Por Marilene Nunes
“A diferença mais marcante entre os sofistas antigos e os modernos é simples: os antigos se satisfazem com a vitória passageira do argumento à custa da verdade, enquanto os modernos querem uma vitória mais duradoura, mesmo à custa da realidade”
(Hannah Arendt, As origens do totalitarismo, 1951).
Segundo o historiador português João Bernardo (2007) quando a ideologia de um grupo se torna o lugar comum na sociedade e passa a ser adotada como ideologia em amplos meios sociais, tal movimento deve ser motivo de preocupação, tendo em vista que encerra em si um mimetismo que lhe permite a naturalização do seu discurso.
A ecologia se insere nesse conceito, porque não se trata apenas de um movimento de opinião, mas de uma “ciência”, o que a torna flexível, de modo a permitir a apropriação de um conjunto de idéias pelas multidões, que rebatidas as diferenças entre os diversos segmentos, resulta num núcleo comum de princípios aceitos como a verdade dos fatos que se tornam incontroversos.
Durante o evento Rio+20 , no ano de 2012, foi encomendada pelo Ministério do Meio Ambiente uma pesquisa intitulada “O que o brasileiro pensa do meio ambiente e do consumo sustentável?”. Participaram do estudo mais de duas mil pessoas de todo o território nacional; 78% dos entrevistados afirmaram desconhecer do que se tratava a Rio+20, ou seja, não tinham a menor idéia do significado de consumo sustentável. No entanto, todos acreditavam num possível cataclismo natural oriundo da ação humana sobre o planeta. Mediante tais resultados o que nos resta é refletir e questionar a origem desse movimento político que se apresentou, na época, como novo, bem como a moral que poderia presidir ao trato entre a humanidade e a natureza frente às catástrofes amplamente anunciadas no presente e no futuro.
Isso nos lembra que, em suas publicações e/ou eventos acadêmicos, os ecologistas jamais evocam as origens e o passado da ecologia, buscam ocultá-los ou simplesmente os ignoram. Apesar de o aparente descaso, todavia existe uma versão oficial acerca da genealogia do ecologismo formulada por organizações internacionais e departamentos universitários ambientalistas que alegam que o marco do seu surgimento data de 1972, a partir de uma reunião dirigida pela Organização das Nações Unidas (ONU), na Suécia, mais precisamente na cidade de Estocolmo. Nesse evento foi formulada a “Carta de Estocolmo” que expõe as preocupações com o meio ambiente centrado nas idéias da escassez dos recursos naturais e da degradação dos mesmos por ações antropogênicas.
O documento em questão orientou o ecologismo que ganhou vulto como movimento social científico e político, nas décadas de 80 e 90, do século passado.
A historiografia oficial diz que a ecologia possui menos de cinqüenta anos de história. Entretanto, a verdade é bem outra. A origem do pensamento ecologista remonta às primeiras décadas do Século XIX e, o seu passado, está repleto de ambigüidades que encobrem circunstâncias e fatos perturbadores, conteúdo que a militância e a ecoburocracia preferem não contar.
O culto à natureza e o ódio à civilização
A Alemanha é considerada o berço do ecologismo, não somente pela formulação da utopia ideológica, mas também porque foi o primeiro país que levou mais longe as políticas que tornaram real a quimera ecológica.
A ideologia ecológica nasceu de um longo processo vinculado à busca da identidade do povo alemão, de forma bem distante do iluminismo e do projeto civilizatório que esse propunha. Os seus ideólogos foram buscar nas antigas tribos arianas e no culto à natureza o ideal do povo alemão, tendo como fundamento as raízes míticas da figura do camponês e do mundo rural antigo.
Assim, é na conjunção entre a negação do iluminismo e a busca da identidade na tradição arcaica alemã que foi gerada a ecologia. Esta se tornou discurso a partir do pensamento de Ernst Moriz Arndt (1769-1860), juntamente com o do seu discípulo Wilhelm Heirich Riehl (1823-1897).
Ardndt era político e tinha inicialmente admiração pelos ideais da Revolução Francesa: veneração que se dissipou com a ascensão dos jacobinos ao poder e o conseqüente
terror que se instalou na frança pós-revolucionária. Com o surgimento e a expansão do império napoleônico seu ódio à França seria demasiadamente declarado, tanto que resultou em forte xenofobismo contra os franceses.
Ao longo de sua carreira política Arndt defendeu o nacionalismo voltado à origem do povo germânico, puro e sem mistura étnica, evocando a história dos povos tribais, exaltando sempre a superioridade rácica dos alemães, além de desenvolver a apologia ao culto à natureza, o que produziu forte crítica à civilização industrial nascente.
Em 1815, Arndt escreveu um artigo que resume seu pensamento, declarando que a relação do homem com a natureza é de total integração, de uma unicidade plena que não deve ser rompida. Com isso, desvelou o anti-humanismo absoluto de suas idéias que passaram a repercutir profundamente nas obras de seu sucessor.
Em meados do Século XX, a Alemanha industrializava-se velozmente como todos os países da Europa ocidental. De maneira contraditória a ideologia anti-industrialização se ampliou para vários setores da sociedade, encontrando eco em diversas organizações políticas alemãs.
Em 1853, Riehl, como bom aluno de Arndt, no plano ideológico, deu continuidade ao pensamento do mestre, revelando em vários de seus escritos, sua preocupação com a preservação das florestas alemãs que supostamente iriam ser destruídas pela sociedade industrial. Como seu mestre, se opôs a qualquer tipo de desenvolvimento tecnológico provocado pelo processo de industrialização, ao mesmo tempo em que usou o antissemitismo para forçar a forma de vida camponesa e rural. As visões extremistas e nacionalistas de Arndt e Riehl foram baseadas em um mix entre o respeito à natureza, a xenofobia e o antissemitismo. Esses dois pensadores influenciaram o movimento político denominado Vôlkisch que pregava uma mistura de culto religioso à natureza com nacionalismo antissemita.
O antissemitismo dos Vôlkisch estava vinculado ao fato de que a grande maioria dos judeus pertencia à classe media, e, portanto, eram favoráveis ao processo da industrialização. O amor patológico pela natureza incluía um ódio repugnante contra qualquer pessoa e/ou coisa que pusesse em risco a sua vida ou maneira de pensar.
Mediante tais fatos, retornando aos ecologistas modernos, percebe-se que estes escondem as práticas de origem pagã da história do movimento ecológico, pois querem fazer crer que a ecologia origina-se das preocupações com o meio ambiente a partir do conhecimento cientifico e, não como decorrência das obscuras seitas de adoração à natureza, oriundas do paganismo; porém a verdade dos fatos mostra que a ideologia ecológica se desenvolveu em oposição ao iluminismo e que seus princípios foram sustentados pelo irracionalismo místico.
É importante sinalizar que o ódio ao projeto civilizatório à sociedade urbano-industrial tornou-se o grande mote que move e continuará movendo as políticas hostis criadas pelo ecologismo contra o capitalismo desde o seu surgimento, até os nossos dias.
Por exemplo, no ano de 1866, o biólogo, zoólogo e médico alemão Ernst Haeckel (1834-1919) na sua obra “Generalle Morphogie Der Organimen”, formulou as raízes cientificas e biológicas do movimento ecologista. É nessa obra que o termo ecologia passou a ser utilizado pela primeira vez, embora alguns poucos historiadores tenham dado o crédito ao naturalista norte-americano David Thoreau (1817-1862). Thoreau no livro, “História Natural”, foi o primeiro autor norte-americano a se interessar pela questão ambiental, mas não cunhou o termo ecologia, esse foi explicitamente utilizado por Haeckel na difusão do seu pensamento.
Haeckel era ateu, republicano e adorador da natureza. Sofreu grande influência de Darwin e foi o seu maior divulgador. O cientista alemão ficou impressionado com a obra “As Origens das Espécies” em que Darwin propõe que a natureza se desenvolve por meio da evolução, tendo como princípio a seleção natural e sexual dos seres vivos. O tema da “seleção natural” foi o aspecto da tese que mais incomodou Darwin, logicamente por suas implicações éticas.
A tese da “seleção natural” de que o mais forte sobrevive não levou necessariamente a intuir que o mais forte é racialmente superior. Entretanto, Haeckel entendeu que sim, passando a levar a sério o seu objetivo de tornar conhecido o darwinismo, torto produto do seu entendimento. Ele não poupou esforços, tampouco se restringiu a disseminar a sua tese. Todavia, não ficou nos limites dos espaços acadêmicos nas universidades: através de publicações populares e conferências realizadas junto aos trabalhadores, estendeu suas idéias deturpadas do darwinismo a um grande e diversificado público, já que acreditava que a grande obra de Darwin era um documento político que afetaria aos ideais pessoais, sociais e científicos dos indivíduos.
Com o objetivo de criar um pólo irradiador para divulgar a ecologia, Haeckel fundou a “Liga Monista Alemã” que congregava políticos, cientistas, artistas e agitadores políticos influentes da época. Essa instituição criada para difundir sua doutrina se constituiu no laboratório onde se formou aquilo que viria a ser conhecida como a “política biológica nazista” e, num futuro não muito distante como a “base do moderno ecologismo”.
O fato de essa organização ter difundido a sua doutrina junto ao meio operário contribuiu para os cruzamentos ideológicos indispensáveis à constituição do nazismo. Haeckel fez do ecologismo a sua profissão de fé.
Conforme relata a historiadora norte-americana Anna Branwell (1989), em sua obra “Ecology in the 20th Century, History”, o alemão Haeckel foi o criador da raiz científica e biológica do movimento ecológico atual.
Segundo Branwell (1989) ele acreditava que o homem e o animal têm a mesma situação moral e natural e pregava que o universo é organismo unificado e equilibrado, todo ele feito do mesmo material, daí o termo panteísmo utilizado amplamente nos seus textos. Haeckel defendeu o princípio monista de que tudo é matéria ou tudo é espírito. Pregou a doutrina de que a natureza é a fonte da verdade e mestra sábia para orientar a conduta do homem para a vida, e que a sociedade humana deve ser reorganizada de acordo com as regras estabelecidas pelo mundo natural.
Para Haeckel a Ecologia é a ciência que estuda a “casa”, o “habitat”, ou seja, a ecologia é o conhecimento sobre o meio ambiente e as relações entre este último e os seres vivos. Etimologicamente a palavra ecologia se originou do grego: “oikos” que quer dizer “casa” e “logos” que significa “estudo”.
A extraordinária influência de Haeckel na sociedade alemã pode ser atribuída ao seu apelo quase religioso à natureza e ao incipiente panteísmo de suas crenças.
Haeckel seguiu a corrente racista do darwinismo; foi o primeiro a usar a teoria da “Evolução das Espécies” para propor uma classificação hierárquica das raças humanas, situando os negros no nível inferior e colocando os alemães, os anglo-saxônicos, os eslavos e os escandinavos no topo da pirâmide. Adversário ativo da mestiçagem, Haeckel foi um entusiasta da eugenia, tendo sido nomeado, em 1904, presidente honorário da recém fundada Sociedade de Higiene Racial Alemã; porém foi como membro da sociedade Thule Geellshaft que passou a se situar no próprio centro gerador do nacional socialismo.
Através da “Thule”, associação esotérica de caráter estritamente racista, cujo nome se referia ao célebre mito hiberboreal, Haeckel estabeleceu um elo contínuo entre a ecologia científica e a política nazista. Muitos integrantes da “Thule” eram membros do Partido Operário Alemão que se transformará no Nacional Socialismo, partido de Hitler no exato momento em que a Sociedade Thule se extinguia.
Nesse contexto, é importante esclarecer que apesar de Haeckel haver falecido em 1919, o seu legado passaria a ser a base ideológica do fascismo hitleriano, mesmo após algumas décadas de sua morte.
Nazismo e ecologia: a biologia como política aplicada
Quando a questão é fascismo nazismo faz-se imprescindível ressaltar que este apresentou características distintas dos demais fascismos que lhe foram contemporâneos. O nacional socialismo teve a “estética”, como base ideológica e, a “biologia rácica” como fundamento político, ao passo que os outros fascismos primaram por populismo social e econômico.
Antes de galgar politicamente o poder Hitler disse em uma reunião do partido: “qualquer política que não tenha uma base biológica ou objetivos biológicos é uma política cega.”
A política biológica nazista atingiu seu fulcro com a síntese entre ecologia científica e eugenia, que já existia de forma embrionária nas teses de Haeckel em meados do século XIX. A clivagem que se estabeleceu entre a eugenia e o ecologismo resultou na emergência do nazismo.
A eugenia não surgiu na Alemanha, muito menos nos EUA, como é comum as pessoas imaginarem. Embora os EUA tivessem sido os maiores propagadores das políticas eugenistas a sua origem não se deu naquele país.
Na virada do século XX a eugenia era extremamente popular na sociedade norte-americana; ali foram criadas várias políticas públicas com o objetivo de aprimorar a raça humana. Esterilização em massa, apartheid dos considerados incapazes, e leis rígidas de controle imigratório, são alguns exemplos dos horrores que os eugenistas produziram em forma de políticas.
Um documentário produzido pela rede de TV CBS baseado no livro “The State Boys Rebellion”, de Michael D’Antonio ilustra na prática o funcionamento institucionalizado da
eugenia enquanto política de estado nos EUA.
A eugenia como disciplina acadêmica foi criada na Inglaterra pelo cientista Francis Galton (1822-1911) que teve por objetivo aplicar a tese da “seleção natural” de Darwin ao ser humano. As idéias rácicas de Haeckel ganharam tratamento e estatuto de ciência com Galton. No ano de 1883, ele juntou duas expressões gregas e cunhou o nome “eugenia’ que significa “bem nascido”.
A partir desse momento a eugenia passou a indicar as pretensões galtonianas de desenvolver uma ciência genuína sobre a hereditariedade humana capaz de identificar, através de instrumentação matemática e biológica, os melhores membros – como se fazia com cavalos, porcos e cães ou qualquer animal – portadores das melhores características e, assim, estimular a sua reprodução. Aqueles com características degenerativas não podiam se reproduzir.
Galton, primo de Darwin, também foi o continuador direto da sua obra. Ele desenvolveu o racismo sobre dois aspectos, não apenas considerando as diferenças de situação entre os povos, mas as distinções sociais no interior de cada povo, de maneira que a elite social dominante era superior aos seus concidadãos sobre o ponto de vista físico e mental (BERNARDO, 2013). Tal noção não era nova, mas Galton a transpôs para o quadro científico fundado por Darwin e as concepções rácicas de elite que outros autores haviam sustentado em termos míticos e nebulosos, incluindo Haeckel.
Galton procedeu a uma segunda inovação mais importante, defendendo uma estratégia de progresso biológico e apelando por uma intervenção direta e sistemática do estado na ingerência biológica da humanidade.
Seria função das burocracias governamentais promover o aperfeiçoamento da raça. Portanto, seria necessário orientar os matrimônios da elite e promover a fertilidade e, ao mesmo tempo, tomar medidas para a extinção de elementos sociais, morais e biológicos indesejáveis.
Ao considerar o dito acima, deve-se esclarecer que quando finalmente Hitler conquistou o poder político em 1933, a grande massa do povo alemão já estava ideologicamente preparada para incorporar a ideologia nazista: a síntese mortífera entre ecologia e eugenia. A Alemanha havia sido derrotada na Primeira Guerra Mundial, o povo com a moral baixa estava recebendo desde o século XIX forte inculcação ideológica promovida por instituições como a Liga Monista Alemã e a Sociedade Eugenista de Higiene Racial Alemã, anteriormente comentadas. Por isso, o nazismo encontrou campo fértil para disseminar a sua política ecobiologica.
Cabe destacar que a cultura com base na educação autoritária vigente na sociedade alemã foi outro fator preponderante para a efetivação do
controle social que o nazismo necessitou para a sua difusão. Sobre a educação autoritária alemã o filme “A Fita Branca” do cineasta alemão Michael Haneke de 2009 mostra como a educação autoritária pôde redundar em perversidade a ponto de tornar uma geração futura completamente fria diante dos horrores do holocausto.
O regime nazista levou a cabo um conjunto de medidas que qualquer ecologista contemporâneo não deixaria de aprovar. As primeiras reservas naturais na Europa foram criadas pelos nacionais socialistas, e em 1935, precisamente no mesmo ano em que foram promulgadas as chamadas Leis de Nuremberg, destinadas a assegurar a preservação e o desenvolvimento da raça nórdica, publicava-se um complexo legal visando à preservação da natureza, com um escopo sem precedentes.
O apoio dos ecologistas não se fez esperar. Em 1939 estavam inscritos no partido nacional socialista 60% dos membros das principais associações de proteção da natureza que haviam existido durante a república de Weimar.
Os nacionais socialistas aplicaram a política ecológica principalmente, na agricultura, cujo modelo se assenta nos princípios formulados por Rudolf Steiner, que em 1924 lançou a idéia da agricultura biodinâmica.
Educador e filósofo Steiner é conhecido como o fundador da antroposofia, teosofia ligada aos meios místicos mais delirantes europeus. No Brasil a sua filosofia foi popularizada no âmbito educacional como Pedagogia
Waldorf que tem como premissa pedagógica a livre educação dos jovens junto à natureza.
A filosofia Steiner propôs a hierarquia mística de progressão espiritual para uma hierarquia biológica de sucessão de raças em que o lugar superior pertence à raça ariana, e cujo componente mais perfeito pertence ao nórdico germânico. A fusão de uma hierarquia espiritual e racial colocou a antroposofia no marco ideológico do nazifascismo. E foi nesse ambiente que Steiner formulou a teoria da agricultura biodinâmica inspirada pela noção de que a terra é um organismo vivo, e de que é pela sua pretensão de conhecer as forças cósmicas invisíveis que exercem efeitos sobre a fauna e a flora.
Steiner faleceu em 1925, pouco depois a agricultura biodinâmica e antroposofia serem incorporadas por Walter Darre, em 1933, ao nacional-socialismo. Darre foi nomeado, em 1930, conselheiro de Hitler para as questões agrárias; também se encarregou do Ministério do Abastecimento e da Agricultura (1933 a 1942), além de chefiar o Departamento Central de Raça e Colonização (1931 a 1938), com a patente de “Obergruppenfûhrer”, o segundo maior posto no escalão das SS.
Alguns componentes do nacional socialismo se nutriram de desconfiança em relação à antroposofia e, por conseguinte, à agricultura biodinâmica. Assim, a fim de contentar os desconfiados Darre rebatizou a tese agrícola de Steiner com o nome “agricultura orgânica”, ficando convertida na principal doutrina agrícola incorporada no projeto das políticas agrícolas do Terceiro Reich que depois de algum tempo seria denominada de agroecologia.
O programa agrícola “Volta a Terra” teve por objetivo varrer a antiga nobreza rural por meio da reforma agrária e estabelecer uma nova nobreza campesina de origem ariana pura. Ainda, teve como meta mais radical, em longo prazo, promover a Internacional Campesina no norte da Europa, onde as fazendas passariam a ser dirigidas de acordo com o alvitre dos comitês dos conselhos burocratas locais.
Essa retórica comportou ataque em larga escala contra a economia capitalista, principalmente contra o direito de propriedade; defendeu a tese de que os ditames do comércio exterior haviam sido elaborados por capitalistas manipuladores para expulsar as populações rurais do campo para confluírem para as cidades. Em outras palavras, o sistema industrial teria sido construído para impedir a autonomia rural e a auto-suficiência da agricultura de base familiar. Assim o remédio seria a total ruralização da Alemanha.
O ministro Darre se esforçou para frear o desenvolvimento do capitalismo na zona rural e a industrialização da agricultura; recebeu recursos financeiros com cifras elevadas. Mesmo após o início da guerra o orçamento do Ministério da Agricultura e Abastecimento era inferior apenas em relação aos orçamentos destinados aos ministérios dedicados
à preparação militar e à repressão.
O fracasso militar da Segunda Guerra Mundial pôs fim às tentativas de realização do irracional projeto, mas não à utopia ecologista.
A relação mortífera entre o amor à natureza e o nacionalismo racista militante não morreram; a ecologia manteve uma relação íntima com um meio político veementemente reacionário. O aparecimento da ecologia moderna formou o último dos elos na cadeia fatídica que interligou o nacionalismo agressivo, o racismo de propensão mística e as preferências ambientais. Todavia, no ponto central desse complexo ideológico encontra-se a aplicação direta e sem mediações das categorias biológicas à esfera social.
Apesar de tudo, ao final da guerra não havia restado nada da política biológica ecológica racial de Hitler na Alemanha; o movimento ecológico migrou para a Inglaterra e EUA a partir dos anos 50 penetrando nos movimentos sociais de esquerda, retornando à Alemanha nos anos 60 e 70 do século passado com roupagem pseudo esquerdista, mirabolando projetos políticos irracionais. Mas essa parte da história será contada no próximo artigo.
Referências
ARDNDT, M. E. Der becriff des volksgeistes geschichtssanschuung. Germany: Langenssalza, 1914.
AURÉLIO, Dicionário. Disponível em: <http://www.dicionariodoaurelio.com> Acesso em: 09/04/2014.
BECK, R. B. The history of South Africa. USA: Greenwood Publishing Group, 2000.
BERNARDO, J. Natureza e nazismo. São Paulo: USP, 2007.
__________. Post-scriptum: contra a ecologia, o lugar comum dos nossos dias. (2013). Disponível em: <http://www.passapalavra.info> Acesso em: 27/04/2014.
BLACK, E. Was against the weak eugenics and America’s campaign to create a master race. New York and London: Four Walls Eignt Windows, s/d.
BRANWELL, A. Ecology in the 20th century history. New Haven/USA: Yale University, 1989.
BRASIL. O que o brasileiro pensa sobre o meio ambiente e o consumo sustentável. Brasília: Ministério do Meio Ambiente, 2012.
ONU, Organização das Nações Unidas. Rio+20 o futuro que queremos. Disponível em: <http://www.ofuturoquenosqueremos.org.br/about.php> Acesso em: 09/04/2014.
RIEHL, H. W. Feld und wald. Sttugard, 1857.
SILVA, R. W. C.; PAULA, B. L. de. Causa do aquecimento global: antropogênica versus natural. Terrae Didática. 5(1). 2009. p. 42-49.
Marilene Nunes é Doutora em Gestão e Políticas Públicas (USP), Mestre em Economia Política da Educação (UFRGS), Especialista em Gestão do Conhecimento (FGV), Graduada em Pedagogia (UFRGS). Especialista do Conselho Estadual de Educação (CEE – SP). Docente em Programas de Pós-Graduação (Mestrado e Doutorado) no Brasil e no exterior.
Profa Marilene… excelente seu artigo…. a realidade mencionada, faz refletir com maior intensidade o papel e o compromisso da educacao superior frente este contexto…
A Profa.Marilene nos da uma verdadeira aula contando a historia da ecologia. Pensadora jovem,com interesses em varias areas da pesquiza, provocativa e buscando os cenarios da polemica, firma se como uma revelação.
O ensaio sobre “A HISTÓRIA QUE OS ECOLOGISTAS NÃO QUEREM CONTAR” produzida por Marilene Nunes, uma grande intelectual, professora e pesquisadora universitária, traz ideias bastantes fecundas em termos de um debate que coloca no centro da questão – a ideologia, de como que é tratada a temática/realidade da ecologia, a qual se difunde pela sociedade, veiculando um discurso lacunar, onde se omite aquilo que não se quer dizer, uma vez que o discurso pode se quebrar por dentro, segundo Marilena Chaui. A autora tenta mostrar na história da ecologia, as suas crenças, teses e antíteses antigas e modernas que, pouco a pouco, vão fazendo o leitor apreender, que compreender a ecologia, hoje, não é simples, é preciso adentrar na complexidade da história, com profundidade, é sair da banalidade e da naturalização de muitas ideias que são contadas por muitos ecologistas, caindo muitas vezes nos achismos ideologizados. Parabéns pela propriedade e seriedade com que tratou do assunto em questão. Estamos esperando a continuação do ensaio.
Professora Doutora da Universidade Federal de Pernambuco – Brasil.
Os ecologistas e os recursos do meio ambiente
Ridículo. Utilizando das mesmas ferramentas de retórica que a autora lança mão poderíamos ligar a pintura ou a música como manifestações do nazismo, simplesmente porque Hitler as promoveu durante seu regime. Os dados são totalmente enviesados, muitas informações são deixadas de lado para se construir uma análise rasa, que se pretende séria, colocando em um mesmo caldeirão processos históricos muito mais complexos do que esse pseudo-artigo.
Concordo. Há falsidades gritantes no texto. Não é verdade que as primeiras reservas ecológicas da Europa tenham sido obra dos nazistas ou dos alemães. Retórica de “bas quartier” travestida de ciência. Horrível. Lamentável.
Acho que é importante mencionar o mito germanico anterior e posterior a cristianização da germania.
O mito germanico descreve uma arvore sagrada onde os frutos caem no chão apodrecem e geram germes, que se transformam em toda as formas de vida.
Apos a cristianização do mito germanico, a vida não nasceu do fruto na terra e sim no mar.
Porem poucos observam o obvio. Maria é a mãe de Jesus, e o nome Maria tem a abreviação ia ao Mar ou para o Mar eu ia = Mar+ia = Maria.
Esta santificação cientifica gerou Darwin e Lamarck entre outros poucos estudados.
Entender as ordens cristãs na alemanhã é um importante ponto para entender este processo de cristianização dos germanicos.
E desta forma entende seu ecologismo como resultado do fragelo da sociedade medieval.
Jesus um filho do signo de Capricornio, nasce junto a cabras, ovelhas e boy. Que coincidencia, mais não é. O mito germanico est ai também, onde a relaçção sub mencionada aos deuses antigos se manifesta.
Olá, Marilene. Estudo a Antroposofia há alguns anos e acredito que, na parte que você menciona a hierarquia mística da humanidade, segundo Steiner, houve algum equívoco, devido, talvez, a uma interpretação apressada da teoria antroposófica.
Steiner não faz diferenciações entre os indivíduos de uma mesma era. As camadas hierárquicas não se dão concomitantemente. Ele expressa com elas as eras pelas quais a humanidade passou. A humanidade inteira, hoje, pertence a uma das hierarquias. Pessoas de todas as etnias. O nazismo pode ter se valido de ideias de Steiner, mas o contrário não é verdadeiro.
Seu artigo para ser considerado honesto precisa citar os originais de suas declarações. Ficou muito evidente que vc quis “provar” a sua tese criando alguns factoides. Pena.
Excelente artigo, já li umas três vezes. Ele trás os fundamentos e construções das ideologias. Faz refletir sobre como chegamos a determinados pensamentos ideológicos e como esse processo vai se construindo sem a sociedade perceber sua amplitude e abrangência. ESCLARECEDOR! parabéns, me fez olhar coisas que ainda não havia enxergado.