Por Ricardo Viveiros*
Hoje é o Dia Nacional da Língua Portuguesa. Trata-se de homenagem ao polímata Ruy Barbosa, Instituída pela Lei Federal nº 11.310/2006. Nascido em 5 de novembro de 1849, Ruy era respeitado por dominar diferentes áreas do conhecimento, sendo um profundo estudioso do nosso idioma. Sua paixão era tão grande quanto a do poeta português Fernando Pessoa, que afirmou: “Minha pátria é minha língua.”
A rigor, há mais duas diferentes datas nas quais também se comemora o nosso idioma.
5 de maio: A data foi instituída pela Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) em 2009, na 14ª Reunião Ordinária do Conselho de Ministros, realizada em Cabo Verde naquele ano. De acordo com o documento, a língua Portuguesa é “um vínculo histórico e um patrimônio comum resultantes de uma convivência multissecular que deve ser valorizada”. Atualmente, cerca de 250 milhões de pessoas, em 10 diferentes países de quatro continentes, integram a comunidade lusófona.
10 de junho: A data é comemorada nos países que falam Português, mas a determinação legal é uma homenagem da Assembleia da República (o que corresponde, em Portugal, à Câmara dos Deputados brasileira). O dia, escolhido em 1981, homenageia o poeta Luiz Vaz de Camões, autor de Os Lusíadas.
Lembro dos tempos de colégio, nos antigos Primário e Ginasial hoje Ensino Fundamental I e II, quando era costume ler os clássicos. Entre eles, estava Olavo Brás Martins dos Guimarães Bilac, ou simplesmente Olavo Bilac, jornalista, contista, cronista e poeta brasileiro, o maior representante da escola parnasiana. Bilac foi um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras (ABL). São dele os versos que se tornaram eternos no soneto Língua Portuguesa: “Última flor do Lácio, inculta e bela”. “Flor do Lácio” é uma expressão usada para designar o Português. Bilac denomina o idioma como o último derivado do Latim Vulgar falado no Lácio, região central italiana banhada pelo Mar Tirreno, onde se encontra a capital Roma. As línguas latinas (também chamadas de românicas ou neolatinas) são as que derivaram do Latim, sendo as mais faladas: Francês, Espanhol, Italiano, Romeno e Português. A nossa é a mais jovem entre as línguas derivadas do Latim.
O termo “inculta” usado pelo poeta, refere-se ao idioma empregado pelo povo simples, pelos mercadores, camponeses, soldados. Era diferente do Latim Clássico, falado pelas classes mais nobres. Para Bilac, a Língua Portuguesa continuava a ser “bela”, mesmo tendo origem e força na fala popular.
Isso leva-nos a compreender a gíria, nem inculta nem bela, reunindo signos criados e empregados em especial pelos jovens para tornar a comunicação mais direta e valorizar as expressões. Ou, ainda, para permitir uma espécie de código de proteção para que os mais velhos não os entendam.
O que poucos se dão conta, entretanto, é que a língua muito além de um instrumento de Comunicação é um elemento fundamental para a identidade de um povo. E pode unir, criar pontes entre culturas de diferentes nações.
Só para dar um exemplo, recentemente tive um artigo meu publicado na Tribuna de Macau, na China. Como se pode ouvir a cantora Mayra Andrade, de Cabo Verde; ler um livro do historiador Pepetela, de Angola; assistir telenovelas brasileiras, na Guiné-Bissau; acompanhar as viagens do youtuber Marcelino Francisco, de Moçambique; ou conhecer a dramaturgia da premiada companhia Teatro Meridional, do Timor Leste. E nem precisei falar de Portugal, a mãe da língua.
*Ricardo Viveiros, jornalista, escritor e professor é doutor em Educação, Arte e História da Cultura pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, membro honorário da Academia Paulista de Educação (APE) e conselheiro da União Brasileira de Escritores (UBE). Tem 49 livros publicados, entre os quais Educação S/A, Pelos Caminhos da Educação e O menino que lia nuvens.
Fonte: o autor
Publicação Ambiente Legal, 05/11/2020
Edição: Ana A. Alencar