Estratégias sustentáveis podem transformar o turismo do bioma.
Por Raul Delvizio
A expedição do jornal O Estado revelou nesta semana parte de um Pantanal que o remake da novela de mesmo nome não mostra e que o sul-mato-grossense até então desconhecia: o Payaguás dos Xarayés. Por sete dias, a equipe de reportagem percorreu 550 quilômetros de barco desvendando alguns de seus deslumbres naturais, visitando famílias de ribeirinhos, identificando problemáticas ambientais e desbravando um “alagado” de oportunidades ao segmento turístico. Entretanto, para que essa terra fértil de belezas abundantes veja um amanhã cheio de luz, pensar no aqui e agora faz toda a diferença.
É o que vem realizando o advogado Nelson Araújo Filho, presidente do Instituto Agwa. A organização que dirige, criada em 2018, nasceu como uma “pulguinha” na cabeça após tantas andanças que fez pelo bioma. “Conheci o Pantanal de cabo a rabo, montando mentalmente seu mapa. Pude compreender a dimensão do desastre do [Rio] Taquari de areias e de quanto a região é desprovida de estrutura ao trade turístico”, ressalta.
Segundo Nelson, que também é o piauiense de alma aventureira (já subiu os Andes bolivianos cinco vezes) e de coração “fechado” com MS, divulgar é o primeiro passo para o Pantanal do amanhã. “Apresentar um cenário que veio para ficar, com foco principal na sua preservação.
A natureza deu mais uma ‘chance’ ao homem, então nosso papel é mostrar como aproveitá-lo de modo consciente, conservar enquanto se produz receita – diferente do passado”, esclarece.
Caminhos possíveis
O presidente do Agwa explica que a geração de receita na região se concentra em três aspectos. “O primeiro, voltado à manutenção do ecossistema para aproveitamento de seus ativos ambientais”, cita. “O outro, reposição de fauna aquática por meio do estímulo às populações ribeirinhas para prática dos criatórios de pescado. E, por fim, o próprio turismo de contemplação, de aventura e de cunho sustentável”, detalha.
Além de Nelson, a coordenadora de Turismo do Sebrae-MS (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas), Isabella Carvalho Fernandes, afirma que um futuro turístico para todas as regiões pantaneiras só poderá ser ampliado caso haja envolvimento das comunidades locais.
“O povo precisa de estrutura, conhecimento e capacitação. O Sebrae vem levando informação, consultoria e cursos para que novos produtos surjam. Ao mesmo tempo, identificando possíveis mercados que ainda não alçaram voo e fazendo sua prospecção”, menciona, sobre o projeto Pró Pantanal.
Conforme Isabella, empresas já vêm embarcando na onda do ecoturismo e do turismo de pesca em pleno bioma. “É possível estender mercados para novas experiências, sejam elas relacionadas ao ambiente ou à cultura de sua gente.”
MS de Olho
Compromisso também confirmado pela Fundtur (Fundação de Turismo de MS), foi o que revelou o diretor-presidente, Bruno Wendling. “Acreditamos muito no potencial de toda a região, do Payaguás à Serra do Amolar”, aponta. “Por lá, por exemplo, há três anos seguimos dando apoio aos novos roteiros de ecoturismo, em parceria com o Sebrae. Projetos de TBC (Turismo de Base Comunitária) tiveram início já no mês passado para auxiliar o povoado do Rio Paraguai- -Mirim”, cita.
Wendling entende que, ao se trabalhar determinada localidade, outras também podem ser incluídas. “É que acaba indicando às pessoas que ali tem potencial. Claro que depende do apoio do setor privado, responsável pelo desenvolvimento de produtos turísticos. Ou seja, a partir de uma iniciativa pública, o investimento pode vir acontecer e se expandir.” Para ele, preservar, organizar e diversificar a oferta na região “abre portas”.
Sobre o mercado predatório da pesca, o diretor da Fundtur garante que “vem diminuindo gradativamente”. Bruno exemplifica ações de conservação do programa “Cota Zero”, que desenvolve atividades no Pantanal e em Três Lagoas para um turismo consciente.
“Como a campanha ‘Pesque, Solte e Volte Sempre’. Nossa mensagem é clara: não toleramos pescador predador – ele não é bem-vindo em MS. O turismo da pesca esportiva é crescente e seus praticantes estão com um novo perfil voltado à preservação. Há, inclusive, participação de famílias e de grupos de mulheres. É um lazer responsável, contudo quem é resistente à mudança aos poucos entenderá que esse, sim, é o caminho”, completa.
Como para “seu Tata”, 53, do rancho hospitaleiro de mesmo nome que tem endereço no alagadão do Payaguás dos Xarayés. Pescador profissional desde os 18 anos, ele é o guia que aponta o dedo pela paisagem que já sabe de cor, ensinando aos clientes que o Pantanal não é “seu”, nem nunca foi, mas “nosso”.
“Cuido porque dependo. Precisamos de peixe, verde e mato tanto quanto o turista precisa da gente nas saídas de barco para não se perder. Sobrevivência de ambos e respeito na casa da natureza”, finaliza.
Publicado originalmente em Jornal O Estado MS.
Fonte: Instituto Agwa
Publicação Ambiente Legal, 05/05/22
Edição: Ana Alves Alencar
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