O Poder Público sufocou até a morte o centenário jornal paulista…
Por Luiz Eduardo Pesce de Arruda*
Hoje é um dia de luto para a imprensa brasileira.
Após lenta agonia, chega ao fim a caminhada da Tribuna do Povo, mais antigo jornal de minha cidade de Araras e um dos mais antigos do país em atividade contínua.
A morte da Tribuna foi apressada pelo poder público, que lhe retirou anúncios e editais, para condená-la a morrer à míngua, transferindo suas publicações para veículos mais dóceis.
Essa caminhada, que o jornalista Pedro do Carmo iniciou em 1892, espelhou Araras e o Brasil por quase um século e meio. A imigração, Canudos, o PRP*, a gripe espanhola, duas guerras mundiais, tudo está lá. As mudanças da sociedade também, refletindo o tempo em que Santos era tão distante que a Tribuna anunciava que os nubentes “seguiriam em lua de mel para a orla”, na linguagem de época.
A coligação ararense, a fundação da Nestlé Brasil, a visita de Villa-Lobos, de Elizabeth II e da Rainha Silvia à cidade, tudo foi registrado pela pena atenta de gerações de jornalistas.
Quando um jornal combativo e ético encerra suas atividades, antes que o negocio se torne inviável, a democracia morre um pouco também. Chora a cidade, chora o Brasil, chora o mundo livre.
Só os maus gestores riem e comemoram, porque é um fiscal independente a menos para denunciar seus maus feitos, as maracutaias, o nepotismo e a corrupção endêmica que estão devorando e inviabilizando nosso amado Brasil.
E quem está preocupado com um jornal provecto que cerra as portas? Quem está preocupado com os impostos escorchantes que sufocam a pequena empresa? Que auxílio fiscal ou trabalhista lhe oferece o governo para que siga em frente e não mande pro olho da rua 25 mães e pais de família?
Como toda micro e pequena empresa, que não tem amigos poderosos no governo ou recursos para especular no mercado financeiro, o pequeno jornal viu-se sozinho à própria sorte.
Ninguém se indignou, ninguém se mobilizou.
Quando a Tribuna do Povo morre sufocada, Cipriano Barata é novamente encarcerado, Hypólito José da Costa foge para o exílio para não ser morto pelos déspotas, a Malagueta é destruída e Augusto May moído de pancadas. Aparício Torelli é espancado e o Estadão invadido pelo Estado Novo. Herzog é novamente enforcado.
Sobra o consolo de Líbero Badaró agonizante: “Morre um liberal, mas não morre a liberdade!”
Tribuna: até o dia de sua ressurreição gloriosa!
Nota:
*Partido Republicano Paulista
*Luiz Eduardo Pesce de Arruda é ararense e Coronel da Polícia Militar do Estado de São Paulo. Publicitário e bacharel em direito, professor universitário, pesquisador da historia paulista, tem cinco livros publicados e 16 canções policiais militares compostas. Autor da música do Hino do TJ e da Escola Paulista da Magistratura, em parceria com Paulo Bonfim.