Mais do que nunca, precisamos de líderes
Por Antonio Fernando Pinheiro Pedro*
O Brasil vive uma crise estrutural que não será resolvida com assistencialismo ou discursos moderados.
Não é exagero dizer que o Brasil vive uma crise silenciosa, mas profunda. A cada esquina, uma loja fechada. A cada conversa, alguém endividado. A cada boletim, mais juros, mais impostos, mais concentração.
O país está diante de uma bomba-relógio econômica e social, alimentada por endividamento público e privado recorde, inflação reprimida, juros estratosféricos, carga tributária escorchante, concentração econômica, ludopatia epidêmica, e um sistema financeiro que virou as costas para o crédito popular.
Os números não mentem
Festejamos uma redução nos índices de inflação… quando 79,5% das famílias brasileiras encontra-se endividada e 78,8 milhões de pessoas permanecem inadimplentes – com dívida média de R$ 6.267,69 4 …
É preciso sair da bolha para ver os fatos de fato. Senão vejamos:
- A dívida pública já ultrapassa R$ 9,7 trilhões, consumindo 41,6% do orçamento federal.
- A taxa Selic está em 15%, com juros reais de 9,74%, a segunda maior do mundo.
- A carga tributária supera 33% do PIB, mas o retorno social é pífio.
- O varejo e atacado estão cada vez mais concentrados em grandes grupos, sufocando os pequenos.
- A ludopatia virou epidemia: 3 milhões de brasileiros viciados em apostas, muitos usando benefícios sociais para jogar.
- O crédito consignado virou armadilha: 250 mil contratos liberados sem autorização, e instituições suspensas por fraude.
O Endividamento Público e Privado é muito preocupante. A Dívida Bruta do Governo Geral (DBGG), equivale a 78,1% do PIB1. Já o Déficit nominal acumulado, de R$ 1,018 trilhão em 12 meses, consome 8,16% do PIB 1. O resultado é uma crônica escassez de recursos disponíveis para investimento.
O endividamento das famílias, que atingiu 79,5% em outubro de 2025, é o maior índice da série histórica2. Ele não é pontual. Ele é crônico.
Ocorre que 30,5% das famílias brasileiras convivem cronicamente com dívidas em atraso e 13,2% declaram impossibilidade completa de pagar2. O Comprometimento médio da renda com dívidas é de 29,6%. Porém, 19,1% das famílias comprometem mais da metade da sua renda 3.
Comemoramos uma leve redução dos índices inflacionários em direção a uma meta estabelecida pelo governo. No entanto, o processo está baseado numa Inflação Reprimida, controlada á base de Juros Reais Altíssimos.
O sistema financeiro mantém uma Taxa Selic em 15% ao ano, a maior desde 20065. A Taxa real de juros, de 9,74%, é a segunda maior do mundo, atrás apenas da Turquia (17,8%)6.
Mantido o leme do barco próximo à rota, a inflação projetada, de 4,55% para 2025, pode aportar acima da meta de 3%6.
A carga tributária atual é escorchante e regressiva. Ela supera 33% do PIB, similar a países desenvolvidos, mas com baixa contrapartida social7.
A burocracia fiscal exige mais de 1.150 horas por ano do contribuinte, para cumprimento de obrigações, contra 30 horas em países como Hong Kong7.
É certo que a reforma tributária (EC 132/2023), promete simplificação. No entanto, traz embutido alto risco de aumento de impostos e centralização de poder8.
No campo do comércio, o mercado enfrenta alta concentração econômica no varejo e no atacado.
O varejo ampliado movimenta R$ 2,75 trilhões, representando 25,23% do PIB9. Já o setor de atacarejo, dominado por grandes redes, favorecem essas fortes estruturas na mesma proporção em que destrói os pequenos negócios locais, que fecham suas portas10.
O CADE – Conselho Administrativo de Defesa da Economia, informa que gerou impacto de R$ 3,9 bilhões em 2024. Porém, enfrenta críticas por análises superficiais e falta de ação contra monopólios11.
O que vemos é um sistema que não funciona para o cidadão comum.
O setor financeiro lucra como nunca, enquanto o brasileiro médio se afoga em dívidas. O governo não enfrenta os monopólios, não desburocratiza, não regula o crédito abusivo e não combate o crime financeiro com a firmeza necessária.
Em um país cuja parte considerável da população, cerca de 56 milhões de beneficiários, vive da chamada “Bolsa-Família” – de forma a perenizar a pobreza, testemunhamos que os programas sociais ocorrem desprovidos de contrapartida produtiva – desestimulam o mérito, o mercado, a liver iniciativa e geram dependência e perda de autonomia.
Vícios sociológicos e o crédito comprometido
Não é novidade que o Brasil vive uma enorme crise de ludopatia. Uma epidemia silenciosa que afeta 11 milhões de brasileiros – adeptos do uso arriscado do sistema de apostas online12.
Não é uma patologia simples. Os auxílios-doença por ludopatia cresceram 2.300% entre 2023 e 202513. Há 3 milhões de brasileiros já considerados viciados em jogos de azar14 .
Segundo uma pesquisa do Instituto DataSenado, apenas em setembro de 2024, 13% dos brasileiros com mais de 16 anos – o que representa 22,13 milhões de pessoas, declararam ter participado de “bets”, somando 22 milhões de brasileiros que participaram de apostas online só em setembro de 202415.
Não há saúde financeira familiar que conviva com esse fator aleatório.
Outro fenômeno sociológico grave é a busca pelo crédito consignado – verdadeira armadilha para pensionistas e aposentados.
Trata-se de um escãndalo com dimensões criminológicas. Segundo dados oficiais, 250 mil benefícios tiveram margem liberada sem autorização do beneficiário16. O INSS suspendeu 13 instituições financeiras por irregularidades no consignado17, obrigando-as a devolver mais de R$ 7 milhões cobrados indevidamente18.
Afora o crime, há o fato de famílias inteiras estarem, hoje, penduradas na aposentadoria de um idoso – levando-o a comprometer sua renda.
Os bureaus de crédito, preocupados com o fenômeno, desenvolveram ferramentas estratégicas, no entanto limitadas para o enfrentamento ao endividamento crônico.
Vários bureaus monitoram inadimplência e oferecem renegociação. Feirões de negociação, como o Serasa Limpa Nome, já realizaram 9,5 milhões de acordos com descontos de até 99%19. Ainda assim, 80% dos inadimplentes são reincidentes, mostrando que educação financeira e reforma estrutural são essenciais20.
A Solução: Uma Reforma Tríplice e Corajosa
O Brasil precisa de uma reforma tripla, inspirada em líderes que enfrentaram sistemas podres.
Neste século, pudemos ter o Presidente Michel Temer introduzindo importantes reformas no Estado, por um curto espaço de tempo e sob fogo cerrado de um regime instalado no deep state, que tudo fez para retomar o poder em prol da concentração econômica globalista.
Assim, nos falta uma dinâmica política que nos traga líderes com tempo e espaço para fazer o que deve ser feito. Necessitamos do perfil de um Theodore Roosevelt – capaz de quebrar os monopólios, defender a economia popular e proteger o cidadão.
Sentimos uma profunda ausência de escolas econômicas voltadas para a sociedade, não para o culto à ideologia. Instituições voltadas para a cultura da prosperidade, da livre iniciativa e do estímulo ao mercado. Nos falta uma Chicago School – determinada a limpar a burocracia e liberar o mercado.
Neste século, testemunhamos um ensaio liberal no Brasil com Michel Temer – sob forte bombardeio, e num embate desprovido de estratégia, tentado por Bolsonaro.
Devíamos abrir os horizontes para o que hoje ocorre no continente, sair do lamaçal esquerdista para buscar lideranças comprometidas com a prosperidade. Perfis como Donald Trump e Milei nos interessam. Líderes determinados a romper com o politicamente correto, com ortodoxias burocratizantes, dispostos a enfrentar interesses corporativos.
Num país dominado territorialmente e politicamente pela criminalidade, há necessidade de “virar a chave”. Devíamos observar a ação de Bukele em El Salvador – ter firmeza, coragem, iniciativa para combater o crime com inteligência e implacabilidade.
É preciso desconcentrar mercados, reformar o crédito, sanear o Estado, educar financeiramente o cidadão e punir quem explora o povo.
O Brasil precisa de líderes trust-buster, indivíduos capazes de combater os grandes interesses concentradores e demolir os cartéis. É preciso recrutar conselheiros e executivos trouble shooter – pessoas capazes de identificar, analisar e resolver problemas – que eliminem da estrutura do Estado os tipos que sobrevivem criando e se apegando a obstáculos.
Precisamos de gente inteligente e corajosa, que enfrente a jusburocracia de estado escorchante, os oligopólios bancários, os cartéis varejistas e atacadistas. Gente que combata, sobretudo, a criminalidade.
Conclusão: A hora é agora
Corremos contra o tempo… e em direção a um desastre. Os dados estão aí.
O povo está sufocado.
O Estado é dominado por dependentes da meta-burocracia, ideólogos iluminados e oportunistas corruptos.
Boas iniciativas são sistematicamente reprimidas e não há qualquer avanço no planejamento de médio e longo prazo.
O Brasil precisa, portanto, de uma liderança que não tenha medo de enfrentar os interesses que travam o país.
Não é hora de moderação. É hora de coragem, ação e reforma de verdade.
A bomba está prestes a explodir. Os números não mentem. A pergunta é: teremos coragem de desarmá-la?
Nota: referências nos hiperlinks inseridos no texto
Antonio Fernando Pinheiro Pedro é advogado (USP), jornalista e consultor ambiental. Sócio diretor do escritório Pinheiro Pedro Advogados e Diretor da AICA – Agência de Inteligência Corporativa e Ambiental. É membro do Conselho Superior de Estudos Nacionais e Política da FIESP – Federação das Indústrias do Estado de São Paulo, Membro do Centro de Estudos Estratégicos da Iniciativa DEX, Presidente da UNIÁGUA – Associação Universidade da Água e Vice-Presidente da Associação Paulista de Imprensa – API. É Editor-Chefe do Portal Ambiente Legal e responsável pelo blog The Eagle View.
Fonte: The Eagle View
Publicação Ambiente Legal, 13/11/2025
Edição: Ana Alves Alencar
As publicações não expressam necessariamente a opinião dessa revista, mas servem para informação e reflexão.










