É PRECISO DEBATER A DESCRIMINALIZAÇÃO DA MACONHA SEM TABUS
Por Leandro dos Santos Souza
A fumaça proveniente do Uruguai e dos Estados Unidos se abate sobre o Brasil trazendo para cá o tema ‘maconha’.
Essa fumaça, vagarosamente, abre mentes sem deixar olhinhos vermelhos.
Em meio à fumaça se esvanecem preconceitos arraigados e retrógrados. Germina alguma inteligência na desumana e ilógica ‘Guerra Mundial Contra as Drogas’.
A racionalidade de outros países emerge no debate político sobre as drogas. A legalização da Cannabis, derruba argumentos e falsas verdades. É algo como ultrapassar velhos tabus contidos em frases como “não se deve comer manga com leite”, “tomar banho ou ficar em frente ao espelho depois de se alimentar”.
O primeiro registro histórico sobre usos da planta popularmente, indigenamente e mundialmente conhecida como maconha, cânhamo, dirijo (indígena.), déga (indígena.), joint, marijuana, verdinha, green, riffer, erva, the herbalife e diaba, está anotado em um livro chinês de farmacologia escrito 2.730 anos antes de Cristo.
A Cannabis sativa, indica e ruderalis eram usadas pelos inventores da pólvora e da bússola no combate ao reumatismo, picadas de aranha e escorpião, problemas no sistema nervoso, insônia, para cicatrizar feridas e eliminar infecções na pele.
Cabral aportou com sua frota em Porto Seguro porque as velas de suas embarcações eram produzidas a partir do cânhamo. Napoleão tentou derrotar a marinha britânica interceptando navios russos que levavam fibras de tecidos canábicos, que supriam as naus bretãs. George Washington e Thomas Jefferson, dois dos fundadores dos Estados Unidos, possuíam plantações de maconha em suas fazendas.
O cânhamo já foi moeda de troca e se podia pagar impostos com ele. Muitas religiões usavam e usam a erva durante seus rituais. Até Henry Ford já utilizou o produto do cânhamo em seus carros!
Ou seja, a maconha não foi inventada pelo homem em um de seus processos industriais modernos, mas existe e sempre existiu para supri-lo, assim como a papoula, o cogumelo, o lírio, ahuasca, cana-de-açúcar, mandioca, arroz, a uva e outras centenas de milhares de plantas.
Manter na clandestinidade, tornar tabu ou criminalizar o assunto sobre uso e liberação das drogas, impossibilita um debate rico, sem máscaras, abrangente, lúcido, sobre os costumes, tira o foco sobre o uso do tabu como fomento para a atividade criminosa e a corrupção e limita a questão ao ‘pode-não-pode usar esse tipo de substância’ – dilema encrustado em milhões de mentes.
Essas limitações nos impede de constatar o uso da Cannabis sativa e suas derivadas indica e ruderalis, como matéria-prima consagrada para fabricação de óleos, roupas, sapatos, papel, alimentos, fraldas, remédios para insônia, contra vômitos, TPM, esclerose múltipla, glaucoma, males pós sessões quimioterápicas e ansiedade.
Tornar obscuro esse tipo de diálogo nos impede de enxergar as verdadeiras raízes do narcotráfico e de erradicá-lo. Nos afoga na ignorância histórica e não permite visualizar que a Cannabis pode ser uma alternativa ecológica à fabricação de pelo menos 25 mil produtos e serviços, arrecadadores de impostos e geradores de milhares de empregos lícitos diretos e indiretos.
Não dialogar com a sociedade sobre a vigente política contra as drogas, é fazer acreditá-la em Papai Noel, Coelhinho da Páscoa e na Loira do Banheiro.
Portanto, não conversar com a Nação sobre a eficácia da ilegalidade das drogas e as externalidades negativas acarretadas pelas proibições, é a mesma coisa que relegá-la a uma guerra civil entre facções que se alimentam justamente da ilegalidade.
*Leandro dos Santos Souza é Gestor Ambiental, formado pela FMU, é Administrador de Parques na Secretaria do Verde e do Meio Ambiente do Município de São Paulo