Noh Mul, construída há 2.300 anos, é transformada em cascalho para estrada
Por Danielle Denny
![Apenas a parte central da pirâmide (foto) resiste em pé. (Foto: Jules Vasquez/ Portal Past Horizons)](https://www.ambientelegal.com.br/wp-content/uploads/piramide_foto_mini.jpg)
Uma pirâmide maia, denominada Noh Mul (grande colina, no dialeto maia), localizada em Orange Walk, distrito ao norte de Belize, país da América Central que faz divisa com o México, foi destruída para que a rocha fosse utilizada como cascalho na estrada antes dela ser pavimentada.
Segundo a mídia local, apenas a parte central da pirâmide, construída entre os anos 500 e 250 a.C, ficou de pé. A construção integra o sítio arqueológico de Noh Mul, composto por por 81 prédios separados. Segundo historiadores, a localização do sítio às margens do rio Hondo, um dos principais rios de Belize, indica que o local era um entreposto comercial estratégico.
A característica dos prédios que compõem o sítio arqueológico lembram as ruínas de Chichén Itzá, no sul do México. As construções de Belize, feitas posteriormente, reforçam a teoria de que pessoas vindas da Península Yucatán se estabeleceram na região onde até recentemente se situava Noh Mul.
Desde que foi descoberto no final do século XIX, o sítio vem sofrendo com um processo de destruição que teve forte impulso na década de 1940, quando empreiteiros começaram a dilapidar os monumentos para a realização de empreendimentos privados.
Após duas investigações mais aprofundadas realizadas em décadas seguintes, levaram arqueólogos a liderarem uma campanha para a preservação e transformação do local em pólo turístico, ainda nos anos 1980. A iniciativa não foi adiante, principalmente pelo fato de todos os monumentos se situarem em áreas privadas. A própria pirâmide estava dentro de um canavial.
Noh Mul foi destruída por uma retroescavadeira da construtora D-Mar Construction, que pertence a Denny Grijalva, empreteiro e político que evita falar com a imprensa desde então. De acordo com o diretor do Instituto de Arqueologia de Belize, Jamie Awe, a D-Mar e o dono do canavial serão processados.
Pela legislação local, os responsáveis podem ser condenados a até 10 anos de prisão e a pagar multa. Contudo, essas sanções parecem ineficazes para coibir os crimes e infelizmente tal prática são recorrentes no país. Em 1976 o mesmo templo já tinha tido 20% demolido para uso do cascalho em novas construções.
Os sítios arqueológicos constituem bens de interesse histórico de toda a humanidade e precisam ser preservados. O estudo sistemático das ruínas das antigas civilizações é atividade que se transfere de geração a geração e não pode ser interrompido.
Pela Declaração de Caracas de 1992, “o Patrimônio Cultural de uma nação, de uma região ou de uma comunidade é composto de todas as expressões materiais e espirituais que lhe constituem, incluindo o meio ambiente natural”.
Assim, o que aconteceu em Belize teve impacto global na medida em que toda a humanidade deixou de ter esse patrimônio cultural que lhe permitia conhecer melhor a civilização maia.
Uma grande perda para o meio ambiente e para a história e, o que é pior, para atender aos mais mesquinhos interesses econômicos de uma empreiteira de obras.