Papai Noel de Silvio Santos revelou uma saco repleto de verdades que doem…
![Senor Abravanel e sua filha, Patrícia. Sinceridade que dói e contemporização.](https://www.ambientelegal.com.br/wp-content/uploads/silvio-santos-em-festa-do-sbt-1_309772_36.jpg)
Por Antonio Fernando Pinheiro Pedro
Ao comparecer de surpresa na festa de fim de ano do grupo Silvio Santos, o fundador, Senor Abravanel, do alto dos seus 87 anos, dirigiu-se a todos com a sinceridade que lhe é peculiar.
Senor confessou não sentir mais o tamanho de seu negócio ou identificar sua anatomia. Não conhecer seus funcionários e nem saber o que fazem.
O discurso é uma lição do estado da arte de nossa economia.
Concentração de Renda, Concentração Econômica
A confissão de Silvio expressou a impressionante concentração econômica ocorrente no Brasil.
Ao deixar claro que o grupo “anda sozinho” e vai se estendendo economia afora, de forma tentacular, Senor Abravanel refletiu o que hoje ocorre em toda a economia nacional: os grandes fagocitam todos os pequenos e cartelizam a economia.
É um circulo vicioso e perverso. Quem tem muito, continuará a concentrar cada vez mais, enquanto quem tem menos, menos ainda terá.
Vivemos num regime que concentra 90% da renda nacional em menos de 10% de seus cidadãos, sendo 28% da renda nacional concentrada em apenas 1% – a maior concentração econômica do mundo. Esse mesmo regime reserva quase todo o PIB à burocracia de Estado e grandes grupos econômicos – amparados por meia dúzia de bancos.
A desproporção não guarda nenhum mérito. Mais de 70% dos empregos do país não vem desse clube de privilegiados, mas, sim, das microempresas, dos pequenos empreendimentos, formais e informais, cujo período de vida costuma ser pequeno, pois os pequenos empresários terminam afogados pela fiscalização, pela dívida fiscal e pelos juros bancários.
Carga tributária e prejuízo
Essa disfunção criminosa, no entanto, não livra os elefantes brancos cartelizados do desastre econômico. Silvio afirmou o que todos os que buscam empreender sentem na pele. Mesmo em “crescimento”, o grupo SS amargou 400 milhões de reais de prejuízo. Como, aliás, toda a economia.
Em verdade, só não amargaram prejuízos os altos funcionários da administração pública e os bancos.
Silvio, assim, sem pretender fazê-lo, traçou o retrato frio do regime parasitário instalado no país. Com uma dívida pública impagável, juros bancários extorsivos e um regime fiscal homicida.
Fulanização do emprego e desconexão com o empregador
O fundador fez questão de mostrar seu ceticismo quanto à satisfação dos funcionários ou à declarada lealdade deles ao grupo.
Informou, ao final de sua fala, não ser prazeiroso de forma alguma demitir gente às centenas e aparecer na festa sem conhecer quase ninguém dentre os “sobreviventes”.
Silvio Santos revelou ainda que seus funcionários são contratados por outros funcionários, todos eles sem qualquer contato com ele.
O evidente desprezo para com a pessoa de cada um dos funcionários tornou-se evidente. E foi difícil contornar o mal estar. No entanto, Silvio expôs a dura e inconveniente verdade das relações de trabalho atuais, em todo o Brasil: a fulanização do emprego.
A fulanização despersonaliza todas as atividades, de modo a não mais importar o que um funcionário fez à companhia, ou o que a companhia fez ao funcionário – ambos não mais se identificam e o legado de um não esquenta espaço na memória do outro.
A destruição dos quadros de carreira das empresas e a desconexão do compromisso individual do funcionário com a missão, razão e princípios do empregador, tornou-se evidente.
O desafio da razão e os autoiludidos
Senor Abravanel mostrou o choque entre a figura romântica do empresário no mundo de oportunidades de décadas passadas e o lixo concentrador, despersonalizado e voraz que nos consome, hoje.
Esse mundo sem futuro torna incerto até mesmo o passado… e está prestes a colapsar.
Só não enxerga isso o beneficiário da miséria alheia, drogado pelas benesses, o burocrata imbecil, condenado a arrecadar e o banqueiro psicopata (pleonasmo). Não que sejam cegos…mas porque não se importam com o naufrágio. Vivem na ilusão delirante de que garantiram reserva em algum bote salva-vidas… São mesmo idiotas e homicidas perigosos.
Enfim…como deixou claro Silvio Santos. Confraternizar e desejar prosperidade e paz, tornou-se mesmo uma hipocrisia…
Segue o vídeo com a palavra de Silvio Santos:
Artigo originalmente publicado em The Eagle View
Antonio Fernando Pinheiro Pedro é advogado (USP), jornalista e consultor ambiental. Sócio diretor do escritório Pinheiro Pedro Advogados. Integrante do Green Economy Task Force da Câmara de Comércio Internacional, membro do Instituto dos Advogados Brasileiros – IAB e Vice-Presidente da Associação Paulista de Imprensa – API. É Editor-Chefe do Portal Ambiente Legal e responsável pelo blog The Eagle View.