Seria o homem responsável por uma nova era geológica? Quais os limites científicos para um discurso ideológico?

por Antonio Fernando Pinheiro Pedro
Estudos científicos de variadas origens têm indicado que as mudanças climáticas, a mudança de PH dos oceanos, a erosão e a contaminação dos solos, bem como as ameaças à biodiversidade são reflexos de atividades antrópicas, ou seja, do ser humano.

Com base nessa constatação, concluem os estudos, seria possível classificar o atual momento do planeta como uma nova era geológica moldada pelo ser humano.
Segundo a União Internacional de Ciências Geológicas (IUGS), organização profissional encarregada de definir a escala terrestre do tempo, estaríamos oficialmente no Holoceno (“inteiramente recente”), era geológica que começou apenas 11.700 anos atrás, após a última era glacial principal.
“Mas esse rótulo é ultrapassado”, dizem alguns especialistas tidos como “biocentristas”. Eles defendem o conceito “Antropoceno” para o que entendem ser a nova era: antropo- de “homem”, e cene – por “novo”. Isso porque entendem estar a espécie humana causando extinções em massa de espécies vegetais e animais, poluindo os oceanos e alterando a atmosfera, entre outros impactos duradouros.
Antropoceno tornou-se um chavão ambiental desde quando o químico atmosférico e Prêmio Nobel de Química de 1995, Paul Crutzen, popularizou o termo em 2000, para determinar as mudanças no planeta ocasionadas pelo homem a partir do início da Revolução Industrial.
No ano de 2012, devido à Conferência das Nações Unidas Sobre Desenvolvimento Sustentável – Rio +20, a palavra pegou velocidade em círculos de elite da ciência: o termo apareceu em cerca de 200 artigos peer-reviewed. A conhecida editora científica internacional, Elsevier, cehgou a lançar, a propósito, uma nova revista acadêmica intitulada “Antropoceno”.

A Comissão de Estratigrafia da Sociedade Geológica de Londres, entidade tradicionalíssima do império britânico iria definir se a Terra continua no Holoceno (atual época geológica iniciada com o fim da última glaciação, há cerca de 10 mil anos), ou se as mudanças ocorridas são suficientes para demarcar uma nova era, caracterizada pela determinante influência humana sobre a geografia do planeta.
No entanto, apesar da enorme pressão de parcela da comunidade científica inglesa, face inclusive à ocorrência da Conferência das Nações Unidas denominada “Rio+20”, sobre Desenvolvimento Sustentável, a entidade, na Conferência de 2012, hesitou…
A questão submetida à Sociedade Geológica de Londres, já havia sido analisada, no entanto, pela Sociedade Geológica Norte-Americana, a qual, respondeu afirmativamente à transição do Holoceno para o Antropoceno.
A União Internacional de Ciências Geológicas – IUGS, reuniu, então, um grupo de estudiosos para decidir em 2016, se oficialmente irá declarar que o Holoceno acabou e o Antropoceno começou.
Na verdade, muitos Estratígrafos (cientistas que estudam as camadas de rocha) criticam a idéia, dizendo não haver clara evidência de uma nova era. Dizem os cientistas estratígrafos australianos, por exemplo que, nas rochas exaustivamente pesquisadas, a dita era do Antropoceno “simplesmente não está lá”. “Quando você começar a nomear período geológico de tempo, você precisa definir qual exatamente é o termo limite e onde ele aparece nos estratos de rochas”, diz Whitney Autin, um estratígrafo do Colégio SUNY de Brockport – Austrália, que sugere ser o Antropoceno “mais cultura pop que ciência” – em recente entrevista concedida ao jornalista Joseph Stromberg para o Smithsonian Magazine (Janeiro de 2013).
A questão crucial, dizem os estratígrafos, é especificar exatamente quando os seres humanos começaram a deixar sua marca no planeta: a era atômica, por exemplo, deixou vestígios de radiação no solo, ao redor do mundo, enquanto os níveis mais baixos nos estratos de rocha já contém alguma assinatura da agricultura praticada na Europa a partir de 900 DC. De todo modo, o Antropoceno, diz o Dr. Autin, “fornece atraente jargão, mas, no aspecto geológico, é preciso que os fatos sejam postos a nú, em rochas e ossos, e que se encaixem no código” (método científico).
O assunto é bastante interessante. No entanto, não pode ser observado seriamente, sem antes constatarmos a contaminação ideológica ocorrente no tema.

É patente a contradição BIOCÊNTRICA na presente discussão.
Para quem não sabe, o Biocentrismo é uma corrente ideológica que, de forma aparentemente “franciscana”, visa igualar em tratamento, perante a Lei, homens e natureza. No entanto, a corrente termina por deslocar o ser humano do centro das preocupações para com as ações públicas de proteção do equilíbrio ambiental, DESUMANIZANDO a norma legal e a justiça.
Sobre essa desumanização no tratamento das questões ambientais, já me manifestei em artigo bastante conhecido, que foi recentemente republicado (leia em https://www.ambientelegal.com.br/morte-ao-biocentrismo-fascista-ii-o-retrocesso-do-avanco )
O curioso dessa questão toda é que o Biocentrismo, acaba por gerar o mais profundo ANTROPOCENTRISMO, pois, a título de culpar o ser humano por todos os males e alterações sofridas pelo planeta terra no transcorrer da chamada ” revolução industrial”, passam os biocentristas a entender os humanos como tão capazes de promover alterações geomórficas quanto a natureza…
Quem observa a diminuição, em apenas um ano, da temperatura média da terra, por conta da erupção de três vulcões, ou a morte de meio milhão de pessoas por conta de uma tsunami, ou mesmo a absurda interferência eletromagnética sofrida em nosso globo terrestre por conta da emissão ocasional de plasma solar (para ficarmos restritos a alguns fenômenos ocorridos nesta década) não pode entender a tragédia humana e ecológica ocasionada pela poluição humana, ocorrente nos últimos 300 anos, como capaz de produzir, no mesmo planeta, mudanças com tamanha intensidade. O planeta é maior que as espécies que nele habitam, as quais, aliás – incluso a humana, hoje, representam menos de 1% das que já habitaram o planeta…
Assim, com relação ao chamado “Antropoceno”, diria aos operosos cientistas americanos e ingleses: “menos, meus caros, menos”…
Os DINOSSAUROS produziram, em milhões de anos, mais alterações que os humanos em poucos séculos, e foram varridos pela NATUREZA e seus fenômenos mais que perversos. Não somos dinossauros, nem temos o mesmo período de vida sobre a terra e… embora nos tenhamos como semelhantes a DEUS, também não somos ele.
Por mais que possamos impactar a geomorfologia do planeta, ainda somos fruto das circunstâncias bio-geológicas e climáticas, não protagonistas determinantes de todo esse processo.
Nesse discurso biocentrista… há mais arrogância que ciência, definitivamente.
texto originalmente publicado no Blog The Eagle View (www.theeagleview.com.br)
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Olá
Estou escrevendo um capitulo de um livro que a UNIFESP irá publicar, cujo assunto foi a minha monografia de conclusão de especialização, tema que eu escolhi : Ecopsicologia.
Gostaria de solicitar a permissão para utilizar a imagem da involução acima. Ela é de livre uso?
Grata
Leila
Pode usar, Leila.