O plágio de Joseph Goebbels, perpetrado pelo Secretário de Cultura, acende a luz amarela no governo federal para infiltração nazista
Por Antonio Fernando Pinheiro Pedro*
O ovo da serpente só pode ser observado quando posto contra a luz. Aí o monstro se revela.
No caso brasileiro, a transparência da mídia, tão combatida pelos obscurantistas e idiotas do establishment, revelou a serpente do nazifascismo inoculada em um ovo posto em pleno governo Bolsonaro – para sorte deste, que sempre defendeu a liberdade de expressão pelas redes sociais.
Pastiche nazista
O secretário especial da Cultura, Ricardo Alvim, (também usa o nome Roberto Alvim) publicou vídeo na noite da quinta-feira (16 de fevereiro), parafraseando um conhecido discurso de Joseph Goebbels, Ministro da Propaganda na Alemanha Nazista, sobre as artes. O objetivo era divulgar o Prêmio Nacional das Artes, apresentado horas antes em live com a participação do próprio presidente Jair Bolsonaro.
Ricardo Alvim surge no vídeo com pastinha no cabelo, ar solene, ao som da ópera Lohengrin, de Richard Wagner como fundo musical – que o próprio Adolf Hitler menciona em sua autobiografia – “Mein Kampf”, tê-lo inspirado seguir o caminho da política.
Disse Ricardo Alvim:
“A arte brasileira da próxima década será heroica e será nacional. Será dotada de grande capacidade de envolvimento emocional e será igualmente imperativa, posto que profundamente vinculada às aspirações urgentes de nosso povo, ou então não será nada”.
Não só na forma, como no conteúdo, o vídeo remete ao ministro da propaganda de Adolf Hitler. Afinal, disse Joseph Goebbels:
“A arte alemã da próxima década será heroica, será ferreamente romântica, será objetiva e livre de sentimentalismo, será nacional com grande páthos e igualmente imperativa e vinculante, ou então não será nada”.
Goebbels, quando disse a frase em 1933, pretendia conferir uma “nova ordem germânica” ao caos da moribunda República de Weimar, “subjugada pelo bolchevismo”. Ricardo Alvim, pelo que disse na “‘live” gravada anteriormente com o Presidente, pretendia resgatar a “cultura nacional”, destruída pelo caos imposto pelo “marxismo cultural”.
O problema não está na música e nem mesmo na estrutura das frases. Em si, elas não configuram um mal. O problema está nas circunstâncias e efeitos culturais dessa imposição em prol da “ordem” pretendida contra o “caos” presumido. No caso de Goebbels, com o agravante racista e voltado à perversão absoluta da ordem democrática ocidental em prol do caos nazista, cujos resultados nós podemos até hoje sentir.
Nesse diapasão, o Secretário Alvim poderia ao menos ter evoluído do pastiche nazista e ido adiante, para citar Nietzsche:
“É preciso ter um caos dentro de si para dar à luz uma estrela cintilante.”
Imitar Goebbels inadvertidamente também não é crime. Todo publicitário marqueteiro faz isso e agitadores políticos o plagiam sistematicamente, à esquerda e à direita.
Porém, fazê-lo com Wagner ao fundo, exige citação e remissão bibliográfica…
Minimizar o fato, portanto, é tão grave quanto apoiá-lo.
Transmitiu a mensagem parafraseando Goebbels, com fundo musical wagneriano -para ratificar a natureza do ato. Um insulto à memória de brasileiros que morreram na II Guerra para extirpar o nazismo do planeta; um insulto ao Estado de Israel, que surgiu como país com o apoio histórico do Brasil, após a derrota do nazismo; um insulto à nossa diversidade étnica, religiosa, sexual e cultural, ao nosso pluralismo político e à democracia reconhecidamente mais pujante do planeta – ainda que imperfeita (como qualquer democracia).
A ingenuidade, nesse caso, é crime. Não há desculpa para a atitude do Secretário Alvim, e a demissão era a única medida possível a ser adotada pelo Presidente da República.
Sinal de alerta
Ironias à parte, o fato fez acender uma luz de alerta no dispositivo do governo do Presidente Jair Bolsonaro, já diuturnamente assediado pelos ataques do estrebuchante establishment e da desesperada esquerda brasileira, ambos em síndrome de abstinência do Poder.
No exercício de um cargo público federal, o indigitado Ricardo Alvim transmitiu uma mensagem NAZISTA – um dog whistle, na linguagem de inteligência – sinal cifrado dirigido à própria matilha.
O comportamento seria escandaloso em qualquer país. Mas é preocupante no caso brasileiro, pelo histórico de tentativas do extremismo de direita se instalar em nosso Estado.
Ricardo Alvim não estava sozinho na estrutura de governo e na articulação de apoio ao presidente Bolsonaro. É preciso interromper essa infiltração ideológica de extrema direita no governo, a qualquer custo.
O governo Bolsonaro foi eleito para resgatar o país do jugo do establishment parasita, formado pelo lodo da corrupção, do fisiologismo, do rentismo, da parasitagem cultural e da burocracia.
Esse lodaçal disfuncional chamado establishment, não guarda qualquer compromisso com a Nação. Ele se mantém entranhado no “deep state” – o Estado Profundo, de onde emite sinais trocados à cidadania. Assim age, como reação ao risco crescente de ver-se desalojado da organização política da sociedade.
A organização partidária expressa toda a reatividade do lodaçal disfuncional em que o Estado ainda chafurda. Por ela é possível observarmos como os parasitas da República se defendem da cidadania interagindo com o parlamento e os organismos de controle judiciário, justamente para continuarem a produzir a mesmice.
Essa guerra contra um inimigo encastelado nas instituições públicas, na grande mídia, na academia e nas organizações multilaterais, já sabíamos que o governo Bolsonaro iria enfrentar em repetidas e duras batalhas.
No entanto, a infiltração fascista parece ocorrer na retaguarda, entre as hostes que formam grupos de pressão dentro do governo, aparentemente próximas do presidente. Esse grupo, desde o início do mandato presidencial, trata de afastar aliados e provocar cisões com o objetivo evidente de isolar o presidente e assumir o núcleo do poder.
O presidente Bolsonaro é rápido e astuto o suficiente para perceber o problema, que agora se escancara. Assim, é hora de agir e é também preciso manter constante vigilância contra um inimigo histórico da sociedade brasileira.
A tentação nazi-fascista, somada à bajulação populista, pode destruir a governabilidade do presidente.
Um problema cíclico
O problema é cíclico, e aflige o Estado brasileiro desde o seu surgimento, nos anos 20 do século passado.
Getúlio Vargas percebeu isso nos anos 1930. Ele foi apoiado de início à esquerda e à direita, pelos comunistas, pelos nazistas e pelos integralistas, em especial no combate aos liberais conservadores – identificados pelos tenentistas e revolucionários gaúchos com a aristocracia paulista da velha república.
Vencidos os conservadores constitucionalistas, a bala, em 1932, Vargas ensaiou um restabelecimento da democracia republicana com a Constituinte de 1934. Porém, até mesmo em função do ambiente internacional efervescente e radicalizado, foi obrigado a debelar uma tentativa sangrenta de golpe comunista em 1935, instalando em seguida o Estado Novo, em 1937, se antecipando aos próprios fascistas que o apoiavam, proibindo por decreto as atividades partidárias, visando especialmente conter a articulação de extrema direita.
O Levante integralista, em 1938, foi debelado a ferro e fogo, iniciando o período de controle policial sobre as atividades nazifascistas no Brasil.
A caça das organizações de segurança do Brasil ao fáscio e à suástica, iniciou-se efetivamente, portanto, a partir de 1938. Quatro anos depois, em 1942, o Brasil ingressa na II Guerra Mundial, ao lado dos Aliados.
Legalmente, o Partido Nazista funcionou no Brasil de 1928 a 1938. Nesse período ocorreu a formação da juventude hitlerista brasileira, a criação da Volksgemeinschaft (Grande Comunidade Nacional), de alemães residentes além da fronteira do Reich e, finalmente, o repatriamento dos alemães que aqui moravam para a “Grande Alemanha”, através de trocas de câmbio favoráveis. A organização da Ação Integralista Brasileira tem relação direta com todo esse movimento, encarnado por Plínio Salgado, exilado em Portugal após ver 1500 seguidores encarcerados pelo regime do Estado Novo em 1938.
Após o final da II Guerra, com a queda do regime varguista – no final apoiado até mesmo pela liderança comunista, o Departamento de Ordem Política e Social continuou sua atividade de vigilância, empenhado na caça aos nazistas refugiados na América do Sul e preocupado com a infiltração de extrema direita nos governos da república.
Em 1949, o DOPS publicou um comunicado interessante no Jornal “O Estado de São Paulo”, a propósito de reportagens sobre o problema, nos termos seguintes:
“Vigilantes estamos para todas as formas de extremismo aqui alimentadas, sejam da esquerda, como o comunismo, sejam da direita, como o fascismo e o nazismo. Permanecemos na nossa mesma linha de conduta, linha observada desde o advento da política de carreira deste Estado”, declarou o órgão policial.
A direita brasileira intentou golpear a república, na década de 1950, por duas vezes, em levantes militares rapidamente controlados pelas próprias forças armadas. Em 1964 deu-se a articulação populista de esquerda, visando instalar um regime “popular” nos moldes castristas, como publicamente professado pelo histórico líder do partido comunista Luis Carlos Prestes que declarara expressamente em entrevista à imprensa: “Já estamos no poder, embora ainda não tenhamos o governo nas mãos”…
Não restava alternativa. Após gigantescas manifestações populares – hoje homiziadas pela história reescrita pelo establishment, instalou-se um governo militar, que encerrou as atividades partidárias, cassou mandatos, reescreveu a constituição federal e impôs férrea repressão, sem descurar de manter-se legitimado por meio de uma ampla reforma do Estado que conferiu um novo patamar econômico e social ao país. na década seguinte.
No entanto, ainda que tenha o regime derivado à direita. Os militares brasileiros não cederam à tentação populista e não descuraram de manter contínua caça aos nazistas e extremistas dentro das próprias fileiras das Forças Armadas e na estrutura de governo.
Tentativas de golpe à direita foram enfrentadas e rechaçadas por Médici, Geisel e João Figueiredo – do desmantelamento do dispositivo do General Frota ao desmonte da célula extremista abortada com a explosão das bombas no Riocentro, em 1981.
Células nazistas foram debeladas em São Paulo e Rio Grande do Sul e os caçadores de criminosos de guerra, ao contrário de outros países latino-americanos, tiveram todo o apoio das autoridades para localizar carniceiros e encurralar dignatários nazistas foragidos – os casos de Franz Wagner, da ossada de Mengele e do seminário dos padres nazistas na Serra da Mantiqueira, são exemplos importantes dessa luta.
Na Nova República, tratou-se de impor firme combate ao extremismo, que no entanto foi aos poucos se impondo por meio do populismo, na razão direta do esgarçamento institucional observado nos organismos de controle da ordem política no Estado.
Essa crescente inoculação do vírus populista propiciou uma inversão absoluta de valores – imposta com método gramsciano pela esquerda populista nas estruturas de educação, justiça e segurança pública. Por sua vez, num verdadeiro jogo de máscaras e sinais trocados, a introdução do biocentrismo fascista e da política de esgarçamento social identitária no sistema de gestão ambiental e de direitos humanos brasileiro, empoderou comportamentos jusburocratas deslumbrados e militâncias travestidas de função pública, acarretando contínua redução das liberdades de expressão e morte da iniciativa privada.
Esse empoderamento do controle social populista foi acompanhado de impressionante judicialização da vida pública, submissão do funcionalismo público à vontade do promotor da esquina e paralisação de todas as obras de infraestrutura necessárias á manutenção da soberania do País.
Esse ovo da serpente eclodiu no período tucano-petista, principalmente em função das atitudes pusilâmines de quadros covardes que dominaram a política nacional.
Foram rechaçados sistematicamente pelo povo brasileiro, em demonstrações de mobilização históricas, entre 2o13 e 2018, e que ainda ocorrem periodicamente, a cada ameaça de restabelecimento da baderna pelo combalido establishment.
Restabelecendo a ordem
A praga populista é o que busca hoje a sociedade rechaçar, após a grande reação imposta pelo eleitorado brasileiro contra os escândalos de corrupção e desmandos ocorridos nos governos tucanos e petistas, entre a última década do século passado e as duas décadas do século XXI.
A praga populista à esquerda e à direita, é indutora de ódio, desagregação social e totalitarismo. É também oportunista, ressurge nos momentos de mudanças radicais, seja na eleição de candidatos de direita, após o fracasso de governos esquerdistas, seja na instalação de governos esquerdistas, visando sempre vampirizar a popularidade atribuída aos reais promotores da mudança ou induzí-los, pela bajulação ou pela cooptação, a patrocinarem a causa totalitária.
A preocupação, de fato, é mundial. Para muito além da bobajada produzida pela mídia tupiniquim, norte americana e europeia, o populismo, em suas mais variadas formas, constitui objeto de atenção da inteligência dos estados nacionais, como revela recente relatório da CIA – Agência Central de Inteligência Norte Americana, que destaca o problema em várias passagens, como no escólio abaixo:
“líderes e movimentos populistas – sejam de direita ou de esquerda – podem usar as práticas democráticas para conseguir apoio popular com o objetivo de consolidar o poder em um Executivo forte, provocando a erosão lenta e constante da sociedade civil, do estado de direito e das normas de tolerância.”*
Bolsonaro é pintado diuturnamente pelo establishment como um líder populista, mas, de fato, representa a vanguarda de luta pelo restabelecimento do conservadorismo liberal, e pelo restabelecimento da ordem pluralista. Foi eleito para isso e para combater o populismo. Nisso tem o apoio firme da sociedade de bem e das forças armadas.
A tentação populista parece estar nublando a transparência necessária à manutenção da legitimidade do governo, que foi eleito contra um establishment perverso e difícil de debelar.
Há um núcleo, próximo ao planalto, que parece articular ações de infiltração nazifascista no organismo do governo atual. Esse núcleo precisa ser detido.
A reação do Presidente da República, após hesitar por algumas horas, foi extremamente importante. No entanto, é hora de Bolsonaro reafirmar sua postura antipopulista – várias vezes já declarada, promovendo uma reforma no governo para dele retirar os responsáveis pelo proselitismo que flerta perigosamente com o extremismo de direita. Esse proselitismo é tão ou mais pernicioso que o flagelo do marxismo cultural que todos nós pretendemos extirpar da sociedade brasileira.
Pouco importa se o presidente pareça assumir, com certa frequência, um comportamento populista ou se envolver em embates retóricos absolutamente midiáticos – que subjetivamente o empurrem para o canto da radicalização direitista caudilhesca. Objetivamente sua postura é antipopulista e sua missão é debelar o populismo até aqui vigorante pelas ações construídas no período tucano-petista.
O próprio conjunto da articulação que confere suporte ao seu governo, e o distingue positivamente no campo estruturante da gestão, não coonestará com qualquer desvio do Presidente. Isso inclui o próprio estamento militar.
Não à toa, nossas Forças Armadas mantém firme doutrina anti populista.
A sociedade que apoia o governo, a elite pensante não comprometida com a bajulação e com os mesquinhos interesses burocráticos e financeiros de ocasião, bem como as lideranças que não foram apodrecidas pelo establishment, mantém-se avalistas do governo e apoiadoras das reformas necessárias ao país. Estão irmanadas com as forças armadas e vigilantes quanto a qualquer tentativa de transgressão à ordem democrática.
Percam a esperança, portanto, aqueles que imaginarem adesão militar e da sociedade a estultices populistas de direita no Brasil (e de esquerda também – esteja dito).
Notas:
PEDRO, Antonio Fernando Pinheiro – “Populismo, Catarse e Tragédia”, in Blog The Eagle View, 24abril2017 – in https://www.theeagleview.com.br/2017/04/populismo-catarse-e-tragedia.html
PEDRO, Antonio Fernando Pinheiro – “Hora de Decidir o Caminho da Renovação”, in Blog The Eagle View, 17set2018, – https://www.theeagleview.com.br/2018/09/hora-de-decidir-o-caminho-da-renovacao.html
PEDRO, Antonio Fernando Pinheiro – “Hora de Resgatar a Liberdade, a Igualdade, a Fraternidade e a Laicidade” – in Blog The Eagle View, 21novembro2015 – in https://www.theeagleview.com.br/2015/11/hora-de-resgatar-liberdade-igualdade.html
CIA – A Nova Era (“Global Trends 2035”) – Tradução Claudio Blanc, Geração Editorial – Março 2019, SP (*p 59)
DIETRICH, Ana Maria – “Caça às Suásticas”, Ed. Humanitas/Fapesp/ Imesp, 2007, SP
*Antonio Fernando Pinheiro Pedro é advogado (USP), jornalista e consultor ambiental. Sócio diretor do escritório Pinheiro Pedro Advogados. Membro do Instituto dos Advogados Brasileiros – IAB. Vice-Presidente da Associação Paulista de Imprensa – API. É Editor – Chefe do Portal Ambiente Legal, do Mural Eletrônico DAZIBAO e responsável pelo blog The Eagle View.
Fonte: The Eagle View