Aplicar em produção de energia por combustíveis fósseis pode se tornar um risco, diz especialista
Por Danielle Denny

Aplicar em empresas produtoras ou com uso intensivo de energia normalmente é uma opção rentável e segura, recomendam analistas e administradores de carteiras. Esse paradigma está prestes a ser alterado, segundo Mark Campanale, da Carbon Tracker. Ele antevê a iminência do estouro de uma bolha, similar ao que aconteceu em 2007. “Naquela época eram os sub primes os ativos podres, agora serão os negócios dependentes de grandes emissões de carbono”, afirma.
Por essa lógica, Mark calcula que 80% do que está sendo investindo em produção ou uso de energia originada de petróleo, carvão ou gás se tornará ativo encalhado, pois vai ser impossível emitir a quantidade de carbono necessária para utilizar essas novas plantas, assim, para ele, as empresas estão desperdiçando recursos, seria melhor pagar dividendos aos investidores.
Lord Stern of Brendtford, presidente do Grantham Reserach Institute on Climate Change and Environment, é ainda mais incisivo: “investidores inteligentes já podem ver que as reservas de combustíveis fósseis são intocáveis essencialmente devido à necessidade de reduzir as emissões”. Dessa forma, aplicar em empresas contando com essas reservas está se tornando uma decisão arriscada.

Quanto ao pré-sal, ele pode corresponder a 6% do petróleo do mundo, aumentando significativamente o estoque de recursos a serem explorados pela Petrobras e por outras empresas. Contudo, se o custo de produção superar os US$50,00 o barril, será inviável economicamente, estima Gustavo Pimentel, da Sitawi Finanças do Bem. Por enquanto as planilhas de custo futuro do pré-sal indicam um valor inferior a esse, além disso, comparando o Brasil com outros países do mundo, há uma baixa exposição dos nossos ativos a essa bolha de carbono, pondera Gustavo.
“Nesses termos, o Brasil ainda é o quinto país em termos de negociação na bolsa de ativos atrelados a petróleo, gás e carvão”, estima Fernando Figueiredo, do Carbon Disclosure Project, depois dos mercados americano, russo, inglês e canadense. Mas esse capital comprometido precisa ser desviado para uma economia de baixo carbono o mais rápido possível, orienta.
O país já dispõe de uma base sólida de energia renovável, 46% de toda energia consumida no Brasil é de fontes limpas e em termos de elétrica, supera 75%. Além disso, 2/5 das suas reservas são em eólica e solar. Mas investimentos em infraestrutura são de longo prazo, precisam ser feitos agora para garantir a segurança energética brasileira nos próximos 30 anos.