rio Amazonas tem mais de 9 milhões de anos. Até então se pensava que rio tinha entre 1,5 e 2,5 milhões de anos.
Por Antonio Fernando Pinheiro Pedro
Um grupo de pesquisadores da Universidade de Brasília, em parceria com cientistas da Universidade de Amsterdã, demonstrou cientificamente que o rio Amazonas é oito milhões de anos mais velho do que se pensava. A constatação se deu com base na análise dos sedimentos encontrados no rio.
O estudo ‘The Amazon at sea: Onset and stages of the Amazon River from a marine record, with special reference to Neogene plant turnover in the drainage basin‘ (‘A Amazônia no mar: Início e fases do Rio Amazonas a partir de um registro marítimo, com destaque para a renovação da planta Neogene na bacia de drenagem’, em tradução livre) foi publicado em março de 2017 pela revista Global and Planetary Change.
O resultado é de uma análise geoquímica e de palinologia da maior bacia hidrográfica do mundo. “Conclui-se que o início do Rio Amazonas está associado ao tectonismo neogênico andino e que os desenvolvimentos subsequentes, tanto do rio como da biota, estão intimamente ligados às flutuações climáticas do Plio-Pleistoceno”, informa o resumo.
Mais velho, mas ainda novo…
O estudo mostrou que formação dos Andes determinou ‘nascimento’ do Amazonas e a maioria dos sedimentos analisados se origina do Mioceno tardio, período que vai de 10 a 5 milhões de anos atrás.
As pesquisas anteriores informavam que o Amazonas tinha entre 1,5 milhão de anos e 2,5 milhões de anos. De acordo com o professor e geólogo da UnB Roberto Ventura, o Amazonas já existia, mas era pequeno e não chegava a se encontrar com o oceano.
A idade de 9 a 9,4 milhões é contada a partir da expansão do rio para o Atlântico, formando o Amazonas que conhecemos hoje.
“Na verdade, há 9 milhões de anos o Amazonas era um lago que corria pelo norte, foi nessa época que ocorreu a transcontinentalização do rio”, informou Ventura.
Para o professor, a descoberta é importante para entender o processo de evolução do rio nesses últimos nove milhões de anos e projetar uma tendência para o futuro. “Estão ocorrendo várias secas no Amazonas, seguidas de períodos de cheias em tempos não previstos. E nós não vamos conseguir entender esses fenômenos olhando apenas para o tempo presente”.
Estudo confirma teses anteriores
O rio, o maior do mundo, com 7 mil quilômetros (km) de extensão e 20 km de largura na altura de Manaus, havia sido avaliado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, com base em fósseis de peixes, como tendo formação mais recente, de 2,5 milhões de anos. Os cientistas entendiam que havia um esboço do rio Amazonas na época, que corria para oeste e desaguava em uma área hoje árida do Caribe Porém, em 2014, em Pesquisa Fapesp nº 216, um geofísico paulista levantou nova possível explicação para a formação do rio e da bacia Amazônica, sugerindo que suas águas já fluíam para leste há muito mais tempo, há cerca de 10 milhões de anos.
De acordo com essa proposta, obtida por meio de uma simulação matemática da evolução do terreno e do depósito de sedimentos na região, o rio Amazonas teria tomado seu sentido atual, de oeste para leste, não só em consequência de alterações no interior do continente, que desencadearam um soerguimento da porção oeste da Amazônia, mas também como resultado da movimentação da própria superfície terrestre. Um “violento” movimento de placas tectônicas que provocou o levantamento dos Andes e um aumento na erosão das cordilheiras andinas pelas intempéries. criando o declive que se estende dos Andes à Ilha de Marajó e por onde hoje escorre um quinto das águas fluviais do planeta.
“Mostrei que a própria dinâmica da erosão e sedimentação teria sido capaz de modificar a drenagem da região”, afirma o geofísico Victor Sacek, professor da Universidade de São Paulo (USP), autor da hipótese, detalhada em um artigo publicado on-line em julho de 2014, na revista Earth and Planetary Science Letters. Suas conclusões convergiam com as do geólogo Paulo Roberto Martini, cuja equipe estabeleceu em 2008 o rio Amazonas como o mais extenso do mundo (Pesquisa Fapesp nº 150).
“A rapidez com que os Andes crescem e a erosão que o Amazonas provoca na cordilheira são monumentais”, diz Martini. “O rio transporta para o mar o equivalente a mais de um Pão de Açúcar inteiro de sedimentos por mês.”
Para entender essa hipótese, é preciso rever a evolução da paisagem na região. Há 24 milhões de anos, no início do período geológico conhecido como Mioceno, as nascentes dos rios do norte da América do Sul não ficavam nos Andes, como hoje, mas em relevos bem menos expressivos a oeste, que dividiam as águas da região em duas bacias hidrográficas distintas. A leste do divisor de águas, os rios desciam em direção à atual foz do Amazonas. A oeste, os rios seguiam na direção oposta, rumo a bacias aos pés dos Andes, e alimentavam imensos lagos e pântanos, que formavam uma área alagada 20 vezes maior que o atual pantanal mato-grossense, conhecido como Sistema Pebas.
No mesmo período de estudos, na primeira década deste século, a geóloga Carina Hoorn, da Universidade de Amsterdã, Holanda, com base em rochas e fósseis colhidos à margem de rios, argumentou que as bacias separadas pelo Arco Purus teriam começado a se fundir há 16 milhões de anos. Desse modo, o rio Amazonas e sua bacia teriam ganho sua extensão atual durante os 6 milhões de anos seguintes, quando a inclinação do relevo do norte do continente fez a água dos lagos entre os Andes e o Arco Purus começar a fluir por rios preferencialmente para leste.
A equipe do geólogo Jorge de Jesus Figueiredo, da Petrobras, depois de coletar e analisar amostras de rochas em poços de sondagem no fundo do mar próximo à foz do Amazonas, chegou a conclusões que reforçaram a hipótese de Carina.
Agora, no estudo publicado em 2017, a demonstração vem à luz.
Chuvas no Centro Oeste
O estudo, por outro lado, reforçou uma questão relevante, especificamente para Brasília: o Amazonas determina o regime de chuvas no Distrito Federal.
“A chuva durante nosso verão em Brasília vem da Amazônia”, explicou o professor Ventura explicou, e essa barreira criada é fundamental para a frequência de chuvas no centro-oeste do país. Por isso entender os fenômenos naquela região, pode contribuir para determinar também as condições climáticas no Distrito Federal.
“A partir do momento que os Andes já estão formados e o rio Amazonas também, foi criada uma grande barreira. Os Andes impedem que a massa de ar úmida vá para o Pacífico, então ela volta e se distribui para o Brasil central.
Entender os fenômenos de lá, significa também projetar o que pode acontecer aqui”.
Ventura explicou que, para a geologia o rio ainda é “jovem”. As mudanças são “recentes’, mas transformaram totalmente a paisagem na região. De acordo com o resultado da pesquisa, a floresta de planície que atualmente é vista na Amazônia, começou a se formar há nove milhões de anos com a expansão do rio e com as mudanças tectônicas dos Andes.
Os Andes também são novos, “começaram a se levantar e empurraram o Amazonas pelo continente fazendo com que ele carregasse sedimentos da cordilheira por toda a região, mudando a vegetação e a biodiversidade local.”
Fonte:
Graziele Frederico (G1 DF) Globo Natureza = Rio Amazonas tem mais de 9 milhões de anos
Igor Zolnerkevic (Revista Fapesp) O Passado Remoto de Um Grande Rio