital mineira entregará antes da Copa o sistema de BRT e as expansões de vias, e assim ficará com o melhor legado da Copa no campo da mobilidade urbana.
Porto Alegre também poderá conquistar as melhorias projetadas, porém, os responsáveis não garantem a conclusão das obras a tempo da Copa.
A conclusão é que o governo federal, e os governos estaduais e municipais não se dedicaram seriamente na busca de melhorar a mobilidade nas cidades-sede dos jogos. Não houve empenho, comprometimento e responsabilidade quanto a execução das obras e reformas no prazo de conclusão previsto. Sequer houve acuidade nos projetos que, por falta de condições técnicas, foram cancelados.
O país do futebol, com certeza, já “pisou na bola” no que tange aos prazos de conclusão das obras essenciais ao evento da Copa. Porém, no que tange às obras de contrapartida, essenciais à população, o Brasil deu uma tremenda “bola fora”…
* Colaborou Ana Alves Alencar
Fontes:
http://ciclovivo.com.br/noticia/obras-de-mobilidade-urbana-para-copa-sao-canceladas-e-legado-vira-lenda
http://www.portal2014.org.br/noticias/12988/CEM+DIAS+SEM+LEGADO.html
http://www.estadao.com.br/noticias/esportes,custo-das-obras-dos-estadios-da-copa-do-mundo-salta-263-em-seis-anos,1140010,0.htm
Olá,
Somos do Instituto Favelarte (http://favelarte.org.br e
facebook.com/Favelarte ).
Estamos realizando o projeto : “Direito a cidade e Mobilidade urbana. Impacto da Copa de 2014 na região Portuária do Rio de Janeiro”, com apoio do Fundação Fundo Brasil de Direitos Humanos.