Por Lorenzo Carrasco*
O declínio civilizatório do Ocidente está provocando uma pandemia psiquiátrica. A perda deliberada do sentido de transcendência está produzindo indivíduos com uma profunda “carência afetiva” sistêmica, evidenciada pelo fato de que 15% da população mundial sofrem com síndromes de ansiedade e depressão.
Essa crise existencial pode levar o Ocidente a um virtual suicídio. A insistência em manter a qualquer preço o sistema hegemônico euroatlântico e a bizarra pauta do “cancelamento” da cultura (em vez de cultura do cancelamento), está conduzindo a uma confrontação aberta da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) com a Rússia e a um inerente risco de um confronto nuclear.
Assim, temos um Ocidente “civilizado” sem qualquer noção de transcendência e, portanto, de uma cultura verdadeira, como produto da chamada “contracultura” do último meio século, que exauriu qualquer resíduo positivo do Iluminismo.
Não surpreende, pois, que tenha surgido a especialidade da “epidemiologia psiquiátrica”. Mas como se vacinar contra uma carência de transcendência? Como curar uma civilização que se destrói por dentro ao promover o individualismo e o egoísmo identitário? Não há como prescrever cultura, arte e beleza.
Desde a obsessão pelas tatuagens até as cirurgias de mudança de sexo, que já está contaminando as crianças no mundo ocidental, são sintomas profundos do final de uma época da civilização – em outras palavras, o identitarismo como fase final do Iluminismo.
Agora, inventou-se uma “transidentidade” – sem surpresa, procedente do “desconstrutivismo” filosófico e psiquiátrico francês –, para explicar o “desconforto de identidade”. Na realidade, é mais um intento de resgate do Iluminismo que se afoga na própria crise da civilização.
Temos o dever de acelerar uma mudança para enraizar novamente o ser humano em sua natureza divina, e não que seja caso de psiquiatria coletiva.
Lavrov decreta fim da globalização
A globalização à maneira dos EUA acabou e está cedendo a um novo sistema independente dos caprichos do Ocidente, disse o chanceler russo Sergei Lavrov, no Fórum Primakov em Moscou. O Ocidente, disse, “provou ser totalmente indigno de confiança, pouco confiável e mentiroso”.
“A globalização à americana acabou. Alguns processos residuais terão de perdurar, mas paralelamente está sendo construído um novo sistema financeiro e logístico, que não deve depender dos caprichos e do sentimento de superioridade dos nossos antigos parceiros ocidentais”, afirmou Lavrov.
Segundo ele, a expansão da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) continua sendo o principal motor do Ocidente nas relações não só com a Rússia, mas também com outros países do mundo.
“O conflito na Ucrânia começou com o golpe [da Praça] Maidan em Kiev, em 2014. Desde então, os EUA e seus vassalos ocidentais têm armado a Ucrânia e a preparado sistematicamente para confrontar a Rússia. Assim, a Ucrânia se tornou de fato, se não de direito, um membro da OTAN”, disse ele.
Rattan Lal: agricultura brasileira é história de sucesso
Passou quase despercebida na conferência climática COP-27 a visita ao estande oficial do Brasil no evento a visita do agrônomo Rattan Lal, um dos mais renomados cientistas do mundo na área de solos e alimentos.
Nascido em 1944 em Punjab, hoje no Paquistão, Lal é professor de Ciências do Solo e diretor do Centro de Gerenciamento e Sequestro de Carbono da Universidade Estadual de Ohio, EUA, já trabalhou como pesquisador e professor na Nigéria e na Austrália e é conhecido pelas pesquisas em gerenciamento sustentável de solos para a segurança alimentícia e a mitigação de mudanças climáticas.
Do alto do seu vasto currículo, ele só tem elogios para a agricultura brasileira, tendo visitado o país em várias ocasiões desde 1975:
Posso dizer que o processo de conservação na agricultura brasileira foi feito de uma maneira muito apropriada. Testemunhei um milagre acontecendo no Brasil devido à excelência na ciência, à transformação da ciência em realidade e às boas políticas. A ciência brasileira e suas informações são muito boas. Tenho muito orgulho, porque muitos dos meus estudantes são brasileiros (Agência Brasil, 16/11/2022).
Para ele, “o exemplo da agricultura brasileira é uma história de sucesso”.
Em sua avaliação, o Brasil ocupa lugar de destaque na produção de alimentos, com alto nível científico nas questões de uso do solo e conhecimento aplicado à agricultura, o que, segundo ele, deveria ser compartilhado com a África:
A revolução verde ainda não aconteceu lá e as colheitas são muito baixas. Se conseguirmos essa cooperação entre Brasil e os países da África Subsaariana, isso iria trazer uma revolução para a agricultura africana. Eles têm recursos naturais no que diz respeito à terra, água, chuva, clima e ecossistema. É só uma questão de vontade política para traduzir ciência em ação. Eu acho que o Brasil pode ajudar com essas políticas na África.
Lal é detentor dos principais prêmios em sua área, como o Borlaug Award (2005), Von Liebig Award (2006), Glinka World Soil Prize (2018), Japan Prize (2019), Arrell Global Food Inovation Award e World Food Prize (2020) e Padma Shree Award (2021), entre outros (a nota da Agência Brasil o cita erroneamente como detentor do Prêmio Nobel da Paz de 2007).
Defecção do Vanguard é duro golpe na agenda ESG
A badalada agenda ESG (Ambiental, Social e Governança) recebeu um duro golpe com o anúncio do fundo de gestão de ativos Vanguard Group, o segundo maior do mundo, de sua saída da Net Zero Asset Managers (NZAM), aliança de investidores internacionais criada em 2020 para promover a meta do “carbono zero líquido” até 2050.
A nota divulgada pelo grupo em 7 de dezembro afirma:
Nós decidimos retirar-nos da NZAM, para que possamos proporcionar a claridade que os nossos investidores desejam sobre o papel dos fundos de índices [ou índex funds, fundos que seguem algum índice como o S&P 500, DJ Wilshire 5000 etc. – n.e.] e sobre como pensamos a respeito dos riscos materiais, incluindo riscos relacionados ao clima… Tais iniciativas da indústria podem promover um diálogo construtivo, mas às vezes elas também podem resultar em confusão sobre as visões de firmas de investimentos individuais. Este tem sido o caso nesse exemplo, particularmente, com relação à aplicabilidade das abordagens [de carbono] zero líquido aos fundos de índices favorecidos por muitos investidores do Vanguard (Market Watch, 08/12/2022).
À guisa de compensação, o texto afirma que a decisão “não afetará o nosso compromisso em ajudar os nossos investidores a navegar os riscos que a mudança climática possa representar para os seus retornos de longo prazo”.
Trocando em miúdos: apesar desse compromisso, a decisão sugere que os investidores do Vanguard (que administra ativos de US$ 8 trilhões) perderam a confiança na vinculação de investimentos à agenda do “carbono zero líquido”, pilar central da tríade ESG, que também vem sendo crescentemente contestada.
A decepção do aparato “descarbonizador” foi manifestada por uma das suas estrelas principais, o ex-vice-presidente estadunidense Al Gore, ele próprio presidente da Generation Investiment Management, uma das maiores empresas de investimentos “sustentáveis” do mundo. Em entrevista à agência Bloomberg (08/12/2022), ele qualificou a decisão do Vanguard de “extremamente decepcionante… irresponsável e míope”.
Segundo o sítio Market Watch, grupos ambientalistas atribuem a defecção do Vanguard a um crescente sentimento contrário às pautas “politicamente corretas” (ou “anti-woke”, como têm sido chamadas nos EUA), de acordo com o qual os retornos dos investidores têm sido prejudicados pela ênfase nas energias “renováveis”.
Tais questionamentos receberam um destaque especial na revista The Economist de 22 de julho último. Seguramente, não escapou aos investidores e gestores do Vanguard Group a conclusão-síntese do texto (ver Alerta Científico e Ambiental, 18/08/2022):
“A popularidade do conceito tem sido parcialmente alimentada por preocupações do mundo real, especialmente a mudança climática. Porém, ele tem tido um impacto desprezível nas emissões de carbono, especialmente pelos maiores poluidores. A sua tentativa de abordar questões sociais, como a diversidade no local de trabalho, é difícil de ser medida. Quanto à governança, a indústria ESG faz um trabalho frouxo de prestação de contas, menos ainda das companhias que supostamente estaria administrando. Ela faz promessas desmesuradas aos investidores. E coloca exigências inadministráveis às companhias.”
*Lorenzo Carrasco – jornalista, editor efundador presidente do MSIa – Movimento de Solidariedade Ibero-americana, foi jornalista correspondente da revista Executive Intelligence Review (EIR). Fundador e diretor da revista Fusión Nuclear. Fundador e membro do conselho editorial da revista Benengeli. Membro fundador do Instituto Schiller.
MSIa Informa é uma publicação do Movimento de Solidariedade Ibero-americana (MSIa). Conselho editorial: Lorenzo Carrasco (presidente), Angel Palacios, Anno Hellenbroich, Elisabeth Hellenbroich, Geraldo Luís Lino, Paolo Raimondi e Silvia Palacios. Traduções: Luis Nava. Assinaturas: Capax Dei Editora Ltda., Rua México, 31, s. 202 – CEP 20031-144 – Rio de Janeiro (RJ); Telefax 0xx21-2510-3656; Correio eletrônico: contato@msiainforma.org.
Fonte: O autor/ MSIa Informa
Publicação Ambiente Legal, 16/12/2022
Edição: Ana Alves Alencar
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