Por Armando Arruda Lacerda
A mais alta autoridade governamental do meio ambiente usou o assoreamento dos rios como causa da tragédia com as chuvas na região de Porto Alegre RS, mote que expressamos nossa concordância como moradores da planície, pois na seca o pantaneiro percebe que as águas voltarão, e mesmo poucas chuvas no planalto adjacente, acelerariam as águas e as tornariam destrutivas em rios e lagoas de leitos tornados convexos por acúmulo de sedimentos …
Além do assoreamento causado pelas velozes e furiosas águas do planalto, neste pulso de seca os rios pantaneiros sofreram brutal devastação nas suas matas ciliares nos parques e reservas das imensas áreas “protegidas”, regularizadas ou não, adquiridas por investidores de ocultas “chartered companies” para usufruto num mercado bilionário futuro de commodities ambientais.
A cada ano, redobra-se o esforço midiático e de espetacularização dos animais queimados, para conquistar o público urbano, com a emoção obliterando o raciocínio quanto às verdadeiras causas dos sinistros.
Os pantaneiros tão injustamente processados como causadores dos incêndios de 2020, aprenderam como usar em sua defesa as imagens de satélite, que terminaram por inocentá-los ao apontar os verdadeiros responsáveis.
A lógica de incêndios para aumentar pastagens, que vigora na Amazônia, não se aplica ao Pantanal, a não ser onde a cupidez transformou áreas de cerrados lenhosos e matas em mata atlântica, com significativo aumento de gramíneas invasoras, a cada incêndio anual, como podem ser comprovados na Rede e Parques e Reservas no Rio Negro, e seus fracassados sistemas de SOSs pantanais e milionários monitoramentos e brigadas particulares
Foram quatro anos mas pareceram décadas, com os verdadeiros especialistas em incêndios, os Corpos de Bombeiros Militares dos Estados de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul compartilhando o duro trabalho com os pantaneiros das fazendas, conhecedores práticos das peculiaridades de cada região do Pantanal, cooperação que enriqueceu e potencializou a mútua confiança na atuação conjunta.
Acumulam-se dados trazendo o novo normal como fogo em subsuperficie e subsolo, fogo em turfa combustível, usar a modéstia preventiva e curativa de molhar as matas ciliares a partir dos corpos de água, equipamentos disponíveis a grupo de fazendas e compartilhamento desses grupos regionalizados com salas de controle dos bombeiros
Novos indicativos atribuem o papel aleatório das ignições no Pantanal, seja nas rodovias ou rios navegáveis, tanto nas ferrovias como nos morros plenos de cristais de quartzo e até mesmo na auto combustão do metano de animais soterrados quando o sol e vento crestarem a superficie argilosa e permitirem a entrada abrupta de oxigênio.
O Pantanal não vai acabar, ele sobreviverá na medida que conseguirmos expõr a destruição que esta estrangeirização forçada já nos impôs, todos os que têm preocupação legitima com a sustentabilidade futura , deveriam estudar e buscar a humildade para entender a cultura do Pantanal, ou seja, iniciar apantaneirizando seus mitos e pré conceitos.
Assumamos o compromisso de tornar o fogo um assunto sério, impedindo o fogo de continuar a pular amarelinha com as margens dos rios pantaneiros, reservas tão próximas da água mas tão distantes do óbvio senso comum.
Fonte: Instituto Agwa
Publicação Ambiente Legal, 19/09/2024
Edição: Ana Alves Alencar
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