Bahia foi o estado com maior área desmatada, seguido por Minas Gerais e Paraná
Um total de 21.302 hectares de floresta foi desmatado na Mata Atlântica no primeiro semestre de 2022, destruição comparável à área de 117 campos de futebol por dia e correspondente à emissão de mais de 10,2 milhões de toneladas de CO2 equivalentes – medida utilizada para calcular as emissões de gases de efeito estufa.
Os dados são do terceiro boletim do SAD (Sistema de Alertas de Desmatamento) Mata Atlântica consolidado no MapBiomas Alerta. Lançado em fevereiro deste ano, o sistema tem como papel monitorar e difundir informações sobre o desmatamento no bioma. Os dados, consolidados a partir de 3.358 alertas, abrangem pela primeira vez todo o mapa de aplicação da Lei da Mata Atlântica, do qual fazem parte 17 estados brasileiros. O SAD Mata Atlântica é realizado em parceria pela Fundação SOS Mata Atlântica, a Arcplan e o MapBiomas (os encraves da Mata Atlântica nos outros biomas são monitorados pelo MapBiomas Alerta utilizando fontes adicionais). O trabalho tem apoio da Flex Foundation e do Fundo Canadá para Iniciativas Locais.
Bahia, Minas Gerais, Paraná, Piauí e Santa Catarina foram os estados que mais desmataram no período – respectivamente 7.412, 5.535, 1.607, 1.364 e 1.350 hectares, área que, somada, corresponde a 81% do total.
Luís Fernando Guedes Pinto, diretor-executivo da Fundação SOS Mata Atlântica, ressalta a importância de os Estados utilizarem o mapa de vegetação 1:250.000 do IBGE para identificar os fragmentos com Mata Atlântica, incluindo as áreas de transição, que são protegidas pela Lei, e exigir um levantamento de campo antes de autorizar novos desmatamentos.
Entre os municípios, o que teve o maior somatório de áreas desmatadas foi Baianópolis/BA, com 1.697 ha, seguido por Santa Rita de Cássia/BA e Porto Murtinho/MS, com 440 ha cada um, e Corrente/PI, com 415 ha.
O maior desmatamento individual foi identificado em Baianópolis/BA, com o código 563778, com 886 ha (adjacente ao desmatamento 411382, de 1.250 ha, identificado na mesma propriedade no ano passado). Esse alerta está em um encrave de Floresta Estacional Semidecidual protegido pela Lei da Mata Atlântica dentro do Bioma Cerrado.
Novo padrão de desmatamento
Um diferencial do SAD Mata Atlântica é seu método, capaz de identificar indícios de desmatamento a partir de 0,3 hectare, tornando visíveis focos não detectáveis em sistemas anteriores. “Como estamos pela primeira vez vendo o desmatamento neste nível de detalhe, não é possível comparar esses resultados a valores anteriores. Estamos criando uma nova linha de base, que será uma referência para um novo padrão de monitoramento com informações essenciais para entender e planejar a conservação e restauração da Mata Atlântica”, explica Guedes Pinto.
Os desmatamentos com mais de 3 ha representam 35% do total identificado, mas respondem por 87% da área desmatada. “Esse perfil indica que ainda existe espaço para que a fiscalização e responsabilização tenham um papel fundamental na redução do desmatamento no Bioma”, afirma Marcos Rosa, coordenador técnico do MapBiomas. “O desestímulo aos pequenos desmatamentos virá quando o proprietário perceber que, agora que são públicos, deixarão de ser vantajosos, pois implicarão na restrição ao crédito rural e na dificuldade em vender a produção para grandes empresas, que atuam cada vez mais em uma cadeia de fornecedores livres de desmatamento”, complementa Rosa.
O SAD permite ainda a identificação das causas de cada ponto de desmatamento. No primeiro semestre de 2022, a imensa maioria das derrubadas foi motivada pela agricultura (90,5%), seguida pela expansão urbana (4%).
Metodologia e boletins anteriores
O SAD Mata Atlântica utiliza uma classificação automática de indícios de desmatamento baseado na comparação entre imagens de satélite Sentinel 2 (dez metros de resolução). Os focos de potencial desmatamento são enviados para o MapBiomas Alerta e então validados, refinados e auditados individualmente em imagens de alta resolução. Cada desmatamento confirmado é cruzado com informações públicas, incluindo as propriedades do Cadastro Ambiental Rural (CAR), embargos e autorizações de desmatamento do SINAFLOR/IBAMA, para disponibilização em uma plataforma única, aberta e transparente que monitora todo território brasileiro.
O SAD Mata Atlântica monitora e gera alertas para o bioma Mata Atlântica, conforme o mapa do IBGE 1:250.000 de 2019. Este boletim cobre toda área de Aplicação da Lei da Mata Atlântica e considera os desmatamentos validados pelo MapBiomas Alerta, que utiliza outras fontes, como o DETER CERRADO, publicado pelo INPE, e o SAD Caatinga, publicado pela Geodatin/UEFS. Esses sistemas são essenciais para garantir o monitoramento dos encraves de da Mata Atlântica, protegidos pela Lei da Mata Atlântica, que estão nos biomas Cerrado e Caatinga. São considerados os desmatamentos que tenham ao menos 10% da sua área dentro do mapa de aplicação da Lei da Mata Atlântica refinado pela SOS Mata Atlântica usando o mapa de vegetação do RADAM 1:1.000.000.
As primeiras edições do boletim do SAD Mata Atlântica, divulgadas em fevereiro e abril de 2022, reuniram alertas coletados e validados ao longo de 2021, apresentando resultados parciais do desmatamento do bioma no período. Foram edições piloto concentradas em quatro regiões: as bacias hidrográficas do Rio Tietê (São Paulo), do Rio Iguaçu (Paraná), do Rio Jequitinhonha (Bahia e Minas Gerais) e dos Rios Miranda e Aquidauana, na região do município de Bonito (Mato Grosso do Sul).
As informações vêm sido disponibilizadas mensalmente na plataforma MapBiomas Alerta e os resultados são reunidos em boletins trimestrais publicados pela Fundação SOS Mata Atlântica em www.sosma.org.br/iniciativas/alertas.
Fonte: SOSMA
Publicação Ambiente Legal, 04/09/2022
Edição: Ana Alves Alencar
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