Por José Roberto Faria Lima*
Tecnologia é aplicação sistemática de conhecimento científico… Um instrumento, nada além disso.
Lady Byron, Ada Lovelace, foi quem melhor definiu a máquina analítica de Charles Babbage – o primeiro “computador”: ele só sabe fazer aquilo que nós soubermos mandá-lo fazer.
É uma máquina oligofrênica.
Lovelace foi uma matemática e escritora inglesa que teve a empatia para perceber que o software iria dominar o hardware. Uma figura de imagem que define a dualidade que constitui a informática.
Sim, em matéria de TI, o software é fundamental. O hardware só desperta com um algoritmo imantado de inteligência humana.
Muitos anos foram necessários para que o invento de Babbage virasse inovação. Hibernou por décadas. As guerras foram elementos catalisadores. As disputas geo-politicas também.
Sou da era pré-histórica dessas engenhocas. Um dinossauro da informática quando ainda eram chamados de cérebros eletrônicos.
Sai da Universidade direto para a IBM. Antes de continuar, vale a pena recordar a ação dos empreendedores do setor.
Thomás Watson criou a IBM inspirando-se na NCR (national cash register). A NCR investia muito na estrutura de treinamento de seus funcionários, era o segredo de seu sucesso e perdura até hoje. Seus produtos eram projetados para atender às necessidades indentificadas no mercado. Watson decidiu competir com produtos semelhantes, máquinas contábeis.
Computador era um segmento pouco atrativo e restrito que seria atendido por não mais que uma dezena de unidades, sete para ser preciso. A IBM acreditava inclusive que o mercado já estava saturado e ocupado.
Computadores eram máquinas gigantescas que exigiam condições especiais e dificilmente iriam atrair consumidores fora de setores do governo, e quase todos da área de segurança nacional .
A dinâmica da economia pós guerra entretanto, passou a demandar equipamentos por parte de empresas para atender ao fluxo crescente de dados a serem processados.
A IBM percebeu e passou a se interessar por ocupar esse segmento. Com um hardware resistente, uma ampla cadeia de fornecedores e software inovadores, entrou para ser o número um do mercado.
Tinha concluído, após analizar o ciclo de vida de grandes corporações, que o fundamental era definir de forma insofismável seu Core Business – seu foco primordial – INFORMAÇÃO (afinal informação é, ou melhor, sempre foi PODER).
Navegou tranquilo por muitos anos. Sua marca era imbatível.
Um case ou uma saga digna de destaque: não acreditar no mercado, despertar, consolidar sua liderança no setor e conquistar o mundo .
Sorte e oportunidade juntos garantiram o Good Will e o sucesso da big blue.
Motivava e treinava seu corpo de vendas para ser o agente da inovação. Treinava também seus usuários para tirar o máximo proveito de seus equipamentos. Gerenciava a obsolescência programada de seus sistemas. Investia nos softwares básicos, sistema operacional e em aplicativos, no arquivamento e recuperação de dados e comunicação. Enfim, transpirava competência.
Até que um grupo de jovens sonhou diferente e “inventara” o micro computador.
A IBM sentiu o novo momento do mercado e rapidamente tentou se adaptar, mas a sagacidade do inventor do Windows passou a gigante do setor. Durante algum tempo tentou ser um player nesse setor mas desistiu.
Investir em sistemas quânticos, integração, mobilidade, big data, redes neurais, IOT, robótica, criptografia e complexos sistemas de gerenciamento de dados tem recuperado sua imagem.
Hoje vivemos extasiados com a tecnologia digital.
Já vivemos outros momentos de deslumbramento: quando descobrimos o fogo e deixamos de comer os restos das hienas e subimos muitos degraus na escala alimentar; quando “inventamos” a roda; quando dominamos as técnicas para produzir ferro; quando pisamos em todos os continentes; quando dominamos a máquina de Fulton; quando aprendemos a voar. Enfim, a cada conquista importante ficamos embriagados e pensamos termos suplantado o Criador.
Ao chegar ao espaço conquistando a lua e viajando pela Via Láctea, acreditamos ser imortais, vencedores das grandes batalhas contra a fome, pragas, guerras e conquistamos nossa condição de divindade. Na verdade ainda estamos na caverna .
Um inexpressivo vírus, que nem vida possui, nos evidenciou nossa verdadeira condição…
Voltando à tecnologia e ao profundo debate, inclusive semântico em relação a inteligência artificial ou aumentada, cabe apenas destacar que a intuição, a criatividade humana são o caminho para enfrentarmos a realidade.
A tecnologia quanto mais se desenvolve mais fica frágil.
Stanley Kubrick que, dizem, fora contratado pela NASA para projetar o amanhã e impor a verdade que devemos acreditar ao criar o HAL (uma letra a menos que IBM), o submetia às Leis da Robótica:
1ª Lei – Um robô não pode ferir um ser humano ou, por inação, permitir que um ser humano sofra algum mal.
2ª Lei – Um robô deve obedecer às ordens que lhe sejam dadas por seres humanos, exceto quando tais ordens entrem em conflito com a 1ª Lei.
Kubrick esqueceu do imponderável: a rebelião do vírus. A aparente revolta de Gaia.
Finalizando, não devemos jamais esquecer o Sexta-Feira que pode existir dentro de cada um. Mesmo no paraíso ou em Pindorama ele se faz necessário para o day after, para o recomeço.
Conhecimento não gera sabedoria. No popular, uma carroça cheia de livros não faz do jegue um intelectual.
*José RobertoFaria Lima – Economista, professor, oficial da Aeronáutica e deputado federal por São Paulode 1971 a 1979.
Fonte: o próprio autor
Publicação Ambiente Legal, 05/02/2021
Edição: Ana A. Alencar
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