Radiação de Fukushima contamina o Oceano Pacífico e segue adiante.
Por Antonio Fernando Pinheiro Pedro
O mundo foi abalado pela tragédia do enorme tsunami que destruiu o Japão em 2011, precedido de um tremor de terra tão forte quanto o ocorrido no Chile em 2010. A onda superou toda lógica de prevenção da engenharia civil japonesa. Invadiu a área de proteção do complexo nuclear da TEPCO, em Fuksushima, inundou e inutilizou a refrigeração de água dos reatores, destruiu o sistema de resfriamento de emergência e, com isso, causou o superaquecimento e o colapso. O resultado foi um tsunami de radiação que hoje se espalha para todo o oceano pacífico.
Um desastre sem precedentes
Três reatores nucleares derreteram e o que aconteceu em seguida foi a maior liberação de radiação na água, na história do mundo. Durante os três meses seguintes, os produtos químicos radioativos, alguns em quantidades ainda maiores do que Chernobyl, vazaram. Seguiram direto para o Oceano Pacífico.
O que ocorre hoje, passados vários anos do acidente, deveria preocupar e motivar um alerta mundial.
A expansão da radiação pelo oceano pacífico parece estar causando danos em escalas monstruosas, que só não “preocupam” as autoridades internacionais pelo simples fato de não terem sido ainda – e isso parece ser deliberado – correlacionados e relacionados ao acidente.
O comportamento dos governos do Pacífico e dos organismos internacionais, merece uma análise no campo dos romances de suspense e ficção científica. Adotaram a cegueira deliberada – algo que sempre precedia, nos roteiros dos filmes B, americanos e japoneses, dos anos 50, o surgimento dos monstros.
Nos anos 50, o mistério sobre os efeitos da radiação decorrente das explosões nucleares estimulava o imaginário das pessoas. Monstros como “Godzilla” surgiam na tela para cobrar da platéia a fatura da imprevidência humana. Agora, no entanto, a tecnologia e o monitoramento em tempo real não dá espaço para a imaginação.
Várias são as evidências de que algo não vai bem com o oceano pacífico, e que essa onda de eventos cronologicamente se iniciou em Fukushima.
Radiação e temperatura impressionantes
Fato: Fukushima continua a vazando sem controle, por dia, espantosas 300 toneladas de resíduos radioativos no Oceano Pacífico.
Essa radiação ocorre sem qualquer definição, pois a fonte do vazamento está sem controle, rompeu o selo com o acidente e entrou em fusão. Não há qualquer condição de acesso de humanos à sua estrutura e todos os robôs enviados simplesmente derreteram, por conta dos altos níveis de radiação e temperatura.
Por mais que se ponha uma venda institucional sobre os olhos de todo o planeta, não há como não deduzir que esse despejo sem controle não esteja todos esses anos contaminando todo o Oceano Pacífico. E de fato está.
As imagens de acompanhamento periódico dos satélites especificamente aparelhados para isso, como é o caso do NOAA, pertencente ao sistema de monitoramento que dá origem á sigla e pertence ao governo Norte Americano, mostram como as correntes marítimas do pacífico tratam de espalhar os resíduos contaminantes, “colorindo” as regiões do oceano e várias costas dos continentes afetados.
É sem dúvida o pior desastre ambiental da história humana, embora quase nunca abordado por políticos, cientistas ou imprensa, em tempos de “não verdades”…
Interessante notar que a TEPCO é uma subsidiária da General Electric (GE). Isto levou, até agora, 1,4 mil cidadãos japoneses a processar a GE por seu papel no desastre nuclear de Fukushima. As decisões, no entanto, permanecem um mistério nos bancos de dados acessíveis pela internet.
Radiação chega à América
A radiação não é algo que se veja, cheire ou tateie. Seus efeitos, no entanto, são duramente sentidos. Ela penetra, queima, destrói, modifica, altera geneticamente e mata.
Várias regiões costeiras na América do Norte e Central, já começam a testemunhar esses efeitos.
No México, animais portadores de alterações genéticas inexplicáveis aparecem mortos nas praias da região de Colima, ao norte de Acapulco.
No Canadá, há relato de peixes que começaram a sangrar pelas brânquias, bocas e olhos. Cardumes inteiros foram atingidos. Embora essa “doença” seja ignorada pelo governo canadense, ela está dizimando populações de peixes nativos, incluindo o arenque do Pacífico Norte.
Cientistas canadenses já observaram um aumento de 300% no nível de radiação no Oceano Pacífico. A resposta é que ainda assim a radiação não preocupa – embora esteja claro que ela está aumentando a cada ano…
No Estado do Oregon, nos Estados Unidos, estrelas do mar começaram a perder as pernas e depois se desintegrarem completamente. Esse fenômeno começou a ocorrer quando a radiação de Fukushima atingiu a costa norte-americana em 2013.
A mortandade de sardinhas também é outro fenômeno trágico.
No início de 2011, a população de sardinhas estava absolutamente em expansão. “Nos últimos 100 anos, o número de peixes pequenos – como sardinhas, arenque, anchovas – mais do que dobrou”, era a notícia do Daily Mail em fevereiro de 2011 – poucos meses antes do tsunami bater no reator nuclear Fukushima-Daiichi.
Agora, cardumes inteiros, com toneladas de sardinhas, aparecem desnorteados e morrem nas praias do norte do continente americano.
É evidente que o enorme declínio de peixes segue uma série de ocorrências oceânicas estranhas que parecem ter surgido em sincronia com o momento da crise nuclear – só as fontes oficiais não reconhecem isso ou tratam de relacioná-los.
Há um rumor de que 98 por cento do fundo do oceano está coberto com criaturas marinhas mortas. Embora a notícia pareça de uma obviedade acaciana, o problema está no aumento desse volume de deposição, da ordem de 97% nos últimos dois anos.
“Nos 24 anos de estudo sobre a deposição de matéria morta no fundo do oceano, os últimos dois anos têm indicado as maiores quantidades deste tipo de detritos de longe”, afirmam os biólogos marinhos do Instituto de Pesquisa do Aquário da Baía de Monterrey à National Geographic Magazine, em novembro de 2015.
Interesses econômicos em jogo
O bloqueio de mídia internacional não é gratuito.
O Oceano Pacífico é a meca do turismo mundial. Ilhas e arquipélagos dependem inteiramente do turismo para sobreviver.
A pesca é uma indústria importantíssima e a imensa maioria de culturas nos continentes banhados pelo pacífico adota o regime alimentar a partir dos frutos produzidos pelo oceano.
O desastre atômico de Fukushima, portanto, é tratado pelos governos como uma doença crônica, adquirida, mas incurável, com a qual todos os humanos deverão conviver, e face à qual se irá buscar ampliar a resiliência.
As corporações envolvidas no desastre, por outro lado, também estão sob risco, e esse risco envolve não apenas o Estado Japonês, mas também a economia norte americana. Não há indenização possível que não custe o esgotamento econômico das empresas, bancos, seguradoras e governos.
Assim, como já dito em tom de piada pelos surfistas que fazem do Pacífico sua grande meca, o próximo passo é desenvolver roupas contra a radiação para continuar a praticar o esporte.
À espera de Godzilla
A mortandade marinha ocore agora em quantidades recordes. De fato, todo o ecossistema oceânico na área do Pacífico está em risco.
No entanto, Fukushima não terá um impacto maior apenas na costa oeste da América do Norte e América Central. Cientistas apuram que o Oceano Pacífico, atualmente, está entre 5 a 10 vezes mais radioativo que no período em que o governo dos Estados Unidos detonou inúmeras bombas nucleares no Pacífico, durante a guerra e nos anos posteriores, experimentalmente, seguido da França (atol de Bikini) e Inglaterra (Ilhas Monte-Belo, na Austrália) anos 40 e 50 no Século passado.
Todos sabemos os efeitos terríveis provocados nos seres humanos que participaram desses experimentos nucleares em escala militar, e o nível de danos ocasionados na geografia e biologia marinha – avaliados e apurados nas décadas posteriores – razão para que fossem interrompidos na região do Pacífico e fossem, doravante, simulados ou efetuados em escala controlável nos subterrâneos de instalações em terra firme.
Mesmo assim, a imaginação popular construiu monstros marinhos e insetos estranhos no deserto de Nevada, nos EUA, que se popularizaram nos filmes de ficção científica.
Agora, no Século XXI, após o desastre de Fukushima, o Japão, pai de Godzilla, produz níveis de radiação ainda maiores que as produzidas pelos artefatos bélicos, no mesmo oceano, e o mundo é tomado de profundo silêncio.
O monstro sairá do campo da imaginação?
O que estamos todos esperando?
Antonio Fernando Pinheiro Pedro é advogado (USP), jornalista e consultor ambiental. Sócio diretor do escritório Pinheiro Pedro Advogados. Integrante do Green Economy Task Force da Câmara de Comércio Internacional, membro do Instituto dos Advogados Brasileiros – IAB, das Comissões de Política Criminal e de Infraestrutura e Sustentabilidade da Ordem dos Advogados do Brasil – OAB/SP. É membro do Conselho Consultivo da União Brasileira de Advocacia Ambiental, Vice-Presidente Jurídico da Associação Paulista de Imprensa – API, Editor-Chefe do Portal Ambiente Legal e responsável pelo blog The Eagle View.
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