![Vista aérea do Grande Canal de Veneza](https://www.ambientelegal.com.br/wp-content/uploads/veneza6-e1611707276587.jpg)
No mês de setembro do ano 476 d.C., o último líder do Império Romano do Ocidente, Rômulo Augusto, foi deposto por Odoacro, líder dos hérulos, um povo germânico.
A Europa passava por um período que posteriormente ficaria conhecido como o das “invasões bárbaras”, e o superestado que existia havia 500 anos no continente desaparecia.
![A construção de Veneza remonta ao período das invasões bárbaras (Getty Images)](https://www.ambientelegal.com.br/wp-content/uploads/veneza1.jpg)
Os habitantes da região norte do que futuramente se tornaria a Itália, já buscavam há algum tempo um lugar seguro para se proteger das investidas de povos como os visigodos e de conquistadores temidos como Átila, rei dos hunos.
Foi nesse contexto que começou a ser construída, 15 séculos atrás, uma das cidades mais bonitas do mundo, erguida em um dos cenários mais improváveis.
![Veneza é sustentada por um 'bosque submarino'](https://www.ambientelegal.com.br/wp-content/uploads/veneza2.jpg)
Veneza está localizada em uma laguna, termo da geografia que descreve uma depressão localizada na costa, preenchida por água salobra ou salgada. Ela tem 550 km² de extensão e 118 ilhas poucos centímetros acima do nível do mar.
“Construir uma cidade onde em tese seria impossível fazê-lo já seria uma loucura; mas construir uma das cidades mais elegantes do mundo em um lugar como esse é uma loucura colossamente genial”, escreveu no século 19 o pensador russo Aleksandr Herzen.
E ele não estava errado.
![Colocação de cimento sob a fundação de madeira em Veneza, na ilustração de Jan van Grevenbroeck (1731-1807)(Getty Images)](https://www.ambientelegal.com.br/wp-content/uploads/veneza3.jpg)
Um bosque submarino
Os venezianos enterraram um bosque inteiro embaixo d’água para dar sustentação às edificações que se tornariam legado turístico da cidade.
Da área que hoje compreende Eslovênia, Montenegro e Croácia, trouxeram grandes troncos de árvores, que mediam entre 2 e 8 metros de comprimento.
Afiaram um dos extremos, de forma que eles pareciam lápis gigantes, com os quais perfuraram a lama e o barro que tomavam conta da cidade italiana naquela época.
Posteriormente, passou-se a usar, além de madeira, também pedra para dar sustentação à fundação.
![Trabalhadores constroem a base para o novo campanário da Basílica de São Marcos, em fotografia publicada na revista L'Illustrazione Italiana em 1905 (Getty Images)](https://www.ambientelegal.com.br/wp-content/uploads/veneza4.jpg)
Sem oxigênio
Assim, os belos palácios venezianos são sustentados na prática por milhares de palafitas “invisíveis”, encravadas na lama.
Apesar de estar debaixo d’água, entretanto, a madeira em todo esse tempo nunca apodreceu.
Isso porque os pilares foram completamente submersos. Sem acesso ao ar (e, por consequência, com o oxigênio), a madeira não teve contato com bactérias, fungos e outros organismos responsáveis por sua putrefação.
![Com o tempo, os troncos de madeira se petrificaram](https://www.ambientelegal.com.br/wp-content/uploads/veneza5.jpg)
Além das características anaeróbicas do lodo que recobriu — e protegeu — as estacas, as águas da laguna tinham grande concentração de minerais, que foram sendo absorvidos pela madeira até que ela se petrificasse.
Essa astuta obra de engenharia foi o que sustentou o conjunto de ilhas que no século 8 se uniram para formar a Sereníssima República de Veneza, que dominou a região do Adriático no período e controlou o comércio entre a Europa e o chamado Crescente Fértil (formado pelo que hoje é Palestina, Israel, Kuait, Líbano e parte de outros países do Oriente Médio).
Esse mesmo bosque sepultado segue sustentado sobre a água, apesar das ameaças, essa “Veneza com seus templos e palácios” que parecem “pedaços de encantamento empilhados”, como descreveu o poeta inglês Percy Bysshe Shelley.
Fonte: https://www.bbc.com/portuguese/internacional-51604074
Publicação Ambiente Legal, 26/01/2021
Edição: Ana A. Alencar