Blablablá climatista colide com a realidade dos fatos e a má governança brasileira
Por Antonio Fernando Pinheiro Pedro*
“Para um mau navegador, todo vento é desfavorável.” — Sêneca
Introdução
A COP30, marcada para novembro de 2025 em Belém, deveria ser o momento para o Brasil firmar seu protagonismo na agenda climática global. Porém, os fatos apontam para um provável espetáculo de improviso, contradições e captura ideológica. O governo brasileiro, que pretende mostrar-se guardião da Amazônia, parece não estar conseguindo sequer garantir condições sanitárias e hospedagem digna para os participantes da conferência.O rumo das coisas aponta para a realização de um encontro do blablablá climatista com a dura realidade da má governança “progressista”.
Entre ambição e realidade: o Brasil diante do espelho
A COP30 deveria ser um marco de reposicionamento estratégico — técnico, econômico e geopolítico. Mas o país que se incumbiu de sediá-la parece um barco à deriva num mar geopolítico tempestuoso.Perdido em proselitismos e sinais evidentes de má governança, o governo Lula segue sem rumo, indefinido na sua política ambiental. Corre o risco de naufragar — não por falta de recursos, mas por ausência de estratégia.Segundo o site Fiquem Sabendo, dos 643 encontros governamentais sobre a COP30, 344 contaram com representantes da Casa Civil, 112 com servidores do Ministério do Meio Ambiente ou órgãos vinculados, e Marina Silva participou de apenas 10 reuniões. Lula esteve presente em apenas dois atos de assinatura de compromissos.
Hospedagem extorsiva: o escândalo que escancarou o despreparo
Com hotéis cobrando até US$700 por noite, delegações de países em desenvolvimento ameaçam não comparecer. Imóveis simples em bairros periféricos de Belém são anunciados por até R$1 milhão para os onze dias do evento.A ONU convocou reunião de emergência, e o Brasil prometeu soluções improvisadas: navios-hotel, retrofits de motéis, leitos subsidiados via Airbnb. A falta de planejamento expõe o abismo entre discurso e prática.
Belém: palco simbólico ou vitrine quebrada?
Escolher Belém como sede da COP30 foi uma decisão carregada de simbolismo — e também uma armadilha contra nossa soberania. A cidade enfrenta infraestrutura precária, obras atrasadas, saneamento risível e miséria urbana. A COP, que deveria valorizar o Norte brasileiro, corre o risco de reforçar estigmas e marginalizações.Posto isso, a COP, que deveria valorizar o Norte brasileiro, corre o risco de reforçar estigmas e marginalizações.A saída seria, a nosso ver, reduzir o acesso ao evento, como já foi feito no Egito – concentrando esforços na chamada esfera diplomática, que abrigará as delegações operativas e chefes de estado. No outro ponto, Para que a COP30 represente um verdadeiro reposicionamento estratégico do Brasil — e não apenas um palco para discursos importados — será necessário adotar uma abordagem pragmática, soberana e voltada ao desenvolvimento – despida de enfoques obtusos, como o impedimento de atividades antrópicas no bioma amazônico ou mesmo a exploração mineral e extração de combustíveis fósseis – algo que já ocorre nos países vizinhos, a comecar da Guiana Francesa. O Brasil não vai carregar o andor da “pureza ecológica” sozinho… cercado de “fiéis” patrocinados por interesses inconfessáveis.
Cinco eixos para uma COP com propósito nacional
Para que a COP30 represente um verdadeiro reposicionamento estratégico do Brasil, é necessário adotar uma abordagem pragmática, soberana e voltada ao desenvolvimento. Os cinco eixos propostos são:
1-Foco no Desenvolvimento Econômico
A agenda ambiental deve ser compatível com a segurança operacional dos setores produtivos — energia, transportes, agricultura, mineração e indústria. Para todos os efeitos, o comando dessa política climática precisa estar sob controle direto da Presidência da República, com fiscalização do Congresso Nacional – e nesse sentido, competiria no evento ao próprio presidente Lula direcioná-la, evitando vozes contraditórias às suas costas. A posição deve priorizar a proteção das populações vulneráveis diante de eventos climáticos extremos, deslocando o foco do discurso preservacionista abstrato para uma política concreta de segurança, defesa civil e resiliência.
2-Transição Energética com Protagonismo do Setor Privado
Programas como o PATEN (Programa de Aceleração da Transição Energética), devem ser orientados à inovação e competitividade, atraindo parcerias público-privadas. O novo mercado de carbono (SBCE) , deverá ser anunciado como um atrativo, e para tanto precisa deixar claro que o governo evitará a burocratização excessiva, garantindo sinalizações claras ao setor produtivo. Sem isso, o risco é travar investimentos e afastar capital estratégico.
3-Diplomacia Climática Técnica e Soberana
A organização da COP30 não pode ser capturada por modismos ideológicos. O Brasil deve adotar uma postura técnica e assertiva frente a grandes players como China, EUA, França e Rússia, defendendo seus interesses com base em dados, ciência e estratégia — especialmente no que diz respeito aos recursos da Amazônia.
4-Segurança Energética com Matriz Tradicional
A busca por alternativas sustentáveis deve ser gradual e compatível com os compromissos de autossuficiência. Fontes tradicionais, como petróleo, carvão e gás natural, continuam essenciais para a estabilidade econômica. A exclusão prematura dessas matrizes compromete a soberania energética e nos torna dependentes de tecnologias externas.
5-Gestão Pública Eficiente e Resultados Concretos
É preciso resgatar instrumentos como o Zoneamento Ecológico-Econômico, investir em infraestrutura hídrica e nos modais de logística, adotando um planejamento resiliente. A legitimidade da agenda ambiental depende de sua conexão com a melhoria da qualidade de vida da população e o fortalecimento da economia nacional.
Conclusão
A COP30 não pode ser um ritual de autopunição ambiental. O Brasil precisa assumir sua vocação como potência energética e ambiental com pragmatismo, inteligência institucional e foco no desenvolvimento responsável. Com estratégia, soberania e credibilidade, é possível ainda transformar a COP30 em um marco de reposicionamento global — onde o país deixa de ser espectador submisso e se afirma como autor de sua própria agenda climática e econômica. No que tange aos problemas de governança – que poderão em curto prazo inviabilizar a realização do evento, é hora do governo abrir mão de transformar a COP 30 numa espécie de manifestação ou assembleia de militantes progressistas, de gosto duvidoso e previsível ineficácia, para conferir ao evento um caráter mais reservado, técnico e efetivo. Isso tornará a Conferência compatível com as condições logísticas e de receptividade locais, voltando o foco para o corpo técnico e diplomático de cada país-parte. Ou se faz isso agora… ou teremos mais uma vergonha internacional pela frente.
Notas de Referência
- Fiquem Sabendo – Transparência Pública – Levantamento sobre reuniões da COP30: https://fiquemsabendo.com.br
- Folha de S. Paulo – COP30 em Belém Reportagem sobre custos de hospedagem: https://www1.folha.uol.com.br
- O Globo – Crise de hospedagem na COP30 https://oglobo.globo.com
- UNFCCC – United Nations Climate Change Informações oficiais da COP30: https://unfccc.int
- Ministério de Minas e Energia – PATEN https://www.gov.br/mme
- Ministério da Fazenda – SBCE https://www.gov.br/fazenda
- TotalEnergies – Projetos na América do Sul https://totalenergies.com
- IEA – International Energy Agency https://www.iea.org
- PEDRO, A.F.P e POSSIK, Rafael – “Cop 30: Entre Ambição Climática e Realismo Estratégico”, in Blog “The EagleView” https://www.www.theeagleview.com.br/2025/07/cop30-entre-ambicao-climatica-e.html
- Ministério do Meio Ambiente – ZEE https://www.gov.br/mma
*Antonio Fernando Pinheiro Pedro é advogado (USP), jornalista e consultor ambiental. Exerceu o cargo pioneiro de Secretário Executivo de Mudanças Climáticas do Município de São Paulo, de junho de 2021 a julho de 2023. Sócio fundador do escritório Pinheiro Pedro Advogados, é diretor da AICA – Agência de Inteligência Corporativa e Ambiental. Membro do Instituto dos Advogados Brasileiros – IAB e Vice-Presidente da Associação Paulista de Imprensa – API. Foi o 1o. presidente da Comissão de Meio Ambiente da OAB/SP, presidente da Câmara Técnica de Legislação do CEBDS, presidente do Comitê de Meio Ambiente da AMCHAM, coordenador da equipe encarregada de elaborar o substitutivo do PL, no mandato do Relator – Dep. Mendes Thame, que resultou na Lei de Política Nacional de Mudanças Climáticas, consultor do governo brasileiro, do Banco Mundial, da ONU e vários outros organismos encarregados de aperfeiçoar o arcabouço legal e institucional do Estado no Brasil, integra o Centro de Estudos Estratégicos do Think Tank Iniciativa DEX, é Conselheiro integrante do Conselho Superior de Estudos Nacionais e Política da FIESP, Presidente da Associação Universidade da Água – UNIÁGUA, Editor-Chefe do Portal Ambiente Legal e responsável pelo blog The Eagle View.
Fonte: The Eagle View
Publicação Ambiente Legal, 10/08/2025
Edição: Ana Alves Alencar
As publicações não expressam necessariamente a opinião dessa revista, mas servem para informação e reflexão.