Uma proposta política responsável para o reposicionamento do Brasil diante da Conferência do Clima
Por Antonio Fernando Pinheiro Pedro e Rafael Possik*
O Brasil será sede da COP30 em Belém. Esse momento pode alçar o país ao protagonismo climático global ou torná-lo refém de discursos frágeis e interesses alheios.
Mais que vitrine ambiental ou palco para discursos redundantes, a conferência deve ser um marco de reposicionamento estratégico – técnico, econômico e geopolítico.
Da Carta de Paris até agora, transcorreu uma década lotada de novas descobertas científicas, revisões geopolíticas e perspectivas estratégicas que pulverizaram teses e questionaram crenças.
São fatos, não argumentos. E esses fatos – queiram ou não uns e outros, emolduram o evento e podem alterar todo o quadro.
O Brasil, nesse transe de transições, precisa agir com muita responsabilidade e menos engajamento.
Ao lado de ativos “alinhados”, como a matriz energética, majoritariamente renovável – com boa participação eólica e solar, potencial de produção de biometano e hidrogênio (rosa e verde), perspectivas no mercado de carbono e enorme área florestal, o Brasil também se destaca na extração de petróleo e gás natural, reservas minerais privilegiadas, no potencial represado de ampliação de hidrelétricas e na possibilidade de expansão da energia nuclear.
Porém, nesse mesmo contexto, o país também enfrenta sérios entraves internos: falta de planejamento, falhas na gestão pública, insegurança jurídica, e excessiva interferência ideológica na formulação de políticas ambientais.
O quadro atual nos apresenta o Brasil como um grande barco sem rumo, à deriva, num mar geopolítico tempestuoso. Assim, entendemos necessário traçar uma rota rumo a um porto seguro, antes que o clima promova um naufágio.
Esse é o objetivo deste breve, claro e objetivo artigo.
Cinco eixos responsáveis e soberanos para a COP30
Posto isso, tratamos de propor ao seguintess eixos para a governança:
1. Foco no Desenvolvimento EconômicoA agenda ambiental deve ser compatível com segurança operacional nos setores produtivos — energia, transportes, agricultura, mineração e indústria. É imperativo que a autoridade climática não mergulhe no proselitismo dominante no segundo escalão ministerial. Assim, o comando deve permanecer sob estrito controle da Presidência da República e estreita fiscalização do Congresso Nacional, com destaque na prevenção aos eventos climáticos extremos – destacando a política articulada de Defesa Civil. Essa posição inovadora retira o discurso eminentemente preservacionista da floresta, iluminando a segurança das populações como o grande objetivo da política de clima.
2. Transição Energética com Protagonismo do Setor Privado
Programas como o PATEN – Programa de Aceleração da Transição Energética (iniciativa do governo brasileiro para promover a transição para fontes de energia mais limpas e renováveis), podem atrair parcerias público-privadas com muito mais eficácia, desde que voltados à inovação e competitividade. Por sua vez, o novo mercado de carbono (SBCE), deve receber sinalização efetiva no sentido de se evitar a burocratização excessiva. Firmadas essas duas posições, poderemos reduzir o risco do proselitismo travar investimentos e afastar capital estratégico.
3. Diplomacia Climática Técnica e Soberana
A adesão tardia à “agenda woke” e o excesso de ativismo ambiental na organização do evento, fragilizam a posição brasileira frente a grandes players como China, EUA e Rússia. De fato, essa abordagem ideologizada desvia o foco técnico da conferência e compromete a assertividade do país na defesa de seus interesses – inclusive sobre os recursos da Amazônia.
4. Segurança Energética e Matriz Tradicional
A busca por alternativas sustentáveis deve ser gradual e compatível com os compromissos de autossuficiência. O petróleo, o carvão e o gás natural desempenham papel essencial na economia mundial e, no caso do Brasil, são essenciais em vários setores. A exclusão prematura dessas fontes fere a lógica de estabilidade e soberania energética. Nos deixa reféns da tecnologia externa, em especial a euroasiática.
5. Gestão Pública Eficiente e Resultados Concretos
É preciso resgatar instrumentos como o Zoneamento Ecológico-Econômico, investir em infraestrutura hídrica, logística e planejamento resiliente. Na COP30, o Brasil deve marcar um compromisso com a implementação de políticas estruturantes, não apenas com declarações. A agenda ambiental só ganhará legitimidade se estiver conectada à melhoria de vida da população e ao fortalecimento da economia nacional.
COP30: Palco, Personagem e Roteirista
Mais do que anfitrião, o Brasil precisa ser o roteirista da própria narrativa climática. O dilema estratégico não pode ser “se vale a pena ou não investir no país”. O dilema estratégico deve ser com que estratégia, em qual território, com quais parceiros e métricas que respeitem a realidade brasileira devem ser carreados os investimentos.
A COP30 precisa ser encarado como um exercício de responsabilidade, não de penitência climática.
O país precisa deixar de cumprir cartilhas importadas e assumir seu lugar com pragmatismo, eficiência e soberania.
Conclusão
Por uma Diplomacia Climática com Propósito Nacional.
A COP30 não deve ser um ritual de autopunição ambiental nem um palco para modismos ideológicos.
O Brasil precisa assumir sua vocação como potência energética e ambiental; com autonomia, inteligência institucional e foco no desenvolvimento responsável.
Essa é uma proposta realista e pragmática para que o país não apenas ocupe o centro do debate climático — mas o conduza.
Com estratégia, soberania e credibilidade, é possível transformar a COP30 em um marco de reposicionamento global, onde o Brasil deixe de ser espectador submisso e se afirme como autor de sua própria agenda climática e econômica.
*Antonio Fernando Pinheiro Pedro é advogado (USP), jornalista e consultor ambiental. Exerceu o cargo pioneiro de Secretário Executivo de Mudanças Climáticas do Município de São Paulo, de junho de 2021 a julho de 2023. Sócio fundador do escritório Pinheiro Pedro Advogados, é diretor da AICA – Agência de Inteligência Corporativa e Ambiental. Membro do Instituto dos Advogados Brasileiros – IAB e Vice-Presidente da Associação Paulista de Imprensa – API. Foi o 1o. presidente da Comissão de Meio Ambiente da OAB/SP, presidente da Câmara Técnica de Legislação do CEBDS, presidente do Comitê de Meio Ambiente da AMCHAM, coordenador da equipe encarregada de elaborar o substitutivo do PL, no mandato do Relator – Dep. Mendes Thame, que resultou na Lei de Política Nacional de Mudanças Climáticas, consultor do governo brasileiro, do Banco Mundial, da ONU e vários outros organismos encarregados de aperfeiçoar o arcabouço legal e institucional do Estado no Brasil, integra o Centro de Estudos Estratégicos do Think Tank Iniciativa DEX, é Conselheiro integrante do Conselho Superior de Estudos Nacionais e Política da FIESP, Presidente da Associação Universidade da Água – UNIÁGUA, Editor-Chefe do Portal Ambiente Legal e responsável pelo blog The Eagle View.
Rafael Possik Jr. é estrategista em gestão, políticas públicas e inteligência corporativa. É Assessor Especial na SP Negócios, onde aplica conceitos de estratégia militar à promoção de investimentos e exportações em São Paulo. Sócio da AICA — consultoria em agronegócio, energia e sustentabilidade — lidera projetos voltados à inovação e transição verde, conectando viabilidade econômica com impacto ambiental positivo. Agro-empreendedor e professor de Agronegócio na FAAP, preside a associação de ex-alunos da instituição.
Fonte: The Eagle View
Publicação Ambiente Legal, 13/07/2025
Edição: Ana Alves Alencar
As publicações não expressam necessariamente a opinião dessa revista, mas servem para informação e reflexão.