Campeão na produção, importação e consumo
O Brasil é um dos países que mais utilizam agrotóxicos na produção agrícola.
Com 107 empresas aptas a registrar produtos, o Brasil é o sexto país no ranking mundial de importação de agrotóxicos para destinação nas lavouras.
Há produtos banidos da Europa e até da China, que vêm sendo usados indiscriminadamente no país, em especial nos produtos destinados ao mercado interno, visto existir barreiras aos produtos contaminados pelos produtos no mercado internacional.
O último relatório divulgado pela ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), publicado em outubro de 2013, sobre a presença de agrotóxicos em frutas, legumes e verduras, apontou resultados insatisfatórios em 36% das amostras analisadas em 2011 e 29% das amostras verificadas em 2012. As amostras dos alimentos analisados continham níveis de substâncias tóxicas superiores ao limite imposto no Brasil. Parte dos produtos analisados continham compostos químicos não registrados para uso no país.
Conforme o relatório do PARA (Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos), “Os principais grupos químicos encontrados de forma irregular entre 2009 e 2011 foram os organofosforados, piretróides, clorociclodienos, metilcarbamatos de oxima, benzimidazóis, dicarboximidas, dimetilditiocarbamatos e triazóis. Os quatro primeiros têm entre seus alvos os ácaros, formigas, insetos e nematoides. Os demais são destinados ao controle de fungos. Os organofosforados e piretróides foram os grupos químicos que mais apresentaram resíduos de agrotóxicos irregulares.
Os dados de monitoramento do PARA revelam que amostras de alguns alimentos apresentam resíduos de vários agrotóxicos. Isso significa completo descontrole no combate às pragas.
A constatação reforça a necessidade de melhoria na formação dos produtores rurais, no suporte técnico aos agricultores e maior comprometimento de todos os envolvidos na produção e distribuição dos alimentos.
Os números assustam
O fato é que não há garantia de qualidade nos alimentos oferecidos à população.
Segundo a OMS – Organização Mundial da Saúde, as substâncias químicas utilizadas na agricultura são responsáveis por 63% dos 57 milhões de óbitos declaradas no mundo em 2008. A contaminação na ingestão dos alimentos contaminados responde, ainda, por 45,9% do volume global de doenças.
A OMS prevê aumento de 15%, entre 2010 e 2020, dos óbitos causados por doenças derivadas do consumo e contato com POPs – poluentes orgânicos persistentes, oriundos da aplicação dos agrotóxicos nos alimentos. No Brasil, elas já representam a principal causa de óbito, sendo responsáveis por 74% das mortes ocorridas em 2008 (893.900 óbitos).
Uma pesquisa da Universidade Federal do Mato Grosso em parceria com a Fundação Oswaldo Cruz, em 2011, comprovou que até mesmo o leite materno pode conter resíduos de agrotóxicos. O estudo coletou amostras em mulheres do município de Lucas do Rio Verde (MT), um dos maiores produtores de soja do país. Em 100% delas foi encontrado ao menos um tipo de princípio ativo de agrotóxico. Em algumas, até seis tipos.
Em 70% das amostras o endosulfan, que causa distúrbios hormonais e aumenta o risco de câncer, estava presente.
Falta fiscalização, falta monitoramento
Embora o crescimento do agronegócio seja essencial para a economia brasileira, as regras para o uso dos agrotóxicos encontram-se estagnadas, sem monitoramento e sem efetiva fiscalização há tempos.
Walter Lazzarini, engenheiro agrônomo e presidente do Conselho Superior de Meio Ambiente da FIESP, um dos autores da Lei dos Agrotóxicos brasileira, em 1989, explica que o incentivo ao uso do agrotóxico começou no período militar, com o Plano Nacional de Defensivos Agrícolas, que condicionava a obtenção de crédito rural à aplicação de pesticidas. “Foi também nessa época que apareceram as primeiras denúncias de contaminação de alimentos e intoxicação de trabalhadores rurais” no Brasil, disse Lazzarini. A Lei dos Agrotóxicos vigora até hoje, com algumas mudanças no texto original. O grande problema, porém está no cumprimento da legislação.
Os defensores do uso de agrotóxicos, sugerem que se aumente o controle e regras para o uso dos pesticidas na lavoura, juntamente com trabalho de educação ambiental nas fazendas produtoras de alimentos, pois sem os pesticidas seria impossível suprir as necessidades de alimentos da população brasileira.
“Os agroquímicos são necessários para manter o nível de produção que temos no Brasil. A maior sustentabilidade que podemos proporcionar para a agricultura é produzir mais com menos”, disse Geraldo Berger, Diretor da Monsanto, indústria multinacional de agricultura e biotecnologia, em recente entrevista à Revista Planeta Sustentável.
No entanto, o sinal de alerta em face dos perigos no consumo de alimentos cultivados à base de produtos químicos, incentivou a produção, comercialização e consumo de alimentos orgânicos, produzidos sem uso de pesticidas e adubo mineral. Nos últimos cinco anos, o setor de alimentos orgânicos triplicou no país e o volume de consumidores fica atrás apenas dos EUA, no ranking de consumo mundial.
Governo incentiva a agricultura orgânica
Para incentivar o consumo de produtos orgânicos, o governo federal lançou o Plano Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica. Uma das metas divulgadas é ampliar de 200 mil para 300 mil o número de famílias envolvidas na produção orgânica, até o final de 2014.
A grande dificuldade na produção dos orgânicos é o alto custo de produção, o que acaba refletindo no preço final ao consumidor.
O agricultores brasileiros que apostam nessa vertente, utilizam a prática da policultura, onde a cada fim de colheita, o solo é preparado e semeado com outra variedade de produto.
Outra opção ao consumo de alimentos contaminados com agrotóxicos, são as “hortas urbanas”, que já estão proliferando em várias cidades brasileiras, ainda que timidamente em relação a outras horas urbanas no mundo.
As hortas urbanas utilizam terrenos desocupados nos centros urbanos, telhados, lajes de cobertura e espaços em parques. Elas abrangem pequenos pomares para o cultivo de frutas, e hortas de legumes e verduras cultivadas coletivamente ou individualmente, por pessoas interessadas, não somente em produzir alimentos livres de agrotóxicos, como, também em fazer dessa atividade uma terapia, um exercício de socialização, cidadania, espírito comunitário e educação ambiental. O adubo usado nessa forma de produção utiliza resíduos orgânicos.
O fato é que apesar das iniciativas de produção orgânica, a demanda por alimentos ainda é muito grande e os produtos chegam à mesa do consumidor cada vez mais caros.
Fontes:
http://planetasustentavel.abril.com.br/noticia/saude/comida-quimica-agrotoxicos-780938.shtml?func=2
http://www.mundosimples.com.br/alimentacao-nutricao-alimentos-contaminados.htm
http://portal.anvisa.gov.br/wps/content/Anvisa+Portal/Anvisa/Inicio/Agrotoxicos+e+Toxicologia/Assuntos+de+Interesse/Programa+de+Analise+de+Residuos+de+Agrotoxicos+em+Alimentos